E Se Elas Fossem para Moscou?
No palco, câmeras registram imagens que são montadas em tempo real pela diretora, dando origem a um longa exibido em outra sala
Avaliação ✪✪✪✪✪
Uma das diretoras mais inventivas da cena teatral carioca, Christiane Jatahy tem se dedicado com afinco a conceber obras que borram as fronteiras entre diferentes linguagens artísticas – mais notadamente teatro e cinema. Em Julia (2011), adaptação do clássico Senhorita Julia, de August Strindberg, os atores apareciam para a plateia em três planos complementares: representando no palco, nas imagens capturadas ao vivo por operadores de câmera e, por fim, em cenas previamente gravadas. Com o drama E Se Elas Fossem para Moscou?, ela radicaliza a proposta (sem resvalar no hermetismo), criando dois trabalhos distintos, embora interdependentes. Explica-se: no palco, câmeras estáticas ou manipuladas por atores e figurantes registram imagens que são montadas em tempo real pela diretora, dando origem a um longa exibido em outra sala, para outros espectadores (na compra do ingresso, opta-se por assistir a um programa ou outro). Convém não esmiuçar demais o resultado de tal procedimento, sob pena de reduzir o tremendo impacto da experiência. Peça e filme são apreciados em separado, sem nenhum prejuízo de entendimento, mas recomenda-se vigorosamente conferir os dois – a única maneira de entender como as obras se integram.
A história, também escrita por Christiane Jatahy, é livremente inspirada em As Três Irmãs, de Anton Tchekov. No original, Irina, a caçula, Maria, a do meio, e Olga, a mais velha, vivem em uma província russa, de onde idealizam uma mudança para Moscou – cidade em que passaram uma infância feliz e na qual vislumbram um futuro glorioso. Aqui, portanto, a Moscou do título é uma metáfora para o desejo de transformação, assunto do espetáculo, desenvolvido de forma ao mesmo tempo realista e poética. Na festa de 20 anos de Irina (Julia Bernat), tais anseios vêm à tona: a aniversariante quer viajar pelo mundo, Maria (Stella Rabello) se vê inclinada a terminar o casamento diante de uma paixão repentina, e Olga (Isabel Teixeira) não esconde sua vontade de ter um filho. Em uma interação convidativa, o público da peça se junta à celebração, recebendo dos atores champanhe, vinho, suco, salgadinhos e bolo. Inteiramente entregues à ousada proposta, as atrizes equilibram-se com galhardia entre a emoção das personagens e as marcações draconianas exigidas para que tudo dê certo no palco e na tela (100min). 18 anos. Estreou em 14/3/2014.
Espaço Sesc – Peça: Mezanino (60 lugares). Filme: Sala Multiuso (50 lugares). Rua Domingos Ferreira, 160, Copacabana, ☎ 2547-0156. → Quinta a sábado, 21h; domingo, 20h. R$ 20,00. Bilheteria: a partir das 15h (qui. a dom.). Até dia 27.