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Vencedora na categoria Teatro, Debora Bloch brilhou em Os Realistas

Criança, ela via o pai ensaiar peças de Shakespeare no quintal, e hoje oferece no palco um pungente retrato de fragilidades e temores comuns a todos nós

Por Renata Magalhães
10 dez 2016, 00h00
LÉO AVERSA_Cariocas_Bloch
LÉO AVERSA_Cariocas_Bloch (Léo Aversa/)
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O escritor e dramaturgo irlandês Samuel Beckett, um dos grandes nomes da literatura e do teatro no século XX, costumava dizer que o objetivo da arte é refletir o mundo sem subterfúgios. A frase define de maneira exemplar o trabalho da atriz Debora Bloch no decorrer de 2016, ano em que completou 35 anos de carreira. Não por acaso, desde janeiro, a atriz tem brilhado em Os Realistas, escrita por aquele que é considerado o mais fiel seguidor de Beckett no teatro contemporâneo, o americano Will Eno.

A peça, em que Debora divide o palco com Emílio de Mello, Mariana Lima e Fernando Eiras, retrata dois casais, vizinhos de casas idênticas, que têm o mesmo sobrenome e discutem questões como o amor, a doença, a finitude da vida, as fragilidades e os medos comuns a todo ser humano. Foi a própria Debora quem resolveu negociar os direitos, produzir e interpretar o texto, depois de assistir a uma montagem em Nova York, há dois anos. “Escolho meus personagens a partir da vontade que tenho de contar aquela história”, explica. “O ator tem de ser livre. Fico deprimida quando vejo que estou me repetindo. Por isso, decidi me tornar produtora, para ter a liberdade de falar sobre o que acho relevante.”

Os vínculos de Debora com o teatro remontam à infância. Uma das recordações mais marcantes da atriz nascida em Belo Horizonte é ver seu pai, o ator Jonas Bloch, fazer aulas de esgrima com o amigo Walmor Chagas, como parte dos ensaios de Hamlet, de William Shakespeare. Praticamente criada nas coxias — chegou a assistir a Sonhos de uma Noite de Verão, também do bardo de Stratford-upon-Avon, mais de oitenta vezes —, Debora nunca teve muitas dúvidas sobre seu pendor artístico. Em princípio, acreditava que seu futuro estava no balé. Mas logo se descobriu como atriz. No palco, seu primeiro papel profissional foi Milena, em Rasga Coração, peça em que, aos 17 anos, substituiu Lucélia Santos.

Paralelamente à montagem de Os Realistas, Debora envolveu-se naquele que considera seu maior desafio na televisão. Ela interpretou Elisa, uma professora universitária de Recife obcecada em vingar o assassinato da única filha Isabela, papel de Marina Ruy Barbosa, na série Justiça. Sem medo de arriscar, compôs uma personagem densa e ambígua, próxima à de uma tragédia grega. “Meu pai me ensinou que, em tudo o que a gente faz, sempre vai ter aquela pessoa que diz que você é a melhor do mundo e aquela que diz que você é a pior. Aprendi a não acreditar em nenhuma das duas”, resume. Como pregava Beckett, Debora não perde tempo com subterfúgios.     

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