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No início era a roda

Menor de idade, o garoto tinha que driblar o juizado de menores para subir ao palco com o conjunto Coisas Nossas, em meados dos anos 70. Na década seguinte, já com os papéis em dia, integrou a Camerata Carioca, grupo comandado pelo pianista Radamés Gnattali, e acompanhou mundo afora estrelas como Elizeth Cardoso e Nara […]

Por Pedro Tinoco Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 25 fev 2017, 18h58 - Publicado em 9 set 2013, 21h43

Menor de idade, o garoto tinha que driblar o juizado de menores para subir ao palco com o conjunto Coisas Nossas, em meados dos anos 70. Na década seguinte, já com os papéis em dia, integrou a Camerata Carioca, grupo comandado pelo pianista Radamés Gnattali, e acompanhou mundo afora estrelas como Elizeth Cardoso e Nara Leão. A carreira de solista começou em 1988, com o lançamento do primeiro disco próprio. Músico tarimbado, de talento respeitado no cavaquinho e nos arranjos, Henrique Cazes entra em cena e faz a direção musical de O Choro Reinventa a Roda, série de duas apresentações, na terça (10) e na quarta (11), a partir das 20h30, no Espaço Sesc (Rua Domingos Ferreira, 160), em Copacabana. Abaixo, uma conversa com o mestre sobre música e cinema, arte na qual ele também dá uma palinha.

A roda de choro é uma instituição, assim como o gênero musical que contempla. Dá para reproduzir aquele clima festivo, oriundo dos quintais, no palco de um teatro?

Não pensei num projeto de choro, pensei num projeto de roda. O palco do Sesc, em formato de arena, é o ideal. Tenho 37 anos como músico profissional e ainda não tinha feito roda de choro num teatro de arena. Essa experiência nova tenho agora. Estou juntando gente que goste de trocar, e que não esteja tocando junto toda semana. Essa é parte da magia da roda. É a antibanda. Não tem ensaio, isso é a força do processo. O choro é a matéria-prima, que vai estar lá sendo reinventada, na roda. Os músicos convidados têm bagagens diferentes. O Jorginho do Pandeiro, com mais de 80 anos, tocou com Jacob do Bandolim no Época de Ouro. Déo Rian (bandolim), Odette Ernest Dias (flauta) também são nomes experientes e não estão aí tocando todo dia. O Leonardo Miranda (flautista) já gravou Joaquim Calado (1848-1880) e é professor de jovens na Escola Portátil de Música. A gente vive hoje um momento da música insociável, da playlist ouvida no headphone. A roda promove a volta dessa audição compartilhada e o prazer decorrente desse encontro, para os músicos e para o público. Esse é meu objetivo.

Além de tocar, você é um estudioso no assunto. O que descobriu sobre as rodas em suas pesquisas?

O assunto roda entrou na minha pauta quando escrevi Choro – do Quintal ao Municipal (1998). Em 2011, defendi a dissertação de mestrado Os Chorões e a Roda. Quando comecei a estudar a roda como um assunto próprio, além do choro mesmo, muita coisa interessante surgiu. Tem músico que gosta de choro, mas não gosta de roda. Zé da Velha (trombonista) diz que “músico, para tocar na roda, tem que gostar de tocar que nem garçom, servindo, os outros”. A roda é uma rede de trocas, feita de gestos, de olhares, coisa que não está escrita em lugar nenhum, mas vai se estabelecendo ali, na hora. Isso é uma coisa que muda o próprio jeito de tocar de quem está ali. Esse fluxo de troca se torna mais importante do que os indivíduos. Em conversas e pesquisas a gente vai aprofundando a constatação do quanto a roda é uma instância que, ao mesmo tempo, reinventa o choro e é reinventada pelo choro. É esse processo que está aí há um século e meio.

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Onde se escuta uma boa roda de choro hoje em dia?

Tem certas pessoas que canalizam esse clima da roda, levam esse clima para onde vão. Quando quero ouvir uma boa roda, procuro ver onde o Zé da Velha e o Silvério Pontes estão tocando. Eles, e o grupo que acompanha a dupla, tocam o fino, trocam muito ao vivo, fazem o oposto daquele choro escrito, amarrado.

Boteco, documentário que será exibido no no Festival do Rio, tem roteiro seu. Como foi essa experiência cinematográfica?

Fiz o roteiro junto com o Ivan Dias, que é também diretor e produtor do filme. Já tínhamos feito juntos o Apanhei-te Cavaquinho, um documentário sobre as origens do instrumento. Desta vez, foram doze dias seguidos filmando em botequins de donos portugueses que ainda resistem no Rio. Um sacrifício terrível. Para o fígado, principalmente. O Ivan é um português que entende o Brasil como poucos brasileiros e o filme ficou bem bacana.

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Assista ao trailer do documentário Boteco

[youtube https://www.youtube.com/watch?v=E2cYxzG8Ri0%5D

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