Thalita Reboucas Por Blog Blog da Thalita Rebouças
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O maravilhoso mundo das crianças

Desde que lancei meu primeiro livro infantil, “Por que só as princesas se dão bem?”, passei a ter maior contato com o maravilhoso mundo das crianças. Nunca soube falar com elas. Não tinha jeito, tampouco palavras, não compreendia mesmo. Com a primeira edição esgotada em menos de um mês, entendi que sabia, sim, me comunicar, […]

Por fernanda
Atualizado em 25 fev 2017, 18h48 - Publicado em 30 jan 2014, 13h14
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  • Desde que lancei meu primeiro livro infantil, “Por que só as princesas se dão bem?”, passei a ter maior contato com o maravilhoso mundo das crianças. Nunca soube falar com elas. Não tinha jeito, tampouco palavras, não compreendia mesmo. Com a primeira edição esgotada em menos de um mês, entendi que sabia, sim, me comunicar, e muito bem (modéstia à parte), com pirralhos, que era tudo paranoia da minha cabeça, que eles são seres inofensivos e fáceis de conversar.

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    Em diálogos que mostro a seguir, provo o quão errada eu estava.

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    Caio – 3 anos

    Fui visitar a prenha mais prenha do Oeste, a barriguda mais linda do Leblon, Ednica, amiga de longa data, e levei uma linda roupinha de bailarina/princesa (ou seria princesa/bailarina? Ou rainha-excêntrica-que-se-veste-de-bailarina?) para Dora, que ocupa sua barriga no momento. Caio me recebeu na porta e ao olhar o pacote na minha mão perguntou:

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    – É pa mim?

    – Não… É pra sua irmã.

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    – Só pa Dora? Não touxe pesente pa mim, Thalita?

    E aquela cara de cachorro cruelmente abandonado na estrada me cortando o coração.

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    – N-não… Desculp…

    – Por quê? Por que você não touxe pesente pa mim?

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    – Porque tia Thalita é burra, insensível, não sabe lidar com criança, tia Thalita é uma péssima pessoa, péssima pessoa! – disse, à beira de um ataque de nervos, pronta para derramar um rio de lágrimas infantis.

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    – Tudo bem. Taz pa mim quando vier visitar a gente de novo, tá?

    – T-tá…

    – Não esquece, tá?

    – Tá…

    E virou as costas.

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    Simples assim. E eu nem precisei chorar para que ele me perdoasse.

    – – – – –

    Catarina, 5 anos

    Dia de luz, festa do sol, calor escaldante e eu, Catarina e sua mãe, Duca, no conforto do ar-condicionado vendo filminho inofensivo na TV aberta. Foi só esse ser iluminado chamado Mãe deixar o recinto para entrar o anúncio da Olla, o preservativo.

    Achei que fosse passar batido, mas ao fim do comercial, a pergunta que eu não queria ouvir:

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    – Tia Thalitinha, o que é camisinha?

    – É uma camisa pequena – respondi de bate-pronto.

    Eu sou um arraso mesmo.

    – Mas por que as meninas do anúncio, que não são pequenas, estão sem camisa?

    Catarina arrasou comigo.

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    – É… é… é… Pergunta pra mamãe quando ela voltar.

    – Não. Quero que você responda, tia Thalitinha. Um monte de coisas que eu pergunto pra mamãe ela não responde.

    – Porque não é pra criança saber.

    – Mas se camisinha é uma camisa pequena, então é pra criança – concluiu. – E eu sou criança e quero usar camisinha.

    – Nããão!

    – Eu quero usar camisinhaaaaa!!!

    Duca voltou no momento em que a criança berrava esse absurdo.

    E me fuzilou com os olhos.

    – Mamãe vai comprar uma camisinha, um vestidinho e uma sainha pra você no seu aniversário, combinado?

    – Ebaaaaa!

    E assim o assunto foi encerrado, sem que eu tivesse de falar de cegonha, de papai e mamãe num momento de amor…. Ufa!

    – Tem certeza de que essa pessoa tem só cinco anos? – perguntei indignada, assim que o filme de princesa recomeçou.

    – – – – –

    Bia – 8 anos

    – Dinda, a mamãe disse que você fez um livro inspirado em mim. O que é inspirado?

    – A personagem principal é baseada em você, boneca.

    – O que é baseada?

    – A dinda pegou você de modelo para escrev…

    – Modelo? Eu sou modelo?

    – Não! Não esse tipo de modelo.

    Tarde demais. A pirralha já estava desfilando toda rebolativa e exibida na sala. Tão minha afilhada!

    – Eu sou modelo. Eu vou ser modelo, dinda!

    – Gisele que se cuide! – brinquei.

    – Gisele? Quem é essa?

    Ufa! Nem tudo estava perdido. Minha pirralhinha ainda era só uma pirralhinha.

    – – – – –

    Anônima, aproximadamente 7 anos

    No lançamento do meu livro, uma bela menina de cachinhos de aproximou.

    –  Minha mãe falou pra eu vir aqui pedir pra você assinar meu livro, não sei por quê.

    – Porque esse livro é meu.

    – Não é não. É meu, acabei de ganhar.

    – Eu sei, mas eu que escrevi, por isso…

    – Manhê! A moça tá dizendo que o livro é dela! Não é! Não ééé!

    E saiu correndo como se perseguida pelo Bicho Papão (as crianças de hoje ainda têm medo do Bicho Papão?), o choro pronto para jorrar com força pelas rosadas bochechas.

    Pais e mães, melhor vocês não deixarem suas crianças perto de mim.

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