Sob a batuta da chef pâtissière Carola Troisgros, A Colher de Pau reabre no Rio
Tradicional doceria reabre unindo doces clássicos a novidades arrojadas — incluindo ousados planos de expansão no Brasil e no exterior

Desde abril, uma cena se repete em frente ao número 90 da Rua Rita Ludolf, no Leblon. Ao ver um tapume escondendo as obras da confeitaria A Colher de Pau, antigos clientes perguntam aos funcionários se a decoração, com os utensílios de madeira presos à parede, será mantida. As características colheres, agora, integram um painel luminoso, mas o portal em forma de arco seguirá recebendo cariocas e turistas na nova versão da casa fundada por Gimol Kaner há cinco décadas e administrada por sua filha, Lucy, até ser fechada, há um ano.
A notícia do encerramento das atividades chamou a atenção do empresário Eduardo Tkacz, sócio dos irmãos Amanda e David Klabin na gestora Galt Capital e, junto a eles, de Thomas Troisgros e dos irmãos Marcos e Renato Porchat, na Trois Foods, responsável por empreitadas como Oseille, Toto e Tijolada.“Sempre fui apaixonado pelos doces de lá, então fiquei muito empolgado com a possibilidade de ressuscitá-la. O caminho natural foi convidar a Carola Troisgros para ser nossa sócia no projeto”, conta Tkacz. “Não podíamos perder uma marca com uma história tão sólida”, resume David Klabin.

Sob curadoria da chef pâtissière Carola Troisgros, filha caçula de Claude e esposa de Marcos Porchat, a casa reabre na terça (23), com as gostosuras que permeiam a memória afetiva de muitos cariocas, a exemplo dos brigadeiros — agora em dois tamanhos —, do rocambole com morango e baba de moça, da clássica torta toalha felpuda, de coco fresco, além do bolo negro e da torta crocante.
Somam-se a esses itens, recriados com o apuro técnico e elegância, receitas pensadas por Carola, como pudim no pote, quindim, musse de chocolate e os seus já conhecidos bolos autorais. A herança francesa aparece na choux recheada com creme de baunilha e no ursinho Pierre — batizado em homenagem ao patriarca da família Troisgros, avô da chef —, feito de chocolate e recheado de marshmallow, que será customizado em datas especiais. “Honramos a memória, mas também trazemos a minha assinatura. Confeitaria é mais do que criar doces deliciosos, precisamos envolver o cliente com as histórias, os sabores e o ambiente”, resume Carola.
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A vitrine foi equipada com uma máquina de sorvete soft, com casquinhas produzidas na hora, cookies recheados de chocolate ou caramelo com flor de sal e coco, brownies e cinnamon rolls — receitas que Carola trouxe dos tempos em que morou nos Estados Unidos —, além de barras de chocolate em quatro versões: amargo, ao leite, branco e gold. Balas de caramelo, vendidas em saquinhos, e choco crispies também estarão à disposição. Os testes de sabor e apresentação levaram seis meses. Uma linha de cafés com blends desenvolvidos para a marca também está entre as novidades.
“Dá para imaginar o quanto eu sou sortudo de passar todo esse tempo experimentando tudo?”, brinca Eduardo Tkacz, que pensa em estender o horário de funcionamento até a madrugada, para abrigar aquelas pessoas em busca de um “docinho pós-noitada”. “É maravilhoso sair de uma festa, parar para comer um brigadeiro e tomar um café. Doces curam desde ressaca até um fora da namorada”, completa, com bom humor, o empresário, que fez questão de manter dois funcionários com mais de 35 anos de serviços prestados, Geraldo e William.


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A reabertura da doceria marca não só o resgate de um clássico carioca, mas também a convergência de famílias ligadas à gastronomia. Fundado por imigrantes judeus, o espaço faz parte da memória da comunidade, que será homenageada com preparos especiais nas datas festivas. O elo entre os Troisgros, os Klabin e os Tkacz também vem de longa data — quando Claude chegou ao Brasil, há 46 anos, teve Daniel Klabin, pai de Amanda e David, como investidor na abertura do restaurante Le Pré Catelan, no hotel onde hoje é o Fairmont Copacabana.
E os planos são ousados. Embora ainda não haja um cronograma fechado, a ideia é expandir a marca para outros bairros do Rio antes de seguir para outros estados — com exceção de São Paulo — e, posteriormente, para o exterior. “A Colher de Pau traduz o lifestyle carioca dentro do setor de alimentação e hospitalidade. Queremos ser referência em doces gostosos. Essa loja-conceito será um teste”, aposta Tkacz. Carola completa: “Nostalgia pesa, mas estamos confiantes de que o trabalho é bacana e que podemos criar uma experiência inédita”. Que seja uma doce caminhada.
