Somos livres para pensar? Não se apresse em responder. Pense o pensamento, no que você pensa e em como pensa. Essa semana, fiz uma meditação com alunos de turmas diferentes, onde eu pedia para visualizarem uma piscina. No final da prática, mais da metade reclamava da piscina gelada. Eu nunca defini a temperatura da água.
Milhares de experiências que fazem parte do nosso banco de dados da primeira infância, como rejeições, perdas e medos, foram produzidas sem que pudéssemos controlá-las ou filtrá-las. Claro que hoje, como adultos, fazemos escolhas, tomamos atitudes, mas nossas escolhas são pautadas pela base de dados que já temos. Então nossa liberdade não é tão plena assim…
Tive uma semana bem estranha e passei boa parte dela pensando sobre isso: somos livres dentro de nós mesmos? As ideias, a criatividade e a imaginação nascem do casamento entre um estímulo e a leitura da memória, que opera em milésimos de segundo. Por isso, é tão importante trabalhar a capacidade de ser um observador de si mesmo. Quando você entende um pouco as suas engrenagens mentais e conhece os seus gatilhos, você pode reconhece-los mais rapidamente e não cair em velhas armadilhas. Ou seja, aqueles cinco minutos de raiva que fazem um belo estrago podem ser evitados.
Com a prática da meditação, você aprende a sobrepor as memórias negativas. A partir de novos estímulos e referências amorosas você pode suplantar um padrão por outro que seja mais saudável emocionalmente. Não é do dia para a noite, claro. Requer treino, dedicação e paciência – que aliás, passa por maus momentos, em uma sociedade acostumada a conseguir tudo rapidamente.
No entanto, ela será essencial quando você exercitar a reflexão e a tranquilidade necessárias para observar hábitos, e as reações que podem estar boicotando seu crescimento e desenvolvimento pessoal. Por experiência pessoal, posso dizer que a tranquilidade só surge quando eu conheço os meus processos internos – as várias entidades em conflito umas com as outras que compõem o “eu”.
Quem não é honesto consigo mesmo, quem não tem coragem de se mapear, que vive entre pequenas mentiras ou omissões, tem chance de levar seus conflitos para o túmulo. Ao mesmo tempo, aprender a respeitar o tempo do outro e a sofrer menos pelos turbilhões mentais que não são seus é um baita desafio. Desenhar uma cartografia da própria mente é para os fortes. É dureza para mim, mas sigo tentando. E você?
**Vanessa Aragão é instrutora de meditação, com formação no monastério Kopan, no Nepal. É criadora do projeto @meditanteurbana, com aulas às segundas na Academia da Ahlma, no Leblon, e às terças e sextas no Espaço Dharma, na Barra.