Almerio e Martins na Casa Julieta de Serpa
Os dois artistas da nova e talentosa geração pernambucana desembarcam no Rio com shows hoje e amanhã, e trazem repertório com clássicos e novidades
Duas noites que prometem o melhor da música pernambucana contemporânea, hoje e amanhã, na Casa Julieta de Serpa, no Flamengo. Afastados dos palcos por conta do isolamento imposto pela pandemia, os cantores Martins e Almerio retornam ao Rio depois de dois anos para apresentações no JClub, no projeto Bossa Nova In Concert, hoje e amanhã, às 21h.
É programa imperdível. Martins e Almerio são duas forças criativas da natureza, cada um com seu estilo. Com suas sonoridades que falam da terra, das origens, dos amores e afetos e das coisas cotidianas da vida, eles prepararam shows com o melhor das suas composições e de outros parceiros.
O show de Martins é hoje à noite e o de Almerio amanhã, mas ambos dão canjas nos dois. Martins contará com as luxuosas participações de Juliano Holanda, Chico Chico, Duda Brack, enquanto Almerio no dia seguinte recebe Juliana Linhares, que gravou o novíssimo Nordeste Ficção, em participação especial.
Martins é um compositor muito criativo, cheio de nuances no jogo de palavras das suas letras. Canta as coisas do Recife, como a geografia da cidade que inspira os versos de Por Dentro. É como um olhar atento às minúcias do cotidiano. Gestos, memórias, paixões e desilusões são paisagens transformadas em versos, que ele canta lindamente com sua voz aveludada, tão doce que envolve a gente a ponto de dar vontade de levar Martins pra casa.
“O último show que eu fiz com público foi no carnaval de 2020 no Recife. Então de lá pra cá, tem quase dois anos que não toco para o público presencial. Esse é o primeiro, e vai ser justo aqui no Rio. É um prazer enorme poder voltar a essa cidade e é muito simbólico ser aqui, porque gosto muito da geografia do lugar, das pessoas, dos artistas. É uma alegria enorme”, diz Martins.
Quem conhece sua obra vai ter oportunidade de escutar clássicos da sua discografia, como A Gente se Aproveita e Estranha Toada, ambas em parceria com outro músico pernambucano, PC Silva, Vértebra Por Vértebra, a incrível Tarcísio (minha predileta) e a mais pedida de todas, Me Dê, com sua levada meio ijexá.
Mas o show vem carregado de novidades, com oito composições novas feitas durante a pandemia e que se tornaram conhecidas nas inúmeras lives que fez durante esse período: Bike Laranja, Não Adianta, Tua Voz, Vê se desaperta coração, Deixe, Interessante e Obsceno, O que Pintou e Um Suor um Calor.
“Nesse show vou apresentar algumas canções do meu primeiro disco solo, que eu lancei em 2019, mas é um show também de canções inéditas. Que inclusive vão virar um álbum novo, só de canções produzidas no período da pandemia. Estou muito ansioso e muito feliz em poder mostrar um pouco do meu trabalho e da minha força”, conta Martins.
Almerio vem de uma cidade do interior do Agreste de Pernambuco, Altinho, e é uma potência artística. Visceral. Brilho puro, na voz e na presença de palco. Quem ouve não esquece nunca mais. Depois da apresentação no Palco Sunset do Rock in Rio, ao lado de Johnny Hooker e Liniker, em setembro de 2017, o pernambucano ganhou, em 2018, o prêmio de Cantor Revelação do Prêmio da Música Brasileira.
Almerio faz uma mistura de músicas da MPB, e, ao mesmo tempo, une sons eletrônicos a pífanos, alfaias, violas e zabumbas, referências da sua cidade e de Caruaru, para onde mudou jovem e deslanchou na carreira de cantor. No show de amanhã, ele traz composições de Juliano Holanda como Deixa Soar, Do Avesso, Trêmula Carne, outras da também pernambucana Isabela Morais, como Segredo e Quero Você (uma autoria conjunta dos dois), Queria ter pra te dar, do amigo compadre Martins, e outras canções de Alceu Valença e Geraldo Azevedo.
“Esse é um show especial mesmo porque ele é pouquinho de cada disco meu, de cada fase minha. Então ele é mesclado com muita coisa nova, homenagens e participações especiais como Juliana Linhares e Martins. Ficar afastado dos palcos é de uma tristeza sem fim, você ter que lidar com a sua mais profunda ansiedade. É estar numa espécie de limbo solitário, porque o artista já é muito solitário no processo de criar. Foi muito doloroso ficar longe do público, mas a gente precisa continuar a se cuidar para se distancie dessa pandemia de vez”, enfatiza o cantor.
Duas noites que prometem uma imensa troca de arte, de afeto e de renovação para quem tiver a oportunidade de estar lá. A Casa Julieta de Serpa está trabalhando com capacidade reduzida e com todos os protocolos de segurança sanitária exigidos no momento. Salve a música, a arte e os jovens cantores pernambucanos que vieram ao Rio para nos brindar com tanta poesia.
Rita Fernandes é jornalista, escritora, presidente da Sebastina, pesquisadora de cultura e carnaval.