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Centro Presente chega à Avenida Presidente Vargas para evitar assaltos

Passados menos de um mês do início da operação, os 200 agentes já fizeram 95 prisos e 63 acolhimentos de moradores de rua

Por Pedro Moraes
Atualizado em 2 jun 2017, 11h55 - Publicado em 29 out 2016, 00h00
Centro Presente
Centro Presente (Felipe Fittipaldi/Veja Rio)
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O silêncio da viagem do ônibus da linha 775-D (Gávea — Charitas) foi interrompido pelo som de trancos na porta traseira, nos arredores da Central do Brasil. Rapidamente, três garotos descalços e sem camisa entraram no veículo pela porta arrombada e saltaram sobre uma mulher sentada em um dos últimos bancos. Um deles puxou os fones de ouvido e tentou arrancar o celular da passageira, que, aos gritos, se defendeu. Frente à dificuldade, os adolescentes desistiram e deixaram o coletivo de mãos vazias. Esse episódio, ocorrido há três semanas e testemunhado por VEJA RIO, é apenas um exemplo do abuso dos delinquentes que atuam na região da Avenida Presidente Vargas. Um dos maiores entroncamentos de transporte de massa da cidade (trens, ônibus e metrô), a região da Central reúne a combinação ideal para atrair punguistas de toda espécie, com grande volume de transeuntes, degradação urbana e efetivo policial insuficiente. Em uma tentativa de reverter tal quadro, a Operação Centro Presente adaptou seu planejamento para abranger o trecho entre a Igreja da Candelária e a Praça Onze, que inicialmente estava fora dos limites do projeto, lançado em julho. “Vimos que era possível remanejar nossos recursos para incluir essa área, muito importante para a maioria dos cariocas”, afirma o capitão David Costa, coordenador do programa.

O alerta para essa nova etapa da operação — bancada pela Fecomércio e pela prefeitura, com o apoio do governo estadual — veio das estatísticas gritantes compiladas pelo Instituto de Segurança Pública (ISP). Em setembro, foram registrados 136 casos de roubo na área, número muito mais elevado que o das regiões vizinhas (veja o quadro). Iniciada em 1º de outubro, com o efetivo de 200 homens, a ação já começa a surtir resultado. Nos primeiros vinte dias, 95 pessoas foram presas — seis por tráfico, 43 por posse de drogas para consumo e onze por furto. Houve ainda 63 acolhimentos de moradores de rua e dezessete mandados de prisão cumpridos. “Fizemos capturas importantes, como a de um traficante do Complexo do Alemão. A área estava muito abandonada, o que a tornou vulnerável”, aponta Costa.

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A própria Polícia Militar reconhece suas limitações de atuação ali. Em relatórios internos, são alinhados os fatores que dificultam o trabalho dos PMs, entre eles a rápida liberação de presos, logo após as audiências de custódia, e a presença de receptadores de produtos roubados, principalmente celulares, nas imediações da avenida. Os agentes da operação funcionam como reforço no patrulhamento da região. Esse é o quarto grupo formado por policiais militares e agentes civis a atuar no Centro Presente. Ao todo são 525 homens, divididos pelos arredores das praças Mauá e Quinze, além do Largo da Carioca, que fazem rondas a pé, de bicicleta, motocicleta ou carro. O projeto também existe na Lapa, no Méier, no Aterro e na Lagoa.

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Em meio a uma das piores crises econômicas que já atingiram o estado, a ação do Centro Presente funciona como um tratamento de choque. Com sérias dificuldades para manter as UPPs instaladas nas 38 favelas e seu esquema de vigilância, a polícia ganhou um reforço extra com o projeto. No entanto, tal modelo é apenas um paliativo, no qual, apenas no Centro, foram empregados 47 milhões de reais. “Montar uma estrutura como essa é um gesto de cidadania, mas é preciso que tenhamos governantes mais competentes para gerir o que arrecadam e garantir uma política de segurança consistente”, critica Paulo Storari, especialista no assunto. No programa, os policiais são contratados para trabalhar durante suas folgas em dois turnos, no período entre 6h30 e 22 horas. O êxito das operações fez com que moradores de outros bairros reivindicassem que o projeto também fosse levado para lá. Horácio Magalhães, presidente do Conselho Comunitário de Segurança de Copacabana, deu o primeiro passo. “Já pedi uma audiência ao secretário para saber sobre a viabilidade disso. Somos o principal polo turístico da cidade”, explica. Por enquanto, não há sinal de que isso aconteça. A Fecomércio, por exemplo, parece pouco inclinada a investir mais. “O convênio é uma das alternativas para a segurança pública e seu sucesso é um estímulo à participação de outras instituições para replicá-lo em outras áreas”, declarou a entidade por meio de nota. Nos últimos dez anos, o governo do estado injetou 40 bilhões de reais na segurança pública. Entretanto, manter baixos os índices de violência depende, além do investimento, de uma ação contínua e transformadora — o que, até agora, ainda está muito distante de nossa realidade.

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