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Rita Fernandes

Por Rita Fernandes, jornalista Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Um olhar sobre a cultura e o carnaval carioca

Alalaô Kiosk: a vanguarda de uma praia que reúne a carioquice da cidade

Quiosque no Arpoador tornou-se point do verão, como um centro cultural a céu aberto na orla carioca, com exposições de arte, rodas de samba e de ska

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30 mar 2023, 11h52
Samba do Orelhão, roda acústica, realizada sempre às quintas-feiras, sucesso na programação do Alalaô Kiosk.
Samba do Orelhão, roda acústica, realizada sempre às quintas-feiras, sucesso na programação do Alalaô Kiosk. (Marcus Wagner/Arquivo pessoal)
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A mais importante imagem do Rio é a praia. Sinônimo de elegância desde a década de 1910, tornou-se espaço de civilidade e modernidade, como escreve Julia O’Donnel em seu livro a “Invenção de Copacabana”. Hoje, um ponto em especial chama a atenção na orla carioca, com projetos culturais que reforçam a ideia de que há uma vocação da cidade a partir desse lugar. O Alalaô Kiosk, no Arpoador, é um projeto cultural de vanguarda e muita criatividade na cena cultural da cidade.

Idealizado pelo designer Marcus Wagner há cerca de 12 anos, hoje reúne uma programação musical e de artes que chama a atenção, reforçada pela arquitetura do local, que se assemelha a um origami. Destaque para as exposições, que funcionam como uma galeria a céu aberto, e para os eventos musicais como o Samba do Orelhão, às quintas-feiras, e a Roda de Ska, realizada uma vez por mês, aos domingos. Chris Martin, vocalista do Coldplay, em sua passagem em terras cariocas durante o Rock In Rio de 2022, parou por ali e dançou ao som dos metais. O vídeo viralizou, colocando ainda mais em evidência o Alalaô.

O projeto do quiosque, na verdade, começou com uma série de exposições de artes e performances, tipo de eventos que Marcus Wagner já realizava naquele trecho de praia há muitos anos. A primeira exposição ali foi a “Invenção do Arpoador”, feita a partir de reportagens sobre o local, que mostravam a descoberta do uso da praia pelo carioca no século XX. E como Ipanema, que até a década de 1920 era mera paisagem, tornou-se arena dos principais eventos da cidade, passando a integrar uma certa personalidade do Rio.

A primeira exposição ali foi a “Invenção do Arpoador”, feita a partir de reportagens sobre o local, que mostravam a descoberta do uso da praia pelo carioca no século XX.
A primeira exposição ali foi a “Invenção do Arpoador”, feita a partir de reportagens sobre o local, que mostravam a descoberta do uso da praia pelo carioca no século XX. (Marcus Wagner/Arquivo pessoal)

Depois veio “Carnaval Arte Total”, realizada durante o carnaval cancelado de 2021, que mostrou a influência que as escolas de belas artes de Paris, Londres, Berlim e Rio exerceram, desde o século XIX, sobre a estética do carnaval carioca. Em abril de 2021, foi a vez do Projetos para o Jardim de Alah”, em que estudantes holandeses de Watermanagement, Construction, Urban Planning, Real Estate tiveram a oportunidade de olhar para a Praia de Ipanema, seus desafios e oportunidades hídricas. Em um workshop intensivo, desenvolveram pensamentos e designs para a exposição “Costa Carioca, Paisagem em Transformação”.

Mire novos ângulos: o conceito do projeto

A arquitetura e o mobiliário do Alalaô Kiosk também merecem destaque pelo design, funcionalidade e todo o conceito de sustentabilidade do projeto. Assinado pelo arquiteto Pedro Évora, durante a pandemia contou com uma obra que transformou o antigo quiosque. Como apresentado pelos idealizadores, fechado ele se reduz a um bloco compacto. Aberto, conta com uma variedade de formatos das janelas basculantes que possibilitam inusitados e variados reenquadramentos da paisagem. Uma turbina eólica no topo do quiosque gera energia sustentável.

