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Teatro de Revista

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Espetáculos, personagens, bastidores e tudo mais sobre o que acontece na cena teatral carioca, pelo olhar do crítico da Veja Rio

Indicados ao Prêmio Shell pela mesma peça, Thelmo Fernandes e Ricardo Blat falam ao blog

Na recém-divulgada lista dos indicados ao Prêmio Shell, pelo primeiro semestre da presente temporada carioca, um detalhe curioso chamou a atenção: os dois candidatos à láurea de melhor ator, Thelmo Fernandes e Ricardo Blat, foram lembrados por atuações na mesma peça, A Arte da Comédia. Escrito pelo dramaturgo, diretor e ator italiano Eduardo de Filippo […]

Por rafaelteixeira
Atualizado em 25 fev 2017, 19h03 - Publicado em 4 jul 2013, 17h14
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Na recém-divulgada lista dos indicados ao Prêmio Shell, pelo primeiro semestre da presente temporada carioca, um detalhe curioso chamou a atenção: os dois candidatos à láurea de melhor ator, Thelmo Fernandes e Ricardo Blat, foram lembrados por atuações na mesma peça, A Arte da Comédia. Escrito pelo dramaturgo, diretor e ator italiano Eduardo de Filippo (1900-1984), o texto faz uma divertida ode ao teatro e suas possibilidades como poder transformador do indivíduo. Na montagem dirigida por Sergio Módena, que estreou em janeiro passado no Maison de France, Blat vive Campese, o líder de uma companhia teatral em situação periclitante depois que um incêndio destruiu sua sede. Em busca de socorro, ele recorre ao prefeito recém-empossado, papel de Thelmo. A recusa do governante vai levar o pobre atora bolar um ardil. Ótima notícia: o espetáculo volta ao circuito carioca no dia 27 de julho, ocupando o Teatro Carlos Gomes.

A convite do blog, os dois atores responderam às mesmas cinco perguntas. Confiram:

THELMO FERNANDES

Como o projeto de A Arte da Comédia chegou até você?

Através do Sergio Módena, nosso querido diretor. Ele me convidou uma primeira vez, mas declinei, pois estava envolvido em um outro projeto, que acabei não levando adiante devido às gravações de José do Egito (minissérie da Record). Daí, um dia, liguei para o Sergio, na esperança de que ele não tivesse ainda chamado ninguém. Para a minha sorte, não tinha. Li o texto, me apaixonei e topei imediatamente.

Como você vê a pertinência e a atualidade do texto, que permanecem intactas, apesar de ele ter sido escrito há tantos anos?

Isso nos impressionou muito durante os ensaios. Parecia que havia sido escrito para os tempos de hoje. Não só a difícil relação entre o teatro e o poder público, mas também a incapacidade dos governantes de conhecerem a fundo os problemas da população. Isso foi fundamental para a total identificação do público com o espetáculo. Mas acho que o grande legado do texto é o incrível poder transformador do teatro, que permanece intacto através dos séculos.

Sobre o seu personagem, como foi o processo de composição? Você se inspirou em alguém? Como esse personagem foi sendo moldado nos ensaios?

Não me inspirei em ninguém em especial, mas nos políticos de uma forma geral. Sou habitualmente um devorador de noticiários, impressos ou televisivos, e procuro observar muito esta figura tão controversa da nossa sociedade. Além disso, como ator e produtor, já estive no lugar do personagem do Ricardo diversas vezes, confrontando diferentes tipos de “prefeitos”, e isso tudo estava muito vivo em minha memória. Durante os ensaios, conversávamos muito, eu, Ricardo e Sergio, sobre o que estava sendo dito no texto. O embate entre os dois é simplesmente maravilhoso e recheado de um conteúdo fundamental para entender a relação do teatro com a sociedade nos dias de hoje. Cada ensaio era discutido como num trabalho de mesa, e isso foi enriquecendo nossa composição com conteúdo, imprescindível para o espetáculo.

O que representa para você a indicação ao Prêmio Shell?

