Nos musicais da Broadway, o momento da reverência do elenco à plateia obedece a uma liturgia específica. Primeiro, entra o coro para receber os aplausos; depois, os coadjuvantes, em ordem crescente de importância; na sequência, os atores principais; e, por último, o protagonista – instante em que as palmas e os gritos dos espectadores são mais ruidosos. Algo diferente vem ocorrendo em The Book of Mormon, versão universitária do musical americano, que se tornou um fenômeno na cidade desde que estreou, em novembro. Penúltimo a entrar no palco para os agradecimentos, o niteroiense Leo Bahia é, quase sempre, o mais aplaudido. Como o desmiolado Elder Cunningham, mórmon que vai a Uganda com um parceiro almofadinha (papel do também ótimo Hugo Kerth), esse jovem de 23 anos já recebeu elogios de diretores como Charles Möeller e atores como Tiago Abravanel. Agora, está prestes a estrear em uma peça profissional: a montagem de João Falcão para Ópera do Malandro. “Leo está pronto para o que vier”, resume Rubens Lima Júnior, o Rubinho, diretor de The Book of Mormon e professor da UniRio, onde se originou a encenação – que, aliás, voltará à Cidade das Artes, na Barra, após a Copa.
Filho de um produtor musical e de uma psicóloga formada em teatro, Leo Bahia cresceu em meio a estímulos artísticos. No vestibular, no entanto, optou por medicina, e não passou. Resolveu fazer aulas de canto, e o que seria apenas um hobby logo se revelou uma vocação. Hoje, cursa música na faculdade. Já participou de montagens acadêmicas de Os Miseráveis, Tommy e Spamalot e, quando foram anunciadas as audições para The Book of Mormon, correu atrás dos vídeos da peça na internet. “Na mesma hora senti que queria interpretar aquele gordinho”, lembra. Mas receava não ser bom de comédia: “Na estreia, quando fiz a primeira piada e a plateia riu, foi um alívio”. Em Ópera do Malandro viverá a prostituta Lúcia, sofrida, mas com algo de cômico. “O Leo encantou a todos no teste, e fará muito bem a junção de drama e humor”, aposta Falcão. Os elogios não deslumbram o ator, que rejeita a condição de estrela de The Book of Mormon. “Em teatro, tudo é conjunto. E o acerto num espetáculo só faz aumentar a responsabilidade para o seguinte”, ele afirma.