Portugal – Vertical histórica 1963 a 2003
Por Marcelo Copello Em uma prova em Lisboa tive a honra de provar 21 vinhos portugueses de safras entre 1963 e 2003. Participar de um evento como este equivale a ler um livro de história, cujos personagens são produtores, enólogos, regiões e as centenas de uvas, que compõem e riquíssima diversidade do vinho luso. Os […]
Por Marcelo Copello
Em uma prova em Lisboa tive a honra de provar 21 vinhos portugueses de safras entre 1963 e 2003. Participar de um evento como este equivale a ler um livro de história, cujos personagens são produtores, enólogos, regiões e as centenas de uvas, que compõem e riquíssima diversidade do vinho luso.
Os 21 capítulos desde livro começam em 1963 e percorrem 40 anos até 2003, mostrando a evolução de uma indústria que hoje está madura, modernizada, mas sem abandonar suas raízes (valorizando suas castas nativas ao invês das estrangeiras), e produzindo (não de hoje) vinhos de classe mundial.
A seguir vejamos as notas de prova, lembrando que quando provamos vinhos velhos, no mesmo vinho há muitas variações de uma garrafa para outra – logo cada garrafa é uma história.
Dão tinto 1963
Produtor/Região: Centro de Estutos Vitivinícolas do Dão, em Nelas
Uvas: Touriga Nacional plantadas em 1947
Pisado em lagares com engaços, com 13,8% de álcool. Ficou em tonéis usados não se sabe quanto tempo e provavelmente era inbebivel nos seus primeiros 20 anos de vida, pois ainda tem muita acidez e taninos. Já provei vários vinhos de Nelas dos anos 60, tintos e brancos é são surpreendentes, dada sua jovialidade. Este é marrom escuro, denso e complexo no nariz, com notas animais de couro, caldo de carne e com muitas especiarias. Paladar de bom corpo, concentrado, taninos rusticos ainda presentes, incrivel profundidade e complexidade. Muito longo, ainda viverá bem mais, embora já esteja bem etéreo. É um vinho cru, sem finesse, mas é um um mergulho profundo em sabores do Dão.
Nota: 95 pontos
Palácio do Bussaco 1964
Produtor/Região: Palácio do Bussaco, Dão-Bairrada
Uvas: Baga, Bastardo e Preto Mortágua (Touriga Nacional)
Este é o vinho do mítico e monumental hotel Palácio do Bussaco, localizado entre o Dão e a Bairrada. De cor clara e alaranjada. Totalmente etéreo, medicial, muito intenso no nariz, ervas aromáticas, couro, terra molhada, cêra. Paladar seco, magro, taninos secantes, um pouco curto, já mais para um aceto balsâmico do que vinho.
Sem nota
Dão Porta dos Cavaleiros Reserva 1966 Magnum
Produtor/Região: Caves São João, Dão
Uvas: Jaen, Alfrocheiro, e possivelmente Baga.
Cor granada alaranjada entre claro e escuro, um pouco turvo. Aroma elegante de médio ataque, perfil semelhantes em perfil aos anteriores, bastante etéreo, cheio de especiarias. Paladar magro, macio e elegante, perfeitamente equilibrado, cai no final, delicioso.
Nota: 87 pontos
Dão Porta dos Cavaleiros Reserva 1975 Magnum
Produtor/Região: Caves São João, Dão
Uvas: Jaen, Alfrocheiro, e possivelmente Baga.
Mais cor que o 1966, granada entre claro e escuro, alaranjado. Intenso no nariz, mais exuberante que o 66, evoluido com notas de couro, animais, especiarias, musgo.
Paladar macio, pronto, longo, equilibrio, elegante, perfeito.
Nota: 91 pontos
Casa Ferreirinha Reserva Especial 1980
Produtor/Região: Casa Ferreirinha
Uvas: Tinta Roriz (70%), Touriga Francesa (10%) e 20% de outras
Granada entre claro e escurto, alaranjado. Nitidamente de uma região mais quente que os vinhos anteriores, com notas de chocolate amargo, ervas do douro, frutas secas. Paladar de bom corpo, taninos ainda presentes, boa acidez, bem vivo, perfil elegante, merecia ser Barca Velha.
