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Por Patrícia Lins e Silva, pedagoga
Educação
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O abismo nosso de cada dia

 A escola do século 21 traz para os alunos as discussões e decisões dos problemas reais globais para garantir a vida no planeta

Por Patricia Lins e Silva Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
26 out 2021, 19h04

Vivemos à beira de um ataque de nervos, tensos, olhando o abismo, sem saber se será desta vez que cairemos. E do abismo exumam fanatismos, com guerras religiosas e étnicas, ódios e disputas de narrativas.
A pandemia desvelou sem disfarces a desigualdade sócioeconômica global e se alastrou uma inquietação, misturada com ignorância e intolerância, e que, na verdade, é mesmo a velha disputa pelo poder econômico, sempre na mão de poucos, que não querem mudar nada, nem que seja para que tudo fique como está, como na sábia e cínica frase do personagem de Lampedusa no romance Il Gattopardo.
Enquanto isso, emergem questões mal resolvidas da História, como nosso pensamento colonizado, nosso racismo estrutural e a heterogeneidade de gêneros. Problemas antigos, abordados de ângulos diferentes, trazem uma discussão saudável e fértil, libertadora, mas que para muitos soa ameaçador, com o temor de perder o modo de pensar default.
Mas, acima de tudo, paira a ameaça maior do colapso ambiental, com o aumento do aquecimento global, causador das mudanças climáticas e da degradação da biodiversidade. É difícil fugir desta realidade, mas, espantosamente, até o momento, o poder econômico tem vencido a competição sobre a continuidade da vida. Sabemos que o quadro é alarmante, o que leva muitos a atenuar a verdade desagradável e esquecer o futuro (que, afinal, a Deus pertence…).
Mas educadores não aceitam esta solução. Salvar o planeta tem que ser a prioridade, junto com a luta contra as desigualdades socioeconômicas e o respeito entre todas as espécies vivas. É esta a luta das novas gerações. É a atual preocupação das cabeças que sabem pensar, dos cientistas, que por sua vez tentam alertar as cabeças políticas para, pelo menos, se chegar a um equilíbrio na economia, a fim de dar fôlego ao futuro enquanto não se resolve o sistema econômico hegemônico.
Num momento destes, a ignorância é inaceitável, já que a educação e a ciência é que podem apontar soluções para o enfrentamento da crise e apoiar inovações que acabem com ela. Enquanto o ministério da educação do atual governo aposta no obscurantismo absoluto e serve a uma política arcaica, de inimigos inexistentes e interesses perversos, os países que prezam a civilização investem em educação e ciência porque têm clareza de que o objetivo prioