Medo da (moda da) Copa
Nada contra camisas de time. Aquelas que imitam as antiguinhas, então, acho um charme. Charme que, para mim, vai por água abaixo e vira falta de noção quando a peça é usada nos dias em que seu time não joga. Isso posto, digo agora o que realmente me angustia com a proximidade da Copa: as […]
Nada contra camisas de time. Aquelas que imitam as antiguinhas, então, acho um charme. Charme que, para mim, vai por água abaixo e vira falta de noção quando a peça é usada nos dias em que seu time não joga.
Isso posto, digo agora o que realmente me angustia com a proximidade da Copa: as camisetas de dry fit. De time, de seleção, de marcas esportivas, de grifes mundialmente famosas… Não importa se foram desenvolvidas pela Stella McCartney, tampouco se estão na vitrine da Prada ou se alguém do mundo da moda disse que elas são tendência em Paris. Faça ouvidos de mercador e corra para o espelho para (pelo menos tentar) ver o que todo mundo vê e não te fala: esse tecido é um enfeador de homens.
Se você é homem e é fã do maldito dry fit dirá “não concordo”, como acaba de fazer o palhaço do meu marido, ao ler de soslaio o parágrafo acima. Sim, ele é o muso inspirador desta crônica, que nasceu quando questionei o uso de uma camiseta cinza-chumbo do tecido, simplesmente pavorosa, para uma ida não à academia, mas ao shopping.
– É confortável. E eu gosto de conforto.
Conforto… Taí um conceito amplo. E que difere entre os sexos. Um amigo já jogou na minha cara que quem quer conforto fica em casa deitado na cama. Tudo porque os sapatos que ele sugeriu que eu usasse para um evento me machucavam.
– Tá louca? Mulher chique não sente calor, não sente frio, não sente bolha.
– Ah, bolha, sente sim!
– Não sente! — aumentou o tom de voz. — Sua cafona desaplaudida! — agrediu sem dó.
Bicha má.
Resumindo: para uma mulher, sentir-se bonita é o principal, o conforto vem depois. Para os homens — a maioria que conheço — o conforto vem em primeiro lugar. Se ficar bonito também, gol! Se não, tudo bem. Aqui em casa é assim. Se o jeans bacana está na lavanderia, Carlos sai com o que tem a barra toda puída mesmo.
– É estilo — logo diz ele, quando o repreendo com o olhar de “Misericórdia, meu Deus! Ele não sabe o que faz!”.
– Estilo mendigo? — provoco.
– Arrã – concorda, antes de sair.
Eu toda linda. Ele de calça puída e camiseta… dry fit. Porque o Carlos acha absolutamente normal sair de camiseta dry fit para qualquer lugar — basta ser a “primeira da pilha”. Se for, veste e não troca por nada. E fica elegante mesmo, um pitéu. A sorte do meu marido é que sou completamente apaixonada por ele. E, depois de 17 anos, a paixão não é mais 100% cega, é só 97,8%.
Um amigo meu, hétero e fã dessas aberrações, diz que o único problema é que o dry fit marca tudo e, por isso, evidencia a pança e as gordurinhas indesejáveis.
– O único? O único problema? O tecido é feio! Medonho! Foi feito para se exercitar! E olhe lá!
– Que nada! É uma delícia! A gente não fica com pizza de suor embaixo dos braços, a gente fica sequinho, não importa a temperatura. Dry fit é uma maravilha. A melhor invenção do século!
A melhor invenção do século? Muitos homens são cegos quando o assunto é dry fit. Ou bom senso.
– Você vai com esse sapato na festa? Jura? — perguntei, a angústia me comendo por dentro.
– O que é que tem?
– Parece que você pegou o sapato emprestado do Bozo, Carlos! — disparei, irritadíssima, do alto do meu salto 12 chiquérrimo (sim, eu sei ser fútil de vez em quando).
– O Bozo não é do meu tempo — rebateu o palhaço.
– Você entendeu o que eu quis dizer! Esse treco tem uns 8 anos, é maior que o seu pé, faz sua canela parecer fina, o bico é virado para dentro, é antiestético e é… é… é anti-higiênico! — gritei, à beira de um ataque de nervos, mas certa de que o convenceria a desistir de usar o tal sapato diante de tantos argumentos coerentes.
– Mas é confortável — encerrou, com sua inabalável tranquilidade, já chamando o elevador.
Aproveito o ensejo pra dizer aos homens que: regatas deveriam ser banidas dos armários para todo o sempre (como diz uma amiga, sovaco de estranhos a gente tolera só na praia, e olhe lá!), usar meia branca com sapato escuro é expressamente proibido, dirigir de boné é inaceitável (dentro do carro não tem sol, povo!), a pochete está morta e enterrada (que descanse em paz e não volte para assombrar ninguém), depilar sobrancelha devia dar cadeia (que me desculpem as fãs do Cris Ronaldo), gel em excesso nunca é legal e desodorante é, sim, fundamental, por mais que você se ache a coisa mais cheirosinha dessa vida!
Discorda? Cartas para a redação.