Nota: 93 pontos
Quinta do Carmo Garrafeira 1987
Produtor/Região: Julio Bastos – Quinta do Carmo, Alentejo
Uvas: Alicante Bouschet (dominante), 5-10% Trincadeira, pequena quantidade de Moreto e Castelão
Um clássico e raro, feito pel enólogo João Portugal Ramos, com carvalho portugues novo, e algum carvalho do ano anterior. Cor marrom quase escuro, denso no nariz, com muitas especiarias doces, abriu-se muito ao logo da prova, exuberante, cheio de terra molhada e frutos secos. Paladar largo e macio, com taninos doces, presentes, acidez perfeita, cai um pouco no fim de boca.
Nota: 93 pontos
Tapada do Chaves 1988
Produtor/Região: Tapada do Chaves, Alentejo
Uvas: Trincadeira, Grand Noir, pequena quantidade de Catelão
Também feito pela craque João Portugal Ramos, a partir de de 80 anos (na época). Cor
marrom, um pouco turvo. Nariz expressivo, intenso, perfumado, complexo, com notas de couro, especiarias, carvalho portugues, com frescor balsâmico bem típico da região (Portalegre, norte do Alentejo). Paladar macio e com meio de boca gordo, vivo, com taninos e acidez perfeitos, está roque etéreo mas sem sinais de decadência. A Trincedeira mostra todo seu potencial neste vinho, uma dos melhores desta prova.
Nota: 96 pontos
Luis Pato Vinhas Velhas 1988
Produtor/Região: Luis Pato, Bairrada
Uvas: Baga
Granada alaranjado escuro. Nariz selvagem, vincado, quase amargo, com notas de chocolate amargo, fruta ácida, especairias, madeiras, cedro, sândalo, ervas. Paladar muito tânico, muito concentrado, taninos e acidez, ainda nervosos. No momento ainda muito agreste e difícil de beber. Eu estava sentado entre Luis Pato e João Paulo Martins. Segundo o promeiro este vinho só vai ficar pronto aos 25 anos de idade, para o segundo este caldo morrerá sabe-se lá quando, sem dos taninos se amansarem nunca.
Nota: 92 pontos
Duas Quintas Reserva 1994 Magnum
Produtor/Região: Ramos Pinto, Douro
Uvas: Touriga Nacionsl (2/3) e Tinta Barroca (1/3)
Granada alaranjado escuro. Aroma com notas de musgo, sottobosco, madeiras, baunilha, fruta doce, ervas, madeira nova aparece bastante no nariz e na boca. Paladar elegante e polido, taninos finos e doces, acidez moderada, cai um pouco no fim de boca. Em estilo mais moderno, já decaindo, não é tão longevo.
Nota: 87 pontos
Periquita Clássico 1994
Produtor/Região: José Maria da Fonseca, Palmela
Uvas: Castelão
Evoluido na cor, alaranjado, entre claro e escuro. Pisado a péo em lagares, com 30% de engaços. Nariz intenso, animal, couro, flores maceradas. Paladar de bom corpo, seco, taninos ainda presentes, boa acidez, em um ótimo momento agora, ainda bem vivom mas já pronto. Um vinho rústico, em estilo tradicional, encantador por sua autenticidade.
Nota: 90 pontos
Quinta das Bágeiras Garrafeira 1995
Produtor/Região: Mário Sergio Nuno, Bairrada
Uvas: Baga
Feiro com vinhas velhas, pisado em lagares com 100% de engaços, amadurecido em carvalho usado. Cor granada escuro. Aroma elegantes de medio ataque, misturando finesse denotas florais com notas animais um pouco mais rústicas, com notas de resinas. Paladar sério, seco,com taninos firmes, presentes, boa acidez. Com classe e potencial de muitos anos mais de guarda.
Nota: 93 pontos
Quinta dos Roques Reserva 1997
Produtor/Região: Quinta do Roques, Dão
Uvas: Touriga Nacional (40%), Alfrocheiro (20%), Jaen (20%), Tinta Roriz (15%) e Tinto Cão
Com aromas off, garrafa defeituosa.
Sem nota
Marquês de Borba Reserva 1997
Produtor/Região: João Portugal Ramos, Alentejo
Uvas: Trincadeira, Cabernet Sauvignon, Alicante Bouschet e Aragonês
Granada alaranjado escuro. Aroma de madeira nova, frutas doces, musgo, sottobosco, azeitonas verdes. Paladar encorpado, taninos ainda presentes, largo, longo. Em estilo moderno, pronto ou para mais uns 5-10 anos de guarda.
