Jogo de investigação chega ao Rio e testa limites em salas monitoradas
Game que se popularizou pelo mundo reúne grupos em ambientes reais para solucionar charadas. O desafio é resolver os mistérios em uma hora
Você e seus amigos foram presos, culpados por um crime que não cometeram, e são condenados à pena de morte. Em uma hora, o carcereiro retornará para levá-los à cadeira elétrica. A missão, portanto, é escapar antes disso. Estão todos em uma cela, com a roupa do corpo, sem celular e, detalhe, algemados em duplas. Do outro lado da grade fica a sala do agente penitenciário, com mesa, estante de livros, gaveteiro e mural de retratos falados. A única forma de sair dali é desvendando as pistas deixadas por um ex-presidiário que conseguiu fugir. Para isso, além de se livrar das algemas, é necessário decifrar bilhetes secretos, códigos, quebra-cabeças e até exercícios de lógica. Tudo pode ser uma pista, desde os objetos até as mensagens rabiscadas nas paredes. É preciso fuçar, ser ágil e pôr os neurônios para funcionar. Faltando vinte minutos para a chegada do algoz, ouvem-se sirenes ao longe. É hora de acelerar o ritmo a fim de vencer o jogo em que a sintonia e a cooperação são essenciais para elucidar os mistérios. Trata-se do Escape 60, uma brincadeira no melhor estilo de games virtuais como Resident Evil e Uncharted, com a diferença de ser tudo palpável e real. “É muito divertido, digno de atração da Disney. Quero voltar para sentir essa adrenalina de novo”, conta a agente de viagens Betty Cohen, de 42 anos, moradora do Leblon, que levou o marido e a filha adolescente para testar a atração recém-inaugurada em Copacabana.
Inspirada nos escape games, jogos de computador que atraem uma legião de fãs ao propor desafios para fugir de um cômodo virtual, a empresa instalada no Shopping Cassino Atlântico é a primeira do tipo a chegar à cidade. O modismo, que lembra ainda filmes como Jogos Mortais e o tradicional jogo de tabuleiro Detetive, surgiu na Ásia há cerca de três anos e se espalhou pela Europa e pelos Estados Unidos. Hoje, há cerca de 2 000 escape rooms no mundo. No site TripAdvisor, o jogo já aparece em primeiro lugar entre as dicas de entretenimento no Rio e é uma das principais atrações em grandes cidades do mundo, como Nova York, Paris e Londres. No empreendimento carioca, cinco empresários paulistas investiram 500 000 reais após inaugurar a sede em São Paulo, em julho passado. Três salas independentes, com roteiros originais e nível semelhante de dificuldade, sem restrição de idade, estão disponíveis por aqui. “O legal é perceber que, sozinho, não se vai a lugar nenhum. Você interage de verdade com seus amigos e familiares ao invés de ficar cada um num canto da mesa do restaurante vidrado no celular”, aposta José Roberto Szymonowicz, um dos sócios, que espera o mesmo movimento da capital paulista, hoje em torno de 7 000 jogadores por mês. Cada participante desembolsa 69 ou 79 reais, de acordo com a data escolhida.
Para entrar na aventura, basta reunir de quatro a oito pessoas e agendar o encontro pela internet. É possível optar, ainda, entre os três idiomas disponíveis: português, inglês e espanhol. Monitores acompanham o avanço do grupo em tempo real, através de câmeras, e, dependendo do desempenho, disparam dicas via áudio dentro do recinto – no melhor estilo BBB -, onde há ainda um televisor que cronometra os sessenta minutos do desafio. Se a equipe desvendar as charadas antes do prazo, entrará para o ranking do Espace 60, uma espécie de “galeria da fama”. Na oitava temporada da série de televisão The Big Bang Theory, os simpáticos protagonistas nerds resolveram o desafio em apenas seis minutos. Na semana passada, o engenheiro Thiago Araújo, de 34 anos, morador de Ipanema, e seus amigos conseguiram solucionar os mistérios da sala de jantar fantasma em meia hora. “Estamos até montando uma caravana para ir a São Paulo”, conta Araújo. A taxa de resolução do game, no entanto, é de apenas 15% – a maioria não consegue escapar. Vem mais desafio por aí. Outros dois espaços com os temas gastronomia e esporte estão em desenvolvimento e devem ser inaugurados até o fim de fevereiro na cidade. Haverá ainda a abertura de novas unidades na Barra e em Jacarepaguá. Com o decorrer do tempo, a ideia é alterar os roteiros para reciclar a brincadeira. “Fui duas vezes, uma com a minha família e outra com o pessoal do Porta dos Fundos. É muito engraçado ver a galera se desesperando”, conta o humorista Antonio Tabet, o Kibe Loco. Com as regras postas, só resta um desejo: boa sorte.
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