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Rita Fernandes

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Um olhar sobre a cultura e o carnaval carioca
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Por que não vai ter carnaval na rua em 2021

Em decisão difícil, organizadores de blocos optam pelo cancelamento dos desfiles, atendendo aos médicos da UFRJ e da Fiocruz

Por Rita Fernandes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
4 nov 2020, 12h14
Blocos de carnaval, como Suvaco do Cristo participam de apresentações online.
Blocos: festas fechadas se tornam uma alternativa para os foliões (Foto Pulbius Vergilius/Sebastiana/Divulgação)
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Não, não vai ter carnaval na rua em 2021. Demorei uma semana para conseguir escrever sobre o tema, tamanha a tristeza diante da decisão. O debate aconteceu na 15ª edição do Desenrolando a Serpentina, evento produzido todos os anos pela Sebastiana, associação de blocos de rua. Realizado virtualmente pela primeira vez, o encontro contou com a participação de representantes da UFRJ e da Fiocruz que estão na linha de frente do combate ao vírus, que nos trouxeram perspectivas realistas sobre a doença, porém desanimadoras quando o assunto é o carnaval.

Roberto Medronho, coordenador do Grupo de Trabalho Multidisciplinar para o Enfretamento do Coronavírus da UFRJ, afirmou que até julho de 2021, no mínimo, não há condições de imunização e que qualquer tipo de aglomeração coloca em risco a população. Marilia Santini, médica infectologista da Fiocruz, concordou e trouxe dados atualizados sobre a pandemia, jogando por terra qualquer esperança de que poderíamos realizar a festa ainda no primeiro semestre.

Os representantes das ligas Sebastiana, Zé Pereira, Coreto, Sambare, Carnafolia, entre outras, e de vários blocos como Monobloco, Bola Preta, Empolga às 9, saíram daquela reunião com a certeza de que não seria possível remarcar o carnaval para o segundo semestre, restando a opção de cancelá-lo.

Desfile do Bloco Escravos da Mauá, por exemplo, reúne mais de 20 mil foliões.
Desfile do Bloco Escravos da Mauá, por exemplo, reúne mais de 20 mil foliões. (Publius Vergilius/Sebastiana/Divulgação)

E aqui apresento algumas das razões: 1) há toda uma preparação, inclusive de ânimos, para as festividades carnavalescas, com etapas de escolhas de temas, de samba, de artistas para as camisetas, realização dos ensaios e outros eventos que formam a rede de sociabilidade dos blocos; 2) no segundo semestre, a cidade tem um calendário próprio de eventos. Com a dimensão que o carnaval de rua tomou, é impossível pensar em realizar simultaneamente os desfiles dos blocos com a ocorrência de outros festivais. Ano que vem, por exemplo, tem o Rock In Rio. 3) na lógica do planejamento do carnaval, chegou agosto e já estamos pensando no ano seguinte.

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Sem condições de segurança de saúde para a população pela inexistência de uma vacina e a dificuldade nos prazos de imunização, realmente fica difícil resolver essa equação. No fundo, a verdade é que para nós, realizadores, não faz sentido transferir a festa para qualquer outro momento que não seja o do próprio carnaval. Até poderíamos fazer uma concessão para os meses de abril e maio, por exemplo, em caráter extraordinário em função da pandemia. Mas infelizmente a resposta dos técnicos foi não – endossada pela promotora do MP, Andrea Rodrigues Amin e pelo presidente em exercício da Riotur, Fabricio Villa Flor, presentes à reunião.

Boitata
(Publius Vergilius/Sebastiana/Arquivo pessoal)

É claro que estamos muito tristes! É claro que estamos super preocupados com as consequências da não realização do carnaval de rua para a cidade. Muita gente vai ficar sem trabalho, o impacto econômico negativo vai ser enorme. Mas assumimos que precisamos, antes de qualquer coisa, ser responsáveis com as pessoas. Carnaval é aglomeração e ponto. Não existe carnaval de rua com regras de isolamento e protocolos de distância. E o que fizermos na tentativa de cobrir essa lacuna, de ocupar alguns espaços para simbolizarmos o carnaval, será mera simulação.

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Algumas opções já estão sendo desenhadas em novos formatos. Faremos um calendário de “desfiles” e “festas” virtuais. Com certeza será o carnaval mais difícil que a gente já viveu. Mas estamos seguros de que tomamos a decisão correta e de que em 2022 a gente volta com força total. Que o espírito de Momo paire sobre nós apesar de tudo, e que a gente possa cair na folia dentro da nossa casa, com nossos familiares, para lembrar sempre que o estado de espírito de alegria e de festa, acima de tudo, tem o poder de cura! Evoé!

PS – O Cordão da Bola Preta, nosso bloco centenário, fez o pré-lançamento de uma campanha solidária de financiamento coletivo para ajudar o bloco a pagar as contas, muito atrasadas pela interrupção do calendário de eventos na sua sede. Quem puder contribuir com a campanha, está no site da Benfeitoria.

Rita Fernandes é jornalista, escritora, presidente da Sebastiana e pesquisadora de cultura e carnaval.

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