Crítica: Primeiro Amor
✪✪✪ PRIMEIRO AMOR, de Samuel Beckett (1906-1989). Não vem de hoje a relação da diretora e atriz Ana Kfouri com o universo de Beckett. Em 1989, ano da morte do autor irlandês, ela estreou Ponto Limite, em cujo texto se inseriam trechos de Esperando Godot, um dos seus maiores clássicos. Escrito em 1945 e publicado somente 25 anos depois, […]
✪✪✪ PRIMEIRO AMOR, de Samuel Beckett (1906-1989). Não vem de hoje a relação da diretora e atriz Ana Kfouri com o universo de Beckett. Em 1989, ano da morte do autor irlandês, ela estreou Ponto Limite, em cujo texto se inseriam trechos de Esperando Godot, um dos seus maiores clássicos. Escrito em 1945 e publicado somente 25 anos depois, Primeiro Amor foi concebido, na verdade, como uma novela, e não como uma peça. Sob a direção de Antonio Guedes, Ana encarna um homem defrontado com sua inabilidade de amar. Expulso de casa após a morte do pai, ele passa a vagar por cemitérios, à espera do próprio fim. Certo dia, conhece uma prostituta, por quem se apaixona. Quando eles passam a dividir a mesma casa, porém, aquele amor começa a desaparecer. Conhecida por sua dedicação ao teatro experimental e à investigação de linguagens, Ana não foge à regra aqui. A cenografia é crua, composta apenas de um banco em frente ao qual são projetados interessantes vídeos de Helena Trindade. No estilo de um monólogo interior, o texto é por vezes árido, e o jorro de palavras pode ser desnorteante para espectadores acostumados com mais ação em cena. Sozinha, Ana fica sentada e quase não faz grandes movimentos durante os setenta minutos da sessão – mas dá grande expressividade dramática ao que é dito através das mãos e do rosto.