Representa muito para mim neste momento da minha carreira. É a minha segunda indicação para o Shell, a primeira foi com Gota d’Água, em 2007. Mas essa me emocionou talvez até mais pelo contexto em que estamos inseridos hoje. Ser indicado com um texto de um autor clássico como  Eduardo de Filippo em um momento em que vivemos o auge dos musicais e das comédias ligeiras, stand-ups e monólogos é muito representativo e me deixa realmente muito emocionado e feliz.

O que você pode falar sobre o trabalho do Blat em A Arte da Comédia? Como ele colaborou para a sua própria composição do personagem do prefeito?

Ricardo é um “monstro” de ator, além de ser uma pessoa adorável que hoje tenho o privilégio de ter como amigo. Ter a chance de contracenar com ele aumentou ainda mais a minha vontade de fazer este projeto. Trabalhar com atores do gabarito do Ricardo é o que me faz crescer sempre. O trabalho dele é simplesmente impecável. Campese é uma delícia de personagem ao qual ele deu alma e vida com tamanho brilhantismo que mereceu um comentário lindo da Fernanda Montenegro quando ela foi assistir: parecia que estava vendo o Procópio Ferreira em cena. Ele foi fundamental para a criação do meu personagem na medida em que, através de nosso embate inicial, se desenvolve toda a ação dramática do espetáculo. Sabíamos desta responsabilidade e trabalhamos muito para que este jogo ficasse crível, agradável e divertido. Também foi fundamental o olhar do nosso diretor e a participação efetiva de toda a equipe do espetáculo, foi um processo de criação maravilhoso. Creio que conseguimos chegar em um belo resultado.

RICARDO BLAT

Como o projeto de A Arte da Comédia chegou até você?

Chegou através de um convite do Sergio Modena, diretor do espetáculo e um dos criadores do projeto. A princípio, fui convidado para fazer o prefeito da história, personagem do Thelmo Fernandes, mas quando li o texto me apaixonei pelo Campese, diretor de um grupo de teatro. Lutei por ele, e ele acabou vindo bater na minha porta.

Como você vê a pertinência e a atualidade do texto, que permanecem intactas, apesar de ele ter sido escrito há tantos anos?

O texto é pertinente e atual porque reflete o momento que estamos vivendo: a população exigindo atenção e empenho das autoridades políticas na resolução de questões sociais que, na maioria das vezes, ficam só nas promessas. Campese convida o prefeito a assistir espetáculos que encena para que ele tome consciência das necessidades do povo e comece a trabalhar. É o teatro sendo útil à sociedade, como eu acredito!

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Sobre o seu personagem, como foi o processo de composição? Você se inspirou em alguém? Como esse personagem foi sendo moldado nos ensaios?

O texto de Campese se encaixou naturalmente em minha boca e alma. Uso as falas do personagem para fazer meu manifesto diário no palco e na vida. Isso sempre ocorre com as peças que faço. E o processo de composição foi tranquilo e prazeroso. Além do tema, que me seduziu, me inspirei em meu pai: homem íntegro, repleto de poesia e ótimo cidadão. Também nos comediantes Totó, grande ator italiano, e Procópio Ferreira, grande ator brasileiro.

O que representa para você a indicação ao Prêmio Shell?

O reconhecimento do meu amor pelo meu ofício.

O que você pode falar sobre o trabalho do Thelmo em A Arte da Comédia? Como ele colaborou para a sua própria composição do personagem do líder da companhia teatral?

O Thelmo é, alem de um superator, um ser humano de excelente qualidade. Aliás, é isso que o torna o profissional talentoso que é. Se fui indicado ao prêmio, devo muito à nossa parceria em cena, deslumbrantemente generosa, instigante. A minha relação com a equipe de produção, criação, elenco e público também foi, e é, muito legal. Todos são responsáveis por essa indicação, até minha mãe, pois ninguém faz nada sozinho na vida. E o teatro, para mim, é a manifestação da vida em sua essência e plenitude!

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