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Entrevista: Tonico Pereira celebra 50 anos de carreira com solo

Em cartaz a partir de sexta (3) no Teatro Candido Mendes, "O Julgamento de Sócrates" é o primeiro monólogo do ator

Por Renata Magalhães
Atualizado em 1 nov 2017, 11h00 - Publicado em 1 nov 2017, 11h00
O Julgamento de Sócrates
(Victor Pollak/Divulgação)

Tonico Pereira pode até ter acabado de se despedir de Abel, seu personagem na badalada novela A Força do Querer, mas o trabalho não diminui. No ano em que celebra cinco décadas de carreira, o ator celebra com o primeiro solo no teatro. Com estreia prevista para sexta (3), no Teatro Candido Mendes, O Julgamento de Sócrates é uma livre adaptação de Ivan Fernandes para o clássico Apologia de Sócrates, de Platão. Em cena, Tonico dramatiza a defesa de Sócrates, no julgamento que o condenou à morte por envenenamento e faz uma analogia aos tempos modernos. Confira um bate-papo (bastante político) com o ator:

Muitos atores decidem encarar um monólogo quando se julgam maduros o suficiente para a tarefa. Foi o seu caso?
É uma decisão que tem muito mais a ver com o momento político do Brasil e do mundo. Não me considero maduro por isso. Ainda estou tentando essa maturidade, vamos ver se consigo um dia!

E como está sendo a experiência? Pode ser um lugar solitário?
Estar sozinho em cena dá uma liberdade maior: posso errar sem comprometer o trabalho dos outros. A solidão, no entanto, é aparente. Teatro não é só palco, mas plateia também. Ela é nossa principal interlocutora, mesmo quando você está acompanhado.

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Porque a escolha deste texto?
Sócrates é um dos mais importantes filósofos e me considero empiricamente “socrateano”, pois não tive uma formação acadêmica. Aprendi tudo com os mais velhos e minha cultura também é oral. O interessante é falar deste grande nome fazendo uma analogia com os dias de hoje. Não estamos fazendo um julgamento, mas a própria condenação. Assim como hoje muitos outros são condenados injustamente.

Como você avalia esse momento que estamos vivendo no país?
É uma m…! É muito estranho, opressivo. A liberdade está cada vez mais cercada e vigiada. Há uma profunda necessidade de acabar com o ser humano na sua essência. As manifestações de direita são fascistas e vão tolhendo o pensamento. É assustador.

Você vê alguma saída?
Tem várias saídas possíveis, mas a principal seria a educação. Esse é o projeto para qualquer país que quer ser grande e justo; é o que nos faz discernir entre o que é bom e ruim. E isso foi postergado no Brasil. É cada vez pior. O projeto educacional foi boicotado por interesse das elites.

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Voltando à falar sobre coisas boas: existe algum outro personagem, do porte de Sócrates, que você sonha em interpretar?
Costumo ser um ator de aluguel e sou convidado para os papéis. A minha participação visionária e política se dá nas minhas pausas, na minha interpretação. Esse é o meu veículo. Tenho vontade de fazer qualquer papel que ajude a sustentar os meus filhos. Sempre fui movido pela realidade e, inclusive, me tornei ator por isso. Não foi pelo glamour, que eu nem acho que exista nessa profissão. Não sou um homem de projetos; sou um homem que quer fazer bem aquilo para o qual ele é chamado.

Você vende produtos estampados com frases de sua autoria. Qual a sua preferida?
Lembro de duas. Uma vez, tive um papo com Shakespeare na Praça São Salvador e ele me perguntou: “Ser ou não ser? Eis a questão”. Eu, muito bêbado, respondi: “Ah, Shakespeare! Ser ou não ser…? Sei lá!”. A outra tem associação forte com Sócrates e é a seguinte: “Sempre aprendiz”.

Se um jovem ator te pedisse um conselho do alto dos seus 50 anos de carreira, qual seria?
Não pense no glamour. Siga se isso te faz sobreviver, tanto materialmente quanto espiritualmente. Apesar de não gostar muito dessa palavra, pois sou ateu.

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Teatro Candido Mendes. Rua Joana Angélica, 63, Ipanema. Sexta a domingo, 20h. R$ 50,00. Até 17 de dezembro. Estreia na sexta (3).

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