A história da turista morta em Copacabana que sonhava conhecer o Rio
Em um crime brutal e covarde, assaltantes matam argentina que realizava o sonho de conhecer o Rio de Janeiro
A viagem desde a cidadezinha de Fontana, no interior da Argentina, foi longa. A primeira etapa, de ônibus, levou 22 horas e terminou em São Paulo. De lá, foram mais cinquenta minutos de voo até o destino final. Longe de ser visto como um martírio, entretanto, o trajeto foi encarado com euforia pela família, ansiosa para curtir as desejadas férias no Rio. As fotos publicadas no perfil de Sergio Plutt no Facebook, no domingo, 14, mostram sua mulher, a operadora de telemarketing Laura Pamela Viana, 25 anos, sorridente ao lado do filho Alejo, 4 anos, a bordo do avião. Da mesma forma, selfies do casal tiradas no desembarque no Aeroporto Santos Dumont não escondem a felicidade de chegar aqui. Os registros da temporada carioca dos argentinos exibem uma sucessão de imagens, com destaque para a série legendada como “Nosso primeiro dia em Copacabana”. Ali estão treze cliques onde não faltam poses dentro da água e com os indefectíveis copos de caipirinha. Foi exatamente naquele mesmo local, horas depois, que a tão sonhada viagem da família moradora da província do Chaco, uma das mais pobres da Argentina, acabou em tragédia.
Por volta das 2 horas da madrugada de quarta-feira, 17, Laura aproveitava a noite agradável na praia, ao lado de três amigas com quem a família dividia um apartamento, alugado para a temporada, na Rua Sá Ferreira. Sergio ficou com o filho no imóvel. Na areia iluminada pelos holofotes da orla, as mulheres foram abordadas por dois homens, que perguntaram se elas tinham cigarros. Era um assalto. Assustadas, tentaram correr de volta ao calçadão, cada uma para um lado. Os bandidos alcançaram Laura — um a esfaqueou no tórax, o outro arrancou a bolsa de suas mãos. As amigas chegaram até uma viatura da Polícia Militar estacionada próximo do local. Os policiais acionaram a Samu, que rapidamente levou a mulher ferida para o Hospital Miguel Couto. Os assaltantes, Paulo Henrique Coelho Moreira, 21 anos, que desferiu a facada, e seu comparsa, Douglas Gonzaga, de 33 anos, foram presos a cerca de 500 metros do local do crime. Laura morreu assim que chegou ao hospital. A experiência carioca da família foi encerrada com uma última publicação do viúvo Sergio nas redes sociais. Junto a um vídeo do filho, ele escreveu: “Agora você vai ser tudo para mim neste mundo e sua mãezinha nos dará a luz necessária para sair deste momento horroroso que estamos passando. Eu amo vocês com toda a minha alma”.
Números do Instituto de Segurança Pública (ISP) mostram que os assaltos seguidos de morte são uma modalidade de crime aparentemente sob controle na cidade — em 2014 foram registrados 51 casos, contra 44 no ano passado, nenhum deles no bairro de Copacabana. No entanto, um único episódio como o que vitimou Laura Viana é capaz de demolir qualquer sensação de segurança transmitida pelas estatísticas. A situação fica ainda pior quando se sabe que os autores do crime já haviam sido detidos por roubo e posteriormente liberados por decisão judicial. “Os dois haviam sido presos pela polícia duas vezes, um deles no mês passado, e foram soltos. Há falhas em um sistema que liberta pessoas capazes de cometer tal atrocidade”, declarou o secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame. Às vésperas dos Jogos Olímpicos, a tragédia que vitimou a turista argentina entra para o rol dos episódios que corroem a reputação da cidade e chocam pela bestialidade. Na mesma categoria se enquadra o assassinato da enfermeira Marilayne da Silva Coutinho Zaudenone, de 24 anos, em tentativa de assalto no bairro da Pavuna, no último domingo, dia 14. Os bandidos simplesmente abriram fogo contra o carro em que Marilayne estava, com o marido e o filho de 3 anos. Tudo filmado por uma câmera de segurança. São estarrecedoras as imagens da enfermeira, mortalmente ferida, sentando-se na calçada, o marido colocando ao seu lado a cadeirinha com o filho, em uma tentativa de liberar rapidamente o carro para os bandidos. Da mesma forma, é brutal a frieza dos marginais voltando para o carro com que abordaram a família e batendo em retirada sem levar nada. O vídeo, da mesma forma que os posts do argentino Sergio Plutt, são testemunhos de uma realidade marcada por covardia e crueldade.