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Doença FM

- Thalita, você está agasalhada? – perguntou minha avó ao telefone, numa noite em que eu jantava com amigos no Leblon. – Está um calor senegalês! Casaco pra quê? – Porque tem uma gripe por aí que vou te contar… Uma gripe muito da marota. Adorei gripe marota. – Como é uma gripe marota? – […]

Por Daniela Pessoa Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 25 fev 2017, 19h08 - Publicado em 3 Maio 2013, 19h37
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  • – Thalita, você está agasalhada? – perguntou minha avó ao telefone, numa noite em que eu jantava com amigos no Leblon.

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    – Está um calor senegalês! Casaco pra quê?

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    – Porque tem uma gripe por aí que vou te contar… Uma gripe muito da marota.

    Adorei gripe marota.

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    – Como é uma gripe marota?

    – Ah, minha filha, uma gripe que derruba as pessoas quando elas menos esperam. Tá todo mundo com essa gripe. Até o Bial pegou.

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    – Como você sabe?

    – Deu no rádio.

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    – Ah, tá.

    – E você não tem saído, não, né?

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    – Tenho, claro, quase todos os dias.

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    – Mas precisava gostar tanto de rua, meu Deus? Minha filha, olha a dengue, cuidado com a dengue, a dengue voltou com força total, a dengue veio pra ficar. Olha o Miguel!

    – Que Miguel?

    – Falabella, ué!

    Minha avó adora falar dos famosos como se fossem amigos íntimos. “Tarcísio viajou com a Glória”, “ Ana Maria foi atropelada ao vivo”, e por aí vai.

    – O que tem o Falabella?

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    – Pegou dengue, ficou arriado, sem gravar, coitadinho do Miguel.

    – Como você sabe que ele teve dengue?

    – Ouvi no rádio.

    – Que rádio é essa que você ouve? Doenças FM?

    – Uma rádio ótima, que prepara a gente pras surpresas medicinais da vida, como a tuberculose. Acredita que tem gente à beça morrendo de tuberculose, Thalita? Tuberculose tá que tá, menina, tá matando adoidado. Quando a gente pensa que essa doença horrível tinha ido embora no século passado, taí ela pra atazanar a vida da gente. Você não tá tossindo, não, né?

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    – Não, estou ótima.

    – Graças a Deus! Mas já sabe, saiu sangue no catarro, corre pro médico.

    – Pode deixar.

    Concordar é sempre mais fácil que argumentar.

    – Eu lembro bem do seu catarro, sempre foi bonitinho, branquinho, uma beleza.

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    Só para uma avó um catarro pode ser sinônimo de beleza.

    – Ainda bem que você já teve rubéola e catapora. Rubéola e catapora estão vindo com tudo nesse inverno, sabia? Você tem que ficar em casa, bem protegida.

    – Combinado!

    – E vê se não viaja de novo!

    – Por quê?

    – Você viaja demais, quero que você fique quietinha em casa pra que eu tenha um pouco de paz. E se pudesse passar um tempo sem sair à noite seria perfeito. Aí, sim, eu ficaria sossegada.

    Ah, então tá… A minha diversão, a minha carreira, a minha felicidade quando estou com marido e amigos… Nada disso importa.

    – Ok, vou pensar com carinho. Agora preciso desligar, o meu prato está esfriando. E você não quer que eu caia de cama desnutrida, né?

    – Deus me livre! E se alimenta direitinho pra vovó não ficar preocupada.

    Desliguei, voltei ao meu nhoque com carne assada e enquanto mastigava me coloquei no lugar dela. Deve ser realmente difícil para a minha avó ver que a criança que ela criou com tanta dedicação e carinho cresceu sorrateiramente e, ainda por cima, acha graça dos seus conselhos.

    Mas vó, a vida é injusta mesmo, viu?

    Pode dormir tranquila, prometo que vou me cuidar.

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