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Joalherias tentam recuperar imagem abalada pela Lava-Jato

Pequenos fabricantes e ateliês de joias são a aposta para resgatar a confiança dos consumidores e a credibilidade do mercado

Por Daniela Pessoa Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 3 nov 2017, 15h24 - Publicado em 3 nov 2017, 15h24

Pouca gente se lembra do vaso sanitário ultratecnológico polonês, com assento térmico, que havia no apartamento do ex-governador Sérgio Cabral e de sua mulher, Adriana Ancelmo, no Leblon, exibido ao público pela Operação Calicute. Os vinte ternos Ermenegildo Zegna que custavam entre 18 000 e 140 000 reais cada um e que estavam no closet também caíram no esquecimento. Mas das joias do casal todo mundo se recorda. Compondo um tesouro digno de Ali Babá, peças de ouro, diamantes e outras pedras preciosas, avaliadas em mais de 10 milhões de reais, foram adquiridas para ocultar dinheiro de propina. No epicentro do escândalo, que voltou à tona no dia 23 durante o depoimento de Cabral ao juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara da Justiça Federal, duas tradicionais joalherias cariocas, a H. Stern e a Antonio Bernardo, tiveram a reputação arruinada. O impacto foi tal que as reverberações se expandiram e o setor como um todo saiu chamuscado. “As joalherias enfrentam uma grave crise de credibilidade”, afirma Carla Pinheiro, presidente da Associação dos Joalheiros e Relojoeiros do Estado do Rio (Ajorio), entidade que luta para restabelecer a confiança dos consumidores e promover o crescimento do ramo. “Joia não é coisa só de rico, muito menos de ladrão”, defende.

Em meio aos estragos no mercado carioca de acessórios de ouro, prata, pedrarias e afins, amigos da designer Luisa Schroder, 27 anos, filha de Carlos Henrique Schroder, presidente da Globo, propiciaram um retrato be­m-humorado da situação. “Comprar joias, agora, só no ateliê da Luisa Schroder, que é honesta e faz acessórios lindos”, publicou um colega na internet. O recado divertido chamou atenção para um setor com faturamento em torno de 1,6 bilhão de reais por ano, o que representa 15% do total nacional. São 3 200 empresas e ateliês no estado, a maioria pertencente a pequenos empreendedores. “É justamente nesses empresários que estamos pondo nosso foco para renovar o setor. Mas eles precisam estar capacitados para assumir esse papel”, afirma Ângela Andrade, di­retora-executiva da Ajorio à frente de projetos como o novíssimo Laboratório de Joias do Senai, no Maracanã. Fruto de uma parceria com a Federação das Indústrias do Rio (Firjan), que investiu 4 milhões de reais na estrutura, o centro de 250 metros quadrados e equipamentos de última geração vai oferecer cursos que abrangem todas as etapas de fabricação da joia. Além de proporcionar aprendizado, o projeto quer transformar o local num espaço de experimentação e inovação. Sócia da grife Odara, Rachel Sabbagh, que já desenvolveu peças exclusivas para uso nas gravações de novelas da Globo, vale-se do moderno maquinário do lugar para testar novas ligas de metal. “Aqui disponibilizam até impressoras 3D para protótipos, que na maioria dos ateliês são feitos de forma arcaica”, conta Rachel.

(Divulgação/Divulgação)

Como parte do esforço de renovação e ampliação do setor, a Ajorio tem firmado parcerias com entidades como o Sebrae. Com isso, os profissionais têm acesso a aulas, seminários e serviços como boletins de tendências e de inteligência de mercado. “O e-commerce é uma das grandes apostas para conquistar os clientes mais jovens e se adequar ao futuro do consumo”, avalia Fabiana Pereira Leite, coordenadora de moda do Sebrae. Em outubro, foi lançado o site de compras É do Rio, no qual é possível conhecer e comprar peças de oito marcas cariocas (todas chanceladas, diga-se). O endereço virtual integra um projeto maior, homônimo, que engloba ainda um guia impresso bilíngue, em português e inglês, distribuído em hotéis e albergues, com a lista dos setenta ateliês mais descolados da cidade. “Chega desse conceito de joalheria em aeroporto e saguão de hotel, com vendedoras de terninho. Precisamos apresentar novidades aos turistas”, afirma Carla, da Ajorio.

Outro estímulo é a participação das novas joalherias em feiras jovens como Babilônia Feira Hype, OCluster e Coletivo Carandaí. Ourives e designer, Livi Pires foi além e criou o Joialerismo Expo, um evento só de acessórios. A quinta edição está marcada para 2 de dezembro no Istituto Europeo di Design (IED), na Urca. Serão 23 expositores com peças que custam entre 100 e 2 000 reais. “As pessoas estão buscando exclusividade com preço justo e transparência, o que os pequenos produtores podem oferecer”, afirma a criadora do bazar. Não deixa de ser uma iniciativa louvável, le­vando-se em conta o esforço para que escândalos como os que envolveram as grandes joalherias não se repitam.

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