Durante muito tempo, quem planejava abrir um restaurante com pretensão de entrar para o primeiro time da gastronomia carioca não titubeava em escolher a localização da casa e apontava para Ipanema ou Leblon. Nos últimos anos, o mapa da boa mesa na cidade começou a se tornar mais democrático e inclusivo ao abranger empreendimentos descolados em áreas como Botafogo. O impulso para a mudança, como era de esperar, tem caráter econômico. Ali, os aluguéis são até 40% mais baratos que os praticados em quarteirões junto à orla. Além disso, muitas vezes os locadores não cobram em regiões como essa taxa de luva. Numa fase mais recente dessa expansão, agora é um charmoso quarteirão delimitado pelas ruas Lopes Quintas, Pacheco Leão, Visconde de Carandaí e Avenida Lineu de Paula Machado que desperta para a fama, com quatro chefs estrelados comandando novas casas. “Com a crise, ganharam força negócios com investimento inicial em torno de, no máximo, 500 000 reais”, explica Wagner Figueiredo, consultor imobiliário especializado em restaurantes.
Com apenas 160 metros, a Visconde de Carandaí é uma plácida ruazinha cuja paz só é atrapalhada por contínuas marteladas, ruídos de serras e pela algazarra típica de obras provenientes de dois imóveis. No de número 31, uma construção de 1944 com sacada e quintal, deve ser inaugurado em cerca de trinta dias o italiano Grado, a primeira casa de Nello Garaventa, que começou a carreira com Danio Braga na Locanda della Mimosa. Garaventa e a esposa, a designer Lara Atamian, já namoravam o ponto havia dois anos e, depois de muita negociação, conseguiram ficar com o espaço. “O cardápio será pequeno e sazonal, tudo para conseguir manter o preço num patamar viável”, conta ele. O imóvel de número 33, também ocupado por pedreiros, abrigará um novo empreendimento. Segundo vizinhos, a chef Roberta Sudbrack tem frequentado o local, que está sob os cuidados da FStudio Arquitetura, empresa responsável pelo mobiliário do Da Roberta, a sanduicheria da chef. Se levar adiante o projeto que tinha em mente quando fechou seu restaurante de alta gastronomia, em dezembro, Roberta deverá abrir um estabelecimento de cardápio mais acessível. Procurada, a assessoria de imprensa da empresária nega a empreitada.
Dono do Sabor DOC, butique de carnes de 23 metros quadrados na Rua Dias Ferreira, Marcelo Malta foi buscar um ponto um pouco mais adiante para fincar pé no bairro. Na Rua Saturnino de Brito, perto da pizzaria Mamma Jamma, ele abrirá em julho uma versão ampliada de seu primeiro negócio. As três empreitadas vão se unir ao veterano Lorenzo Bistrô, inaugurado em 2008, que teve o terraço reformado, e ao Venga! Taberna, aberto em dezembro no lugar do Volta, na Visconde de Carandaí. Em um bonito conjunto de casas antigas da Rua Pacheco Leão, que já abriga o restaurante Puro, do chef Pedro Siqueira, a novidade fica por conta da pizzaria Ella, que vai funcionar no lugar do extinto Ró. Capitaneado pelo próprio Siqueira, o endereço terá como atração redondas montadas na massa da S.p.A. Pane. “Vamos testar ingredientes alternativos à farinha, como mandioca, centeio e espelta”, conta o padeiro Marcos Cerutti. Já Siqueira vai brincar com coberturas em dez sabores de tamanho individual com preços entre 25 e 35 reais. O estômago e o bolso agradecem