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Com tantas possibilidades de olhares, no sentido literal e metafórico, o certo é que o lugar se transformou em um dos principais pontos culturais do Rio, descontraído e cheio novidades. Além da efervescência musical, uma dessas novidades foi a celebração do Dia de Yemanjá, no 2 de fevereiro, que reuniu ali um grupo de terreiros na praia, com oferendas, cantorias e celebrações. Idealizado pelo músico Marcos André, o evento recebeu representantes de casas de umbanda e candomblé de linhagens centenárias, além de grupos de jongo, afoxé, samba e maracatu. “O evento merece destaque no sentido de que produziu, de fato, transformação do território a partir da cultura, que é a nossa proposta com o projeto”, diz Marcus Wagner.

Dia de Iemanjá no Arpoador- 2023
A celebração do Dia de Iemanjá, no 2 de fevereiro, reuniu no Arpoador um grupo de terreiros , com oferendas, cantorias e celebrações (Marcus Wagner/Arquivo pessoal)

Para saber mais sobre de como se deu a invenção do Alalaô Kiosk e o que vem por aí, confira a entrevista abaixo com o idealizador de tudo, Marcus Wagner, que responde também pelo famoso Baile do Sarongue, realizado há 12 anos no pré-carnaval.

Para ficar por dentro da programação, basta seguir @alalao_kiosk.

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Você começou o projeto do quiosque como um lugar de arte e sustentabilidade. No entanto, ele ganhou novos contornos, principalmente dando espaço à música, no período pós-pandemia. O que aconteceu, trazendo esses eventos musicais?

Marcus: O projeto ALALAÔ é anterior ao quiosque. Na praia temos todo tipo de esporte e lazer, e o projeto propõe arte ao ar livre. Desde 2012, realizou várias intervenções no Arpoador. Durante a pandemia nasceu uma parceria com a Orla Rio, concessionária que administra os quiosques. Em 2021, criamos, no Arpoador, o primeiro quiosque cultural da orla carioca. À medida que o convívio social foi voltando, pude incluir música na programação.

Qual deles veio primeiro, o Samba do Orelhão ou o a Roda de Ska? Eles chegaram até vocês, ou vocês que foram em busca desses movimentos?

Marcus: Vários grupos já se apresentaram no ALALAÔ KIOSK. Sob curadoria, alguns se oferecem, outros são convidados. Dou preferência para projetos que sejam desenvolvidos para o lugar. Foi o caso do SAMBA DO ORELHÃO, a RODA DE SKA e do BISOLAR. O samba, como sempre, nasceu primeiro. Queria fazer uma roda de samba acústica, sem microfone, onde todos cantassem. Dois amigos, Ricardinho Maia e Daniel Osório, estavam comigo nessa ideia, reuniram um grupo que já tocava com eles em Inoã, Maricá. O nome da roda surgiu da obra do artista austríaco Martin Ogolter, que estava sendo exibida no ALALAÔ na ocasião. A exposição se chamava 12 Conversas e uma Festa, tinha uma intervenção carnavalesca num orelhão instalado ali ao lado.

Sua experiência vem principalmente de eventos ligados à arte e performances. Há um calendário de exposições para 2023? Que outros projetos estão sendo inventados?

Marcus: O quiosque completou dois anos em fevereiro, os projetos estão expandindo, reconfigurando o espaço e o público local. O ALALAÔ defende a força que a cultura possui de transformação de território urbano. Apesar da beleza do lugar, aquele quiosque estava meio abandonado. O Arpoador é uma espécie de síntese do Rio, cartão postal real “purgatório da beleza e do caos”. Pôr do sol mais aplaudido do planeta e berço do arrastão. O estado atua há trinta anos aumentando o policiamento. Queremos transformar com atividades culturais. Com relação às exposições, existem alguns projetos novos, mas não temos um calendário fechado para a programação. Dependemos muito de São Pedro.

Qual o perfil do público que hoje frequenta o quiosque? Você acha que a orla do Rio é um lugar bem explorado do ponto de vista cultural?

Marcus: O perfil do público é variado, mas, em comum, a descontração, o estilo de vida. Somos o único ponto da orla onde o público pode ter acesso a uma programação envolvendo arte e exposições sobre a cidade. Um exemplo bacana, super atual, aconteceu em janeiro de 2021. Exibimos vários projetos de alunos holandeses para o canal do Jardim de Alah. Uma questão urbana que está latente hoje. Projeto do arquiteto Pedro Évora que costurou a parceria da Orla Rio com o Consulado da Holanda. A prefeitura poderia estimular mais esse tipo de iniciativa de interesse público.

Rita Fernandes é jornalista, escritora, presidente da Sebastiana e pesquisadora de cultura e carnaval.

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