Chegada em alto estilo
Dona do premiado Aconchego Carioca, Katia Barbosa faz sua estreia na Zona Sul com a abertura do bar Comedoria no Leblon
Em 2008, Katia Barbosa criou aquele que virou o quitute mais copiado da cidade. Revelado ao mundo pelo chef e devoto da receita Claude Troisgros, o bolinho de feijoada alçou a autora a uma espécie de embaixatriz da cozinha carioca. Seu premiado bar, o Aconchego Carioca, na Praça da Bandeira, contabiliza horas de fila nos fins de semana e se tornou parada obrigatória das celebridades gastronômicas internacionais em visita ao Rio. Já estiveram lá a britânica Nigella Lawson e o francês Daniel Boloud. No início do mês, também passaram pela casa Jerôme Bocuse, filho da lenda viva Paul Bocuse, e Andoni Luis Aduriz, do estrelado Mugaritz, na Espanha. Apesar de todo o reconhecimento do público e da crítica, Katita, como é chamada pela turma mais chegada, está apreensiva. Na segunda (15), ela inaugura oficialmente, depois de uma semana de testes, a Comedoria, empreendimento que marca sua estreia na Zona Sul. Mais precisamente na concorrida e badalada vizinhança do Leblon. “Será um baita desafio. Estou morrendo de medo”, revela.
A nova casa ocupa o imóvel na esquina da Avenida General San Martín com a Rua Rainha Guilhermina, onde funcionou, por apenas nove meses, o redivivo Caneco 70. Dono do ponto, foi o empresário Francisco Pellegrino quem convenceu a cozinheira, sondada há anos para abrir um novo negócio na Zona Sul, a encarar a empreitada. “Conversamos muito sobre a possibilidade de abrir no Leblon um bar que fugisse da fórmula filé aperitivo e chope”, explica Pellegrino. Para isso, Katia se cercou de boas parcerias. A carta de cachaças é assinada por Guilherme Studart, autor do guia Rio Botequim, e Sérgio Rabello, proprietário do Galeto Sat’s. A de cervejas ficou a cargo do especialista Edu Passarelli, seu sócio na filial paulistana do Aconchego Carioca. Já o café terá a grife Coffe Lab, da barista Isabela Raposeiras, uma das mais respeitadas do país. O salão mantém boa parte da estrutura deixada pelo antigo inquilino, mas ganhou cortinas e mesas novas, entre outros detalhes, para ficar com a cara da chef, caso dos 24 porta-retratos em que ela aparece ao lado de pessoas importantes em sua vida, como Alex Atala, a sócia Rosa Lêdo e as três gerações da família Troisgros.
Uma seleção de onze bolinhos, a grande estrela da Comedoria, abre o cardápio. Tirando a famosa receita de feijoada, o único ponto de intersecção com o menu da Praça da Bandeira, todos os outros são inéditos. Da moqueca ao frango com quiabo, há confecções para todos os gostos (veja os destaques no quadro). Numa espécie de relicário de experiências gastronômicas, a mestre-cuca aproveita para homenagear colegas de profissão em receitas como o sanduíche de barriga de porco prensada com cebola caramelada na cerveja preta, que criou para Thomas Troisgros. “Eu não tenho formação técnica, e ele me ajuda muito nessa parte”, agradece. O comandante do Olympe retribui: “A Katia é uma mãe para mim, é para ela que corro quando quero trabalhar um novo ingrediente brasileiro”. Outros cozinheiros inspiram sabores de caldinhos — servidos em garrafa térmica ao lado de canequinhas de ágata —, pastéis, pratos principais e sobremesas. Apesar da preocupação de Katita, conquistar de imediato a clientela da região promete ser muito mais fácil que fritar seus insuperáveis bolinhos.