O Leão Etíope do Méier completa seus 10 anos abrindo o carnaval
Movimento de resistência cultural suburbana celebra, gratuitamente e na rua, seu aniversário com grandes atrações de presente para o público
O mês de fevereiro chegou trazendo para as ruas a maior festa popular do Brasil. Em meio à folia, não podemos esquecer da essência suburbana do carnaval carioca.
Na cidade onde, praticamente, tudo começa ou termina em samba, precisamos destacar alguns fatos importantes. Não é apenas no grupo especial que a grande maioria das escolas de samba tem origem nos subúrbios. Cabe aqui recordar a História do concurso que envolveu as pioneiras agremiações da época. Em um domingo, do dia 20 de janeiro de 1929, teria ocorrido na casa de Zé Espinguela, onde hoje se encontra a atual Escola de Samba Arranco do Engenho de Dentro, a primeira disputa entre os ranchos carnavalescos Deixa Falar, que deu origem à Estácio de Sá, Conjunto Oswaldo Cruz, que virou a Portela, e Mangueira.
Vinte anos depois, num dia 31 de janeiro de 1949, ocorreu o grande gurufim do professor Paulo da Portela, fundador da centenária azul e branco de Madureira. Seu velório contou com muito samba, dança, bebida e foi acompanhado por cerca de 15 mil pessoas presentes no cemitério de Irajá.
Em 2024, mesmo ano que celebramos quatro décadas da inauguração do Sambódromo, não podemos deixar de lado a relevância dos desfiles na famosa Estrada Intendente Magalhães. Assim como, é necessário valorizar os incontáveis blocos e tradicionais redutos do carnaval suburbano. Um ótimo exemplo vem do Bloco Carnavalesco Loucura Suburbana, que na próxima quinta feira, dia 08/02, vai sair às 17h do Instituto Municipal Nise da Silveira para tomar as ruas do Engenho de Dentro.
O clima momesco deste final de semana também nos convida a comemorar juntos ao coletivo suburbano Leão Etíope do Méier. O Leão festeja sua primeira década de incansável atuação, sempre com curadorias arrasadoras e uma disposição inesgotável para trazer profissionalismo, qualidade, diversidade, criticidade e muita diversão gratuita para as ruas da zona norte.
E para celebrar essa primeira década teremos, ocupando os pés do centenário coreto do Jardim do Méier, dois nomes fundamentais do nosso carnaval: A Orquestra Voadora e o Cacique de Ramos, acompanhados do famoso DJ Lencinho, além da aguardada estreia do Cordão do Leão.
Aproveitando para celebrar seu 15° carnaval, a Orquestra Voadora se junta ao Leão, pela quarta vez, para abrilhantar a festa com seu bloco irretocável, abrindo caminho para a sequência o carnaval carioca.
A magnitude da comemoração do Leão ainda conta com a presença ilustre do Cacique de Ramos. O Cacique tombado como Patrimônio Cultural e Imaterial do Estado do Rio de Janeiro, também acabou de completar seu aniversário de fundação, que data de 20 de janeiro de 1961. A agremiação histórica vai fechar a noite do aniversário leonino e promete esbaldar os corações do público presente.
Há dez anos, o Leão Etíope do Méier tem levado, principalmente, para a Praça Agripino Grieco e o Jardim do Méier atrações culturais variadas, entre shows, apresentações, aulas-debate, exibições de cinema e muito mais, superando o número de 150 edições já realizadas. Entre os nomes de destaque que passaram pelo projeto podemos citar: Zezé Motta, Hamilton de Holanda. Nei Lopes, DJ Serralheiro, Orunmilá, Carlos Malta, Teresa Cristina, Carlos Moore, Marielle Franco, Flávia Oliveira, Katiuscia Ribeiro, Renato Nogueira, Maíra Freitas, Jonathan Ferr, Mc Marechal, Orquestra Voadora, Filhos de Gandhi, Caxambu do Salgueiro recebendo Tia Ira da Serrinha, Luiz Antônio Simas, Tambores de Olokun, BNegão, Abayomy com Carlos Negreiros, quinteto de metais da Petrobras Sinfonica, Afrojazz, Hermeto Pascoal, Jards Macalé, Carlos Dafé, Marcelo Yuka, Síntese, entre muitos outros.
Vale destacar que o Leão Etíope do Méier é fruto da solidariedade e coletividade suburbana, graças a uma rede de equipe voluntária, atualmente formada por Carol Luz, Pedro Costa, Vanessa Dias, Rafael Fernandes, Felipe Lélis, Pedro Rajão e o mascote Júlio Barroso, o bloco pode ocupar as ruas.
O pesquisador musical, apresentador e DJ Lencinho descreve o projeto: “Acompanho o Leão Etíope desde que ele surgiu, há dez anos atrás. Como morador de Jacarepaguá que escolheu trabalhar com cultura a partir dos anos 90, sempre ouvia que precisava ir para o centro ou zona sul. Mas a partir de 2010, começou a ter um movimento de uma galera que não queria se deslocar para muito longe e achava importante que seus bairros também tivessem suas próprias manifestações culturais.
O leão é mais um capitulo escrito por produtores, artistas, moradores e entusiastas que acreditam na força dos movimentos culturais. O fato do Leão Etíope estar completando uma década mostra que existia realmente uma demanda de pessoas querendo receber esses conteúdos, assim como, artistas, conjuntos e bandas que precisam chegar a novos lugares. Viabilizar as condições para essa troca acontecer é o grande mérito do projeto.”
A preocupação em manter esse incrível trabalho funcionando é grande e constante. A captação de recursos é sempre um dos maiores desafios para realização dos eventos. Segundo o DJ, produtor e pesquisador Pedro Rajão, fundador da Facção cultural Leão Etíope do Méier, como ele mesmo denomina o projeto, o que mais gostaria que o Leão recebesse de presente no seu aniversário seria: “Uma política pública de fomento direto, pra além de editais, iniciativas culturais que envolvam ou não o comércio local, mas que valorizem o impacto social e econômico no bairro que este trabalho promove.”
Parabéns para o Leão Etíope do Méier e para a Livraria Belle Époque, ações que acabam de fazer aniversário de criação e resistência, a partir do Méier, e seguem contando com apoio tanto da comunidade suburbana, assim como, da iniciativa pública e privada para ampliarem sua atuação e transformação!