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O Rio de Raulzito

No lançamento do documentário Raul Seixas - O Início, o Fim e o Meio, lembramos histórias dos 10 anos em que o maluco beleza viveu no Rio

Por Ernesto Neves
Atualizado em 5 dez 2016, 15h40 - Publicado em 22 mar 2012, 21h22

Mesmo com o sol escaldante, o homem barbudo vestido com roupa social segue contrariado para a praia e senta nas areias do Arpoador. Apesar dos apelos da mulher e o desconforto causado pelo calor, ele recusa tirar a camisa e se bronzear. Ao contrário do que a cena sugere, o homem de jeitão tímido não era um estrangeiro desconfortável com os trajes mínimos usados nas praias cariocas. Trata-se do roqueiro Raul Seixas, nascido e criado na Bahia. A história se passou nos anos 70, mas, até hoje, é relembrada por sua ex-mulher, Kika Seixas. “Ele dizia que praia não é lugar de intelectual. Não tirou a camisa um minuto sequer”, diz.

Passados 23 anos de morte, Raulzito, como era chamado pelos amigos, mantém-se um dos cantores mais populares do país e sua vida é tema do documentário “Raul Seixas: O Início, o Fim e o Meio”, dirigido por Walter Carvalho, que chega aos cinemas nesta sexta (23). Com 120 minutos de duração, o filme relata a saga do músico rumo ao estrelato, da infância na Bahia à chegada ao Rio, no final dos anos 60, até a morte provocada por uma pancreatite aguda em decorrência do alcoolismo, em 1989.

. Assista ao trailer de O Início, o Fim e o Meio

Com o Rio, Raul teve uma relação de amor e ódio. O período em que viveu por aqui coincide com a fase áurea da carreira, de 1970 a 1980, quando lançou praticamente um disco por ano. “Perambulamos muito. Ele gostava de tomar cerveja em boteco povão” relembra Sylvio Passos, amigo de Raul e hoje à frente do fã clube oficial do cantor. Residente na Rua Itaipava, no Jardim Botânico, era cliente cliente assíduo do Bar Jóia, onde jogava porrinha entre uma gelada e outra. Apreciador de frutos do mar, também curtia a gastronomia dos restaurantes da Avenida Atlântica.

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Segundo Kika, com quem teve uma filha, Vivi, o passatempo preferido de Raul era ficar em casa, compondo por horas a fio. Pai afetuoso, gostava de passear com a filha por locais como o Jardim Zoológico, na Quinta da Boa Vista, e o parquinho da Praça Eugênio Jardim, em Copacabana. Rebelde, ele também fazia suas críticas ao estilo de vida carioca, especialmente no início da carreira. No disco Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta Sessão das 10, de 1971, há várias menções, como em Êta Vida (Ouça aqui). Após elogiar pontos turísticos como Ipanema e o Maracanã, Seixas diz que queria mesmo era se mandar daqui.

E se mandou mesmo. Em 1980, Raul irritado com o modismo das discotecas, que monopolizou a cena cultural, foi para São Paulo. “Carioca só quer saber de patinar”, dizia ele, enquanto a febre de boates com pista de patinação se espalhava pela Zona Sul. Fascinado pela cosmopolita capital paulistana, permaneceu lá por mais nove anos, até sua morte. Mas nunca deixou de vir para cá encontrar amigos e família.

Foi em 1985, relembra Sylvio, que aconteceu um dos momentos mais memoráveis de sua amizade com o maluco beleza, quando ele subiu ao palco instalado na Praia do Pepino, em São Conrado, para participar do programa Mixto Quente, exibido pela TV Globo. “Acabou sendo um reencontro de amigos, o Paulo Coelho também estava lá, na época começando a carreira de escritor. E foi a última vez em que Raul subiu ao palco sozinho”.

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