Uma conversa com Bibi Ferreira
Em entrevista ao repórter Rafael Cavalieri, parcialmente publicada na última edição impressa de VEJA RIO, Bibi Ferreira esbanjou gentileza e bom humor. Confira abaixo a conversa completa, inspirada pela temporada que a diva faz no Theatro Net Rio (Rua Siqueira Campos, 143, Shopping dos Antiquários) terças e quartas, às 21h, até 10 de junho, […]
Em entrevista ao repórter Rafael Cavalieri, parcialmente publicada na última edição impressa de VEJA RIO, Bibi Ferreira esbanjou gentileza e bom humor. Confira abaixo a conversa completa, inspirada pela temporada que a diva faz no Theatro Net Rio (Rua Siqueira Campos, 143, Shopping dos Antiquários) terças e quartas, às 21h, até 10 de junho, com ingressos a R$ 100,00 (balcão ) e R$ 150,00 (plateia e frisa). No roteiro, à frente da orquestra com dezoito músicos, um desfile de standards Americanos como Strangers in the Night, Ol’Man River, Nature Boy e Cheek to Cheek, entre coisas nossas, a exemplo de Dindi (Tom Jobim e Aloisio de Oliveira), e uma divertida interpretação para Rock Around the Clock (Bill Haley)
Piaf, Amália Rodrigues, Carlos Gardel, Dolores Duran e agora Sinatra. Você já pensa no próximo tributo?
Outro dia pensei em Caymmi, mas enfrentaria um repertório ainda mais masculino do que o do Sinatra. O Jô Soares quer me dirigir cantando Judy Garland. Mas ainda é cedo para definir. Sinatra ainda tem muita estrada. Estou no Rio, volto para São Paulo no segundo semestre. Estou empolgada pela volta a Nova York programada para novembro. Quer dizer, é um misto de empolgação com frio na barriga. E já sei que saio em turnê nacional em 2016.
Que critério a senhora utiliza para definir seus homenageados?
Nao há critério. Piaf, foi o Pedro Rovai (produtor) que me propôs e enviou o texto. Amália, foi um recado que recebi dela mesma que gostaria que eu fizesse. Os tangos de Gardel foram como lembrança e homenagem a minha mãe. Cresci ouvindo tangos. Dolores Duran e Antonio Maria vêm do repertório do Brasileiro Profissão Esperança, e tudo o que significa esse show para mim (dirigido por Bibi, o espetáculo estreou em 1970, com repertório de Dolores e Maria, defendido no palco por Ítalo Rossi e a cantora Maria Bethânia). O Sinatra foi sugestão do meu empresário Nilson Raman, que tem feito uma promoção internacional do meu trabalho, e me queria cantando em inglês. Ja faz muito tempo que ele me cobrava isso.
É uma responsabilidade maior defender as músicas de um artista conhecido como A Voz?
Responsabilidade enorme. Mas, na idade que estou, deixa o fácil para os outros. Ou vai, ou vai. Não dá mais para parar no meio do caminho, entende? E, na mesma proporção, há o prazer. Quando entro no palco com minha orquestra é um sonho. São dezoito músicos. Os arranjos do meu maestro Flavio Mendes. Muito do repertório é jazz, o que é muito a minha praia, meu universo musical. Adoro o que estou cantando. Às vezes implico com Night and Day, mas amo That’s life e o repertório do Jobim em inglês. Fiz uma versão do Garota de Ipanema, para Garoto de Ipanema… o meu é “tall, tan, tough, handsome”… made in Brasil
Teatro ou música? É possível escolher a arte que lhe proporciona mais prazer?
Música, música, música, de preferência com orquestra e coro.
Hoje em dia há uma indústria de musicais, em produções cada vez maiores. Como a senhora relaciona essa realidade atual ao trabalho que vem fazendo há décadas?
Penso que houve um amadurecimento muito importante nos musicais no Brasil. Muito mesmo. Temos grandes talentos. Temos até um prêmio especifico para musicais que, com muita honra, leva meu nome. Agradeco muito ao Marllos Silva, criador do prêmio, pela homenagem que me presta todo ano. Esses dias, ao cantar Gota d’Água em Porto Alegre, lembrei que em 2015 completam-se quarenta anos que estreei o espetáculo. Fui capa da Veja, a Vejona. Pode conferir. E, ao que me parece, foi a primeira vez que um espetáculo de teatro foi parar na capa da revista. Para mim, Gota d’ agua é a maior obra da dramaturgia musical brasileira. E nao é por mim, é pelo Chico Buarque de Holanda e pelo Paulo Pontes (diretor teatral com que ela foi casada e que adaptou o espetáculo junto com Chico). Apenas acho que hoje é mais fácil. Lembro que quando fiz My fair lady, por exemplo, no antigo Carlos Gomes, com mais de mil lugares, não tínhamos a tecnologia de hoje. Eu cantava sem microfone. Sabe o que é isso?
O que a senhora gosta de ouvir em casa? Que tipo de música? Que artistas?
O que mais faço é ler. Muito. Todos do John Grisham. Gosto do P. D. James, Ken Follett, James Paterson. Leio sem parar. Gosto de filmes. Adoro balés. Pode me perguntar qualquer coisa dos grandes balés e das grandes óperas que eu sei. Brincadeira! Me divirto com isso e tomando coca-cola sem gelo. Dou muitas gargalhadas e aprendo muito lendo o Eduardo Bueno, por exemplo. Li todos do Laurentino Gomes. O livro da Nandinha, Fim, também é otimo.
O que a senhora pensa de cantoras pop de hoje em dia, a exemplo de Valesca Popouzada, Ludmilla, Anitta?
Respeito essas meninas, porque o sucesso deve ser respeitado. E penso que o objetivo delas é o entretenimento. Essa Anitta me parece ter personalidade. Se vão consolidar uma carreira, precisamos que os anos digam. Agora se você me falar de Joyce Cândido e Alice Caymmi, eu vou dizer que temos boas novidades na música. Duas belas vozes, duas grandes artistas.
Há controvérsias sobre o dia e até o ano de seu nascimento. Qual é a sua data preferida?
Atualmente, podem falar que já estou com 150 anos que não me incomodo mais. Te convido a pensar em qual é a idade da minha voz. Você já foi me ver cantar Sinatra? Quanto à data, minha identidade diz 1º de junho, minha mãe dizia 4 e meu pai dizia 10. Naquela época, antes de Arquimedes, as datas não eram muito exatas mesmo. De qualquer modo sou geminiana, o signo da eterna juventude. Comemoro no dia 1º. Minha identidade diz que nasci em Salvador, mas nasci mesmo no Rio de Janeiro.
Uma vizinha sua se gaba, com amigos, de poder ouvi-la ensaiar. Alguém que mora perto já reclamou?
Já reclamaram muito, mas entre flores e pedras, o jardim está lindo e colorido. Acho que a maioria se diverte. Obrigada pela entrevista. Adoro a Veja e a Vejinha. E sempre lembrarei com muito carinho do meu amigo, doutor Victor Civita (o fundador da Abril), que tanto me prestigiou durante minha carreira.