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Por Rafael Mattoso, historiador
Curiosidades sobre o subúrbio carioca
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Breves reflexões sobre as eleições presidenciais de 2022

Os subúrbios almejam a volta de um país com mais amor, esperança e oportunidades

Por Rafael Mattoso Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 29 out 2022, 02h55 - Publicado em 28 out 2022, 18h56

Em pleno ano do bicentenário da independência e faltando somente duas semanas para completarmos os 133 anos da proclamação republicana, o país se depara com uma das eleições mais importantes do contexto pós-redemocratização, sendo apenas o nono pleito direto para presidente depois do fim da ditadura militar.

Percebemos nitidamente que a polarização política, intensificada nos últimos anos, tem produzido cada vez mais um clima de hostilidade, preconceito, ódio e violências.

Confesso que experienciar tudo isso, em meio a um período de tantos ataques, fake news, e ainda sentindo as dores pelos mais de 15 milhões de mortos por covid no mundo, sabendo que 688 mil desses cidadãos eram brasileiros, é algo extremamente agonizante. Como historiador e educador que sou é praticamente impossível não tecer reflexões criticas sobre esse momento tão delicado. Mesmo assim, fiquei um bom tempo sem estímulo, sem vontade mesmo de escrever, pensando se valeria a pena me desgastar mais compartilhando publicamente minhas angústias.

Agora que busquei fôlego provavelmente serei taxado pelos mais radicais e reacionários, pejorativamente, como esquerdista, comunista ou petista, simplesmente pelo fato de perceber a necessidade de dividir algumas sinceras opiniões sobre as eleições de 2022.

Passeata pela democracia com centenas de pessoas carregando faixas e bandeiras
(Fabrício Goyannes/Arquivo pessoal)

Os resultados parciais do primeiro turno e o próprio tom da campanha eleitoral tem evidenciado um incontestável movimento de radicalização em direção a extrema direita, flertando até mesmo com propostas fascistas. Certamente tudo isso culminará nas urnas, no dia 30 de outubro. Infelizmente, logo no mesmo dia que rememoramos a morte da doutora Nise da Silveira, um das maiores defensoras da democracia e da medicina, psiquiatra reconhecida mundialmente por sua contribuição na humanização do tratamento mental.

Coincidentemente, as eleições presidenciais serão decididas no mesmo mês em que completam 100 anos da morte do escritor negro e suburbano, Lima Barreto, critico veemente da república dos bruzundangas. Lima parecia prever nossos dias atuais quando retratou em sua ficção um país onde elites mesquinhas se apropriaram do poder. Na nação dos bruzundangas o presidente era conhecido como “Mandachuva”, ele entrou na política por influência do sogro que buscava uma boa colocação para as filhas. O livro apresenta a história de um governante que só chegou à presidência graças à sua ignorância e logo que se viu empossado se cercou de sua “clientela”.

É no mínimo estranho constatar que há exatos 100 anos um dos maiores fascistas de todos os tempos chegava ao poder, através da intimidação e da violência política. Benito Mussolini contou com apoio de seguidores extremistas e armados, os camisas negras, para organizar uma passeata chamada de “Marcha sobre Roma”, em 28 de outubro de 1922. Mussolini, assim como Adolf Hitler, ascenderam ao poder estimulando discursos de ódio, alteridade partidária, perseguições aos opositores, propondo interferência no Judiciário e Legislativo, supostamente em nome da pátria e da família. Porém, não podemos esquecer que estes líderes totalitários tiveram apoio de grandes empresários e comerciantes capitalistas para financiarem suas campanhas e propagandas.

É inusitado constatar que completam exatos 80 anos onde o Brasil enviou 25 mil soldados para lutarem e ajudarem a vencer a expansão nazifascista, durante a segunda guerra mundial. Infelizmente, 467 pracinhas brasileiros perderam a vida no combate. O mais triste é ver que neste ano de 2022 Giorgia Meloni, líder neofascista, acaba de se tornar primeira-ministra da Itália. Enquanto isso, em nosso próprio país, nessa ultima semana policiais federais são recebidos por mais de 50 tiros de fuzil e granadas disparados por um ex-deputado federal.

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Confesso que não tenho aqui a pretensão de influenciar diretamente as pessoas, sei que provavelmente muitos nem terão disposição de ler esse texto ou capacidade de chegar até esse ponto, realmente dispostos a dialogar e refletir conjuntamente. Contudo, vou encerando essa coluna tentando manter o otimismo, guiado pela esperança por mudanças e com a clareza que somos muitos, que fazemos a diferença e que junto seremos ainda mais fortes.

Só espero que a partir desse domingo tenhamos mais motivos para acreditar em um futuro diferente. Acreditar em um governo onde os professores não serão chamados de vagabundos, os favelados não sejam vistos como bandidos, os quilombolas não sejam tratados por arroba e onde não se comparem os servidores públicos a inimigos que precisam receber granadas no bolso. Um Brasil em que a educação e a saúde não sofram com constantes ameaças e cortes de verbas, onde não haja negacionismo frente as ciências e num tempo em que as florestas não sejam destruídas por ganância.

Nesta eleição tenho visto muitos suburbanos darem ótimos exemplos, ensinando na prática com devemos estender as mãos e juntar os braços para lutarmos lado a lado pela democracia, pela cidadania e por mais oportunidades. São por esses que teimo em seguir acreditando, são com esses que me identifico. Por aqueles que muitas vezes repartem o pouco que tem, mesmo em tempo de escassez, por se solidarizar com a dor do próximo. É com e por essa maioria de brasileiros negros, mulheres, trabalhadores, nordestinos, indígenas e pelos religiosos que seguem em comunhão com a verdadeira fé, naquela que não é negociada por falsos pastores e messias, que votarei nesse dia 30 de outubro.

Artistas de rua carregando uma faixa pelo democracia, no centro da cidade
(Fabrício Goyannes/Arquivo pessoal)
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