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Rafael Mattoso

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Curiosidades sobre o subúrbio carioca
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A Tijuca completa 262 anos

Em comemoração, vamos rememorar alguma de suas belas histórias

Por Rafael Mattoso Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 7 jul 2021, 17h47 - Publicado em 7 jul 2021, 16h50
Praça Saens Peña, comemora110 anos  (internet/Divulgação)
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Nesta quarta (7), a primeira do mês de julho, parabenizamos a Tijuca pelo seu aniversário de 262 anos. Esse grande bairro da Zona Norte do Rio de Janeiro tem muitas histórias e motivos para comemorar.

Em 2021, celebramos também outros símbolos importantes: o Parque Nacional da Tijuca, que ontem fez 60 anos de criação, e a Praça Saens Peña, com 110 anos completos. Do mesmo modo, os tradicionais colégios Batista Shepard e o Colégio Militar fizeram respectivamente 113 e 132 anos, além do Tijuca Tênis Clube que no mês passado completou 106 anos.

A diversidade é uma característica marcante dessa bela região da cidade, que cresceu ao longo do tempo entre montanhas, rios e floresta e se constituiu socialmente em meio as favelas, praças, cinemas, clubes, escolas de samba, galerias, shoppings e bares.

A história tijucana remonta um período bem anterior à nossa colonização, antes da ocupação jesuítica e da posterior expulsão dos religiosos, em 1759. As terras que hoje conhecemos como Grande Tijuca, composta atualmente pelo Andaraí, Maracanã, Praça da Bandeira, Muda, Usina, Alto da Boa Vista e pela própria Tijuca, já eram há muito ocupadas pelos índios tupinambás.

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O jornalista e escritor Rafael Freitas da Silva, autor do livro “O Rio antes do Rio”, cita relatos que datam de 1567, onde o invasor francês Jean de Léry apresentava a taba de Jabebiracica como uma das aldeias mais importantes da Guanabara. Jabebiracica, que significa arraia cortada, provavelmente tem esse nome em função da retirada do ferrão das arraias locais para usarem, tanto o artefato como seu veneno, na confecção das pontas de flechas.

A aldeia estaria localizada entre o sopé da vertente norte do Maciço da Tijuca, os manguezais do extinto Saco de São Diogo, nas proximidades da atual Praça da Bandeira, e a Enseada de São Cristóvão. Logo, concluímos que essa grande região era bem povoada e que a ocupações indígenas ficava em um ponto estratégico para a conquista e interiorização territorial.

O nome da Tijuca foi herdado deste período, como resultado natural da abundância de rios que cortam a região. Tanto o rio Maracanã, vindo do Alto da Boa Vista, como os rios Trapicheiros e Joana, ajudaram a criar na língua nativa a junção dos termos tupi: “ty” e “iuc”, formando uma expressão para denominar áreas de brejo, lama ou água parada de cor escura.

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A mesma oferta de água que possibilitava a pesca trouxe a agricultura e posteriormente várias indústrias para a região. O clima fresco agradava aos condes, viscondes, barões e imigrantes europeus, como recursos para tentar fugir do calor tropical. Porém, antes das chácaras, fazendas e da produção de café e tabaco instalarem-se na Tijuca, foi o engenho dos padres da Companhia de Jesus e a igreja que  edificaram responsáveis pelas bases da expansão.

Capa do livro Tijuca de rua em rua, na imagem vemos uma pintura de escravos trabalhando no engenho de velho de São Francisco Xavier
Livro de 2004 sobre a História da Tijuca de autoria de Lili Rose e Nelson Aguiar (Divulgação/Arquivo pessoal)

Segundo a pesquisadora, arquiteta e urbanista Claudia Barbosa Teixeira, o bairro da Tijuca foi nascendo a partir da ocupação jesuítica nas terras que receberam quando da fundação da cidade. O Engenho Velho, como ficou conhecido, foi implantado ainda no século XVI e, de acordo com alguns cronistas, entre 1582 e 1585, já havia sido erguida uma capela no local, entre o rio Trapicheiro e o Morro da Babilônia, a pedido do padre José de Anchieta.

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Como São Francisco Xavier só viria a ser canonizado em 1622, somente a partir dessa data podemos considerar que a capela tenha recebido seu nome. Quando da extinção da Companhia de Jesus no Brasil, em 1759, a capela serviu de sede paroquial da freguesia de Nossa Senhora da Apresentação de Irajá, da qual o Engenho Velho de São Francisco Xavier pertencia.

