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Rita Fernandes

Por Rita Fernandes, jornalista Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Um olhar sobre a cultura e o carnaval carioca

Boa sorte e muitas bênçãos em 2021

Awurê lança seu primeiro EP com participação de Teresa Cristina, na data de celebração dos três anos do grupo e dia de São Sebastião, padroeiro da cidade

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Atualizado em 13 jan 2021, 18h32 - Publicado em 13 jan 2021, 17h30
"O que o Awurê nos traz é de uma beleza do tamanho que a gente merece! É muito bonito ver a pesquisa que eles fazem, o cuidado que eles têm", diz Teresa Cristina.
"O que o Awurê nos traz é de uma beleza do tamanho que a gente merece! É muito bonito ver a pesquisa que eles fazem, o cuidado que eles têm", diz Teresa Cristina. (Carolina Merat/Divulgação)
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Estamos a um mês do carnaval. Em um ano comum, a essa hora já estaríamos esquentando os tamborins. E não apenas eles, mas toda a bateria. Enquanto aguardamos que a vacina chegue e que a pandemia da Covid-19 seja controlada, boas notícias chegam de outros terreiros. No dia 20 de janeiro, dia do padroeiro da cidade, São Sebastião, e data em que comemora três anos de existência, o grupo Awurê lança seu primeiro EP nas plataformas digitais. E quem compôs a música de trabalho que leva o mesmo nome do grupo é nada menos que Teresa Cristina, numa parceria com Raul Di Caprio e ainda com a participação afetiva e efetiva do Ogan Bangbala que, aos 101 anos, é o mais antigo ogan vivo no país. O lançamento será transmitido pelo canal oficial do grupo no YouTube.

Duas semanas após a visita em que conheceu o quintal do grupo em Madureira, antes da pandemia começar, Teresa Cristina compôs a música Awurê, que traduz a sensação que ela e seu parceiro Raul Di Caprio tiveram quando estavam lá. “O que o Awurê nos traz é de uma beleza do tamanho que a gente merece! É muito bonito ver a pesquisa que eles fazem, o cuidado que eles têm. A gente chega no lugar e tem uma folha no chão, um repertório pensado no que a gente está vendo. Estou muito feliz em saber que, mesmo na situação que o Rio de Janeiro está, existe um lugar, um grupo, uma intenção de mostrar a beleza da cultura negra. Isso é uma coisa que não dá para falar em muitas palavras. Eu só agradeço”, pontua a cantora e compositora.

O quintal do Awurê, em Madureira, é um dos lugares mais sagrados de samba e ritmos africanos no Rio.
O quintal do Awurê, em Madureira, é um dos lugares mais sagrados de samba e ritmos africanos no Rio. (Carolina Merat/Divulgação)

O EP “AWURÊ” traz seis canções inéditas, com ritmos atravessados pelos tambores de diversas células rítmicas oriundas da riqueza africana: Awurê (Teresa Cristina e Raul Di Caprio), “Filó” (Khrystal e Ricardo Baya), “Oyá Oyá” (Arifran Jr. E Cley Santana), “Ponto da Cabocla da Mata” (Luiz Antonio Simas) e “Pout-Pourri Samba de Roda” (Fabiola Machado, Arifran Jr., Cláudio Gamela e Daniel Delavusca) e “Opoxorô” (Raul Di Caprio) . O grupo, formado por Fabíola Machado, Arifran Jr., Anderson Quack e Pedro Oliveira, resgata a ancestralidade e combate a intolerância com arte.

“A arte também é alimento espiritual. Escolhemos esta data porque é aniversário do grupo e também dia de São Sebastião, o padroeiro do Rio de Janeiro. Este lançamento demostra o nosso respeito e cuidado com o público. Queremos resgatar a esperança em nós e nas pessoas que estão com a gente, sonhando e acreditando que é possível. E, apesar de tudo que vivemos no ano passado, levar uma mensagem de união e afeto, mostrando como foi a construção deste EP: de maneira coletiva, afetiva, cheia de mãos, olhos e abraços virtuais, aqueles que vamos dar presencialmente em breve”, sintetiza Fabíola Machado.

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O grupo, formado por Fabíola Machado, Arifran Jr., Anderson Quack e Pedro Oliveira, resgata a ancestralidade e combate a intolerância com arte. (Leandro Cunha/Divulgação)

“O fim do círculo é sempre recomeço”. O trecho de Opaxorô (Raul di Caprio), outra das canções do EP, define bem a estreia do grupo. “Através deste repertório, consolidamos a construção de toda nossa trajetória, pesquisa sonora e mistura de sons em que os tambores são os catalizadores dos ritmos. Um sonho planejado, mas que teve que ser redefinido”, relembra Arifran Jr. sobre o processo do disco. “Quando pensamos em lançar o financiamento coletivo, fomos surpreendidos pela pandemia. Nós vivemos de arte, não temos empresários ou patrocínio, e tivemos que fazer muitas escolhas – uma delas foi cancelar a agenda a partir de março de 2020”. O grupo teve, então, que mudar de estratégia. “Mas também foi um ano de muito aprendizado e de olhar o que somos não somente como grupo musical, mas também como o que construímos de conceito e identidade”, reforça.

O termo ioruba Àwúré faz menção e desejo de boa sorte, bênçãos e prosperidade. Constituído na pluralização oriunda por diversos estilos musicais como samba, ijexá, jongo, samba de roda e toques de candomblé, o Awurê nasceu em janeiro de 2017, em Madureira, de um encontro despretensioso entre amigos músicos de diferentes influências, cuja trajetória se estabelece na importância e na beleza de todo legado africano. Desde então, além de uma roda de samba mensal no Quintal de Madureira, o grupo já se apresentou em diversos espaços culturais do Rio. Agora, é curtir o EP e torcer para a vacina chegar logo para que a gente possa, novamente, estar em lugar tão sagrado como o quintal do Awurê. Boa sorte para todos nós, feliz 2021!

Rita Fernandes é jornalista, presidente da Sebastiana, pesquisadora de cultura e carnaval.

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