Hermeto e eu
Poltrona E-4. Bel conseguiu os ingressos e lá fomos. Sentamos e me acomodei na E-4. Show de Hermeto Pascoal e banda, no auditório do BNDES, sexta, 6 de novembro de 2015, abertura do 53º Festival Villa-Lobos. O “Bruxo”, particularmente animado, elogiou ao vivo o vinho servido no camarim. Contou história que não acabava mais. Deitado, […]
Poltrona E-4. Bel conseguiu os ingressos e lá fomos. Sentamos e me acomodei na E-4. Show de Hermeto Pascoal e banda, no auditório do BNDES, sexta, 6 de novembro de 2015, abertura do 53º Festival Villa-Lobos. O “Bruxo”, particularmente animado, elogiou ao vivo o vinho servido no camarim. Contou história que não acabava mais. Deitado, lembrou da vez que esparramou-se durante uma apresentação no Barbican Centre, em Londres, e solou, em decúbito dorsal, o “Parabéns pra Você” através de roncos anasalados – repetiu o feito, claro, lá no bem-cuidado palco do BNDES. Teorizou sobre música, contou piada, lembrou do padre que, em sua terra natal, lá em Lagoa da Canoa, Alagoas, enchia a cara de pinga na tendinha de seu pai antes de rezar a missa. Contando assim, a noite transcorreu como uma palestra, mas não foi nada disso. Era tudo música, inclusive as falas do dono da festa. Música ao gosto de Hermeto, uma costura única de dissonância, atonalidade e referências diversas que resulta no admirável free jazz à brasileira trançado pelos talentos sobrenaturais de Itiberê Zwarg (baixo), JP (sopros), Ajurinã Zwarg (bateria inacreditável, o coração do grupo), André Marques (teclado), Aline Morena (nos arranjos, sua voz é mais um instrumento, com direito a solos em vocalizações surpreendentes) e Fábio Pascoal (percussão, filho do homem, que herdou, além da música, o bom humor). Ao longo da sessão, jovens músicos, promessas da flauta, do violino, dos teclados, entravam em cena como se estivessem na sala de estar de Hermeto (ou na sala de aula, com quadro-negro e tudo, que ele mantinha em sua casa no Jabour) e encantavam a plateia preservando o alto nível na execução do repertório. Hermeto, o maestro, tem o conjunto na palma da mão (e na planta do pé, que, a cada batida no chão, altera o andamento das interpretações). Também rege a plateia e brinca com a multidão deixada do lado de fora do teatro lotado, que assiste ao concerto por um telão. Caminhava para o fim aquela apresentação digna de antologia quando Aline anuncia o sorteio da partitura de uma composição feita para o festival, que Hermeto escreveu em um lenço, autografou, arrematou com um desenho e vai dar de presente para um felizardo. Aline mexe nos papéis em uma cumbuca, cada um deles com a indicação de um lugar do teatro, tira um deles e lê: “POLTRONA E-4″. Foi a glória.
O Festival Villa-Lobos continua a encher a cidade de música até o dia 22. Vai que…. Confira a programação AQUI