Justiça suspende demolição de associação da Vila Autódromo
Decisão adia o fim da comunidade vizinha do Parque Olímpico, que está na fase de conclusão para os jogos em agosto
Moradores remanescentes da Vila Autódromo, removida para dar lugar ao Parque Olímpico dos Jogos do Rio 2016, poderão permanecer no local por mais alguns dias depois que a Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro conseguiu suspender a demolição da sede da Associação de Moradores, que estava prevista para quinta (4).
A sede da associação é um símbolo de resistência das famílias restantes, cerca de 50, de um total de 500. No local, são organizadas campanhas contra a remoção e pela reurbanização da vila.
De acordo com o defensor público do estado João Helvécio, que acompanha o caso, apesar de o prefeito do Rio, Eduardo Paes, alegar que famílias não serão removidas contra a vontade, na prática, as ações da prefeitura demonstram o oposto. Segundo Helvécio, a comunidade vive “um terror”.
“Apesar de Paes falar que quem quiser ficar, pode ficar, não acena com nenhuma proposta de urbanização ou de regularização da permanência. Ele faz o terror, deixando entulhos das casas demolidas, canos de água e esgoto rompidos e caminhões [da obra da Olimpíada] que passam arrancando fio de luz ou de telefonia”, detalhou o defensor. “O vírus Zika agora é uma grande ameaça, por causa da grande quantidade de entulho na comunidade”, acrescentou.
Helvécio explicou que a suspensão da demolição, concedida quarta (3) pela Justiça, pode ser revertida a qualquer momento pelo Tribunal de Justiça do Rio, que ainda analisa o mérito do pedido da Defensoria Pública.
Ontem, por ordem da prefeitura, a companhia de energia elétrica Light retirou postes da vila e interrompeu o fornecimento de luz, segundo moradores. O serviço foi restabelecido ao longo do dia, mas a companhia confirmou a orientação e não descartou nova interrupção.
Os moradores estão apreensivos e passaram a noite em vigília. O presidente da associação de moradores, Altair Guimarães, que após ter tido a casa demolida se mudou para a sede da entidade enfrenta a terceira remoção de sua vida.
“A sede da associação é um polo para gente, uma sede para os moradores usufruírem, é um símbolo, retirá-la é uma perda muito grande para toda a comunidade”, disse Nathalia Silva, uma das moradoras que participou da vigília e segue em revezamento na associação.
Outra ação da prefeitura questionada pela comunidade é o isolamento de duas casas de moradores. Elas foram cercadas com tapumes e só é possível acessar o local pelo Parque Olímpico, controlado por seguranças. Para entrar ou sair, as famílias precisam apresentar crachá e dar uma volta maior do que antes. Até ontem, a prefeitura fazia o fornecimento de luz por gerador, pois as casas haviam sido desligadas da rede da Light.
A retirada das casas da Vila Autódromo começou há cerca dois anos para dar lugar às obras para a Olimpíada. Uma parte das famílias foi obrigada a sair da faixa no entorno de lagoas e outro grupo teve que sair para dar lugar à ampliação de uma via expressa que ligará a cidade ao Parque Olímpico.
A prefeitura do Rio reafirmou, em nota, que as famílias que tiveram de deixar a vila “estavam no traçado de obras ou em áreas de proteção ambiental”. Como opção, o município pagou indenizações e ofereceu apartamentos do Minha Casa, Minha Vida. “A negociação sempre foi transparente”, afirma o governo municipal.
Apesar de não implementado, o plano de reurbanização da comunidade, considerado mais barato e mais justo que as remoções, foi premiado no exterior com o Urban Age Award, do banco alemão Deutsche Bank e da London School of Economics and Political Science, com apoio da Universidade Federal do Rio de Janeiro e da Universidade Federal Fluminense.