A igreja se tornou paróquia matriz no ano de 1795. A partir de então, como única paróquia de toda região por um longo período, ganhou destaque na vivência religiosa e social. Com o desmembramento das terras jesuítas surgem propriedades menores, fragmentando o território que originalmente ligava o Engenho Velho às demais propriedades, tornando a igreja o polo centralizador em torno do qual a Tijuca foi sendo estruturado.

Claudia conclui que devido à sua importância histórica na formação do bairro, a igreja foi tombada pela municipalidade no ano de 2003. O templo ainda se destaca por seu grande adro cujo acesso é ladeado por palmeiras imperiais e pela grandiosidade da edificação religiosa, uma das maiores da região. Em seu interior há três relíquias de grande valor histórico: a pia batismal, provavelmente de 1627, a mais antiga em uso da arquidiocese do Rio; a imagem de Nossa Senhora das Dores, presente da Imperatriz D. Teresa Cristina no ano de 1880; e um fragmento do osso do braço de São Francisco Xavier, doação do Papa Pio XI em 1931, data em que a paróquia foi agregada à de São João de Latrão em Roma, que é considerada igreja-mãe de todos os templos católicos.

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Foto da Igreja de São Francisco Xavier na Tijuca
foto da Igreja São Francisco Xavier (Augusto Malta/Internet)

A historiadora e colagista Lili Rose aponta para o fato de atualmente a Tijuca possuir grande quantidade de templos religiosos, por vezes vizinhos, apesar de pertencerem a diferentes denominações. Um destaque também deve ser dado à Igreja de São Sebastião dos Frades Capuchinhos, situada na Rua Haddock Lobo. Mesmo sento muito mais recente, construída no final da década de 1920, ela igualmente abriga vários objetos históricos e artísticos. Guarda o Marco de Fundação da Cidade, em pedra, transferido após a demolição do Morro do Castelo, a imagem original do padroeiro da cidade, São Sebastião, e os restos mortais do fundador Estácio de Sá.

Outra importante instituição educacional e religiosa da Tijuca é o centenário Colégio Batista Shepard, inicialmente fundado em 1908 com o nome de “Colégio Batista Americano Brasileiro”. Visando a ampliação de suas atividades a escola adquiriu, em 1911, um terreno que pertenceu à chácara do Barão de Itacuruçá, na atual Rua José Higino, logo inaugura o Edifício Judson, no ano de 1917.

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Foto em preto e branco do centenário prédio do Colégio Batista Shepard da Tijuca
Colégio Batista Shepard (Divulgação/Arquivo pessoal)

São tantas histórias incríveis dentro de um mesmo lugar. Vidas que se estendem do asfalto até o topo dos morros, cruzando o Parque Nacional da Tijuca. Parque este que tem o segundo ponto mais alto do município do Rio de Janeiro, o Pico da Tijuca, com 1022 metros de altitude. Lembrando que também acabamos de completar 160 anos do decreto onde D. Pedro I, emitiu, em 1861, as primeiras instruções para o plantio de novas mudas, assim como, conservação da mata da Floresta da Tijuca.
Lá do alto vemos o Morro do Borel, da Formiga, do Salgueiro, do Turano, Casa Branca, Catrambi, Indiana, etc. Assim como contemplamos as Praças Varnhagen, Afonso Pena, Xavier de Brito e Praça Sáenz Peña. Essa última, outrora Largo da Fábrica das Chitas, teve seu nome alterado para homenagear ao presidente da Argentina, Roque Saenz Peña, quando este veio em visita a cidade.
Existem muitas Tijucas e toda elas podem e precisam ser contadas e cantadas. Desde a Tijuca Profunda de Aldir Blanc aos batuques do Jongo, Samba, Caxambu e Folias de Reis das quadras, terreiros e morros até o batidão e a música eletrônica que atraem os playboys e jovens tijucanos.

Fica aqui nossa pequena homenagem para essa tão grande Tijuca que continua a produzir suas encantadoras histórias.

Este texto foi escrito por Rafael Mattoso, em parceria com Claudia Barbosa Teixeira, Arquiteta e Urbanista. Doutora em História Política pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro e Professora do curso de Pós-Graduação em História da Arte Sacra na Faculdade São Bento, e com Lili Rose Cruz Oliveira, colagista e historiadora com especialização em Museologia pela University of Nevada.

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