Nota: 92 pontos
Pêra Manca 1998
Produtor/Região: Fundação Eugénio de Almeida, Alentejo
Uvas: Trincadeira (70%) e Aragonês
Cor marrom um pouco turvo. Aroma expressivo, com muitas ervas, chocolate, musgo,
cêra, cedro, caramelo toffe. Paladar encorpado e macio, com profundidade e complexidade, taninos prontos, finos, longo e delicioso, para beber já ou em até 5 anos.
Nota: 94 pontos
Mouchão 1998
Produtor/Região: Herdade do Mouchão, Alentejo
Uvas: Alicante Bouschet
Parece muito mais novo que o Pêra-Manca. Granada muito escuro. É concentrado e denso,
quase amargo, com taninos volumosos, longo, largo, um monstro! Não tem a elegância do Pêra-Manca, mas tem muito mais impacto e presença.
Nota: 94 pontos
Barca Velha 1999
Produtor/Região: Casa Ferreirinha (Sogrape), Douro
Uvas: Tinta Roriz (30%), Touriga Nacional (20%), Touriga Franca (45%),e Tinto Cão (5%)
Cor escura, ainda con tons de ruby e reflexos granada. Tem um pouco da elegancia do Pera Manca e da força do Mouchão. Não tão expressivo, parece um pouco fechado, complexo e elegante, com notas de toffe, balsamicos, frutas maduras, tabaco, couro, especiarias. Paladar concentrado, taninos ainda bem presentes, muito finos, ótima acidez, longo e muito bem proporcionado. Um vinho muito polido, como expressão do Douro tradicional este vinho é a perfeição e ainda está jovem, long de seu potencial.
Nota: 96 pontos
Quinta da Falorca Garrafeira 2000
Produtor/Região: Quinta do Vale das Escadinhas, Dão
Uvas: Touriga Nacional e Tinta Roriz
Granada escuro, intenso, complexo, floral, com notas de rosas, chás, frutas vermelhas. Paladar de medio corpo, elegante, delgado, macio, taninos finos e doces. Expressivo e delicioso. A quintesência da Touriga Nacional no Dão.
Nota: 93 pontos
Vinha da Ponte 2000
Produtor/Região: Quinta do Crasto, Douro
Uvas: 37 uvas diferentes, principalmente Touriga Nacional, Tinta Roriz, Touriga Franca, Tinta Amarela, Malvassia Preta, tinta da Barca, Conifesto e Moreto.
Rubi-granada escuro. Aroma finíssimo e rico, com frutas negras doces, ervas do Douro e bastante mineral. Paladar de bom corpo, muito bem proporcionado, elegante, taninos doces e delicados ainda presentes, equilibradíssimo. Um vinho ao mesmo tempo moderno, com a alma do Douro e com grande finesse, um dos melhores da prova.
Nota: 97 pontos
Esporão Garrafeira 2001
Produtor/Região: Herdade do Esporão, Alentejo
Uvas: Alicante Bouschet e Aragonês
Possivelmente uma má garrafa, pois, apesar de não tem nenhum defeito aparente, está inexpressivo e amargo no fim de boca.
Sem nota
Batuta 2003
Produtor/Região: Niepoort, Douro
Uvas: Tinta Roriz, Touriga Franca, Tinta Amarela e Touriga Nacional
Rubi-granada escuro. Aroma finissimo, quente, com notas frutadas, minerais, de ervas aromaticas e mentol. Paladar encorpado, com taninos doces ainda presentes, muito equilibrado e elegante, com finesse. Foi prejudicado pelo serviço, pois foi servido gelado.
Nota: 92 pontos
Dona Maria Reserva 2003 Magnum
Produtor/Região: Vinhos Dona Maria (Julio Bastos), Alentejo
Uvas: Alicante Bouxchet (50%), Aragonês, Cabernet Sauvignon e Syrah
Granada escuro. Aroma falando alto, muito expressivo, com notas de geléias, caramelo, terra molhada, eucalipto, com fundo mineral. Paladar encorpado, largo e macio, longo, com presença marcante no nariz e boca.
Nota: 92 pontos