Paredão no CCBB: a pressão sonora das caixas de som de todo o Brasil
Paredão Ocupa o Museu traz o universo cultural das aparelhagens de som, em três noites temáticas de reggae, funk e brega funk
Sound System, Radiola, Paredão. São vários os nomes para esse tipo de expressão cultural, muito presente no Pará e Maranhão, herança da comunidade jamaicana do reggae. No Rio, a turma do Paredão se espalha por vários locais. Mas, a partir desta quinta (26) até sábado (28), essa galera vai mostrar toda a sua potência sonora no CCBB – um projeto inovador, que une a cultura da pressão sonora de rua, das grandes caixas de som, de DJs e MCs, a um ambiente de museu.
A primeira edição do Festival ‘Paredão Ocupa o Museu’ traz o universo cultural dos paredões para o coração do Rio, com uma programação dividida em três noites temáticas: Aparelhagem do Pará, Radiola de Reggae do Maranhão e Paredão de Funk.
E vai na contramão de tanta mesmice que anda por aí, festival que é pura novidade, celebrando a cultura dos paredões. As grandes estruturas sonoras impulsionam a música nacional e abrigam estilos originários das periferias e dos interiores do país. Compostas por caixas de som de diversos formatos, essas estruturas revolucionaram a música no final dos anos 40, nos bairros de Kingston, na Jamaica. A cultura do Sound System veio como uma alternativa econômica aos shows de bandas de R&B, em que a ideia de custear um sistema de som e um DJ para embalar a festa, passava a ser uma saída mais barata e rentável.
Desenvolvidos ao longo de anos por artistas periféricos, esses movimentos refletem a diversidade sonora do Brasil, abrangendo gêneros como funk, tecnobrega e reggae. Essa diversidade se reflete no lineup do ‘Paredão Ocupa o Museu’, que inclui DJs, bandas, MCs e dançarinos, originários de pelo menos quatro estados brasileiros.
Entre as atrações, destacam-se Radiola Freedom FM, Célia Sampaio, Núbia e VJ Nayra Albuquerque, representando o Maranhão. Aparelhagem Crocodilo, Leona Vingativa e Maderito e VJ Astigma, do Pará. A Coisona, Baile do Ademar, VJ Andressa Nubia do Rio de Janeiro e Rayssa Dias, traz o brega funk de Pernambuco, no segmento de funk, além do Paredão do Hulk, em sons automotivos. Outros destaques incluem Digital Dubs (RJ), VJ Guigga Tomaz, DJ Gabi Nas (MG), Baile do Ademar (RJ), Sonoro Paraense (PA). A experiência certamente vai ser incrível, unindo estruturas sonoras de todo o Brasil, com as culturas de paredão num espaço pouco convencional.
Chama a atenção também o fato de o festival ser idealizado e dirigido por três mulheres – Barbara Vida, Jasmine Giovannini e Lisa Brito -, num universo tradicionalmente dominado por homens. A curadoria é assinada por Tassia Seabra, afro empreendedora dedicada à profissionalização de artistas independentes e periféricos, e por Ademar Danilo, idealizador e diretor do Museu do Reggae do Maranhão, e um dos maiores conhecedores do reggae jamaicano e maranhense. Soma-se ao time de curadoria Francisco Sidou, produtor cultural, artista visual, VJ e DJ de Belém do Pará, conhecido por misturar paisagens visuais e sonoras amazônicas com experimentalismo eletrônico. Claro que não poderia faltar uma feira de alimentação com comidas típicas. Na programação há também um ciclo de debates sobre a cultura dos paredões e suas influências, com a participação dos curadores e artistas de cada gênero musical e com mostra de filmes com títulos como o premiado Guinga Reggae, The Beat Diáspora (uma produção da KondZilla e Mymama Entertainment), e Hoje Estamos Aqui: Breve História de um Sound System Amazônico. Os debates e a mostra ocorrerão nos mesmos dias, com entrada gratuita e classificação livre.
A expectativa é proporcionar ao público uma imersão completa na atmosfera das festas de paredão, com dois palcos e ambientes cenográficos, favorecendo o intercâmbio cultural e atraindo tanto o público acostumado à cultura dos paredões quanto os frequentadores do centro cultural. “O festival nasce da vontade de fazer circular pelo Brasil artistas que produzem festas muito importantes em suas localidades, mas invisibilizados em outros centros. Artistas do Nordeste, Norte, advindos de periferias e dos interiores do país. Nos propomos a conectar festas que possuem muitas similaridades entre si, mas estão distantes geograficamente”, comenta Jasmine Giovannini, diretora artística musical do festival.
Rita Fernandes é jornalista, escritora, presidente da Sebastiana e pesquisadora de Cultura e Carnaval.