Caravana de Botecos pela Zona Norte do Rio leva grupo a bares tradicionais
Sob o comando de Guilherme Studart, conhecedor de bares e criador do Rio Botequim, passeio leva a vivências e degustação por bares da cidade
Pense num programa inesquecível! Recentemente, participei de uma Caravana de Botecos, promovida por Guilherme Studart, um dos maiores conhecedores de botequins do Rio. Realmente viver uma experiência de cidade com uma pessoa como ele ultrapassa o simples ir e vir. É preciso saber se mover, o que o nosso anfitrião definitivamente sabe como poucos.
A ideia era simples: percorrer, com um grupo de pessoas que amam botecos e aventuras, alguns bares do Rio, degustando o que há de melhor nos cardápios, tanto para comer quanto para beber. E quem escolhe os bares é ele, o criador do guia “Rio Botequim”, entre casas tradicionais e outras nem tanto, mas todas com excelência no quesito.
Éramos um grupo de 12 pessoas, que praticamente não se conheciam, acomodadas em um micro ônibus muito confortável. De cara, chamou a nossa atenção o ponto de partido – a porta da Igreja Santa Margarida Maria, na Lagoa –, no mínimo curioso, já que tudo que nos esperava naquele dia eram as encruzilhadas. Saímos dali, num sábado fora dos padrões do inverno carioca, cheio de sol e calor.
O roteiro começou pelo tradicional e maravilhoso Velho Adonis, em Benfica, na Zona Norte do Rio. Para quem não conhece, é um bar e restaurante especializado em iguarias da culinária portuguesa – mas não só, pois tem também pratos da cozinha mineira – que fica ali pertinho do Cadeg, o grande entreposto de frutas, legumes e verduras que também prima por excelente gastronomia.
O Adonis funciona desde 1952 no mesmo local e pertenceu à família de Joaquim Antero, até ser comprado, em 2019, pelo João Campos, ex Antiquários e Fasano, que deu uma alavancada no local. João não pode estar conosco nesse dia, mas deixou tudo preparado para que não faltasse nada ao nosso grupo.
Começamos com um caldinho de costela delicioso, servido em pequenas canequinhas, para abrir o apetite e preparar nosso fígado para o que nos aguardava naquela maratona. Em seguida, vieram arroz de costela, prato de acepipes – azeitonas pretas portuguesas, tremoços e torresmos –, alheiras com ovos fritos e bolinhos de bacalhau (o carro chefe da casa), com direito à vela para celebrar o aniversário do nosso anfitrião.
Comidas à parte – tudo excelente, de a gente não saber como se conter para encarar as próximas paradas –, não dá para não destacar o chope do Adonis, servido à mão, na antiga chopeira que o João comprou de volta. Descartada pela família dos antigos donos, foi recuperada e reinstalada no local. O chope do Adonis é simplesmente divino!! Não dá vontade de parar.
“O Adonis faz parte de um conjunto de bares considerados os clássicos da Zona Norte, juntamente com o Bar da Portuguesa, em Ramos; o Cachambeer, no Cachambi; e o Bar da Amendoeira, que fica em Maria da Graça”, vai contando Guilherme.
Do Adonis, fomos levados para o Bar Da Gema, na Tijuca, bairro que é reduto de excelentes opções. “A Tijuca congrega bares mais antigos e outros mais novos, sempre com uma boa qualidade. Ao contrário do Centro, que perdeu alguns dos melhores bares do Rio – Monteiro, Garota das Flores, Bar Luiz, Lisboeta, Timpanas, só pra citar alguns –, a Tijuca mantém a tradição”, diz Guilherme.
Ali nos esperava a especialidade da casa: polentinhas fritas cobertas de rabada, uma delícia! Surpresa também foi o caldo de jiló (jamais imaginaria que poderia ser tão bom!), seguido de porções de coração de galinha (que eu não gosto) com jiló frito (bom demais!). Sentados na encruzilhada, estávamos diante de mais três bares importantes do roteiro carioca tijucano, o Siri, o Estação Baião de Dois e o Cine Botequim, do mesmo dono do Baródromo, ali pertinho.
Nessa parada, fomos apresentados a duas cervejas incríveis da Cervejaria Paraphernalia, cujo casal dono da marca, Rubens e Renata, fazia parte daquele grupo de sortudos convidados. Uma era do tipo IPA e outra uma Red Ale, que degustamos ali, já com a promessa de visitar a fábrica, na Lapa.
Etapa final de um dia de muitas conversas, fomos para o Enchendo Linguiça, no Grajaú, também na Zona Norte. Já tendo ultrapassado totalmente a minha capacidade de comer e beber, juro que tentei dar o melhor de mim e encarar a rodada de linguiças especiais fabricadas no local e servidas com molhos de tomates e queijos. Para fechar o programa, acreditem, o “joelho de porco” assado na brasa. Não preciso nem dizer que todo o roteiro foi regado a diferentes chopes e cervejas, batidas, cachaças especiais e outras bebidas mais, que regaram o nosso dia.
Alguns dos meus novos amigos e amigas, super guerreiros, ainda conseguiram seguir para a última parada: uma esticada no Suru Bar, a sensação da Lapa. Não deu pra mim. Me despedi de todos, sem nenhuma condição de mais nada. Mas feliz da vida, por ter sido convidada para aquela aventura e implorando ao Guilherme que me convide sempre para as suas caravanas.
Foi um dia de conhecer gente nova e, acima de tudo, experimentar o que os bares têm de melhor. Beber e comer bem pelos botecos, com novos amigos, com o melhor guia de boteco que alguém pode ter. E, mesmo já conhecendo os bares em que estive, afirmo que a experiência foi absolutamente especial e diferente, mesmo para quem conhece essa cidade pelo avesso.
Rita Fernandes é jornalista, escritora, presidente da Sebastiana e pesquisadora de música, cultura e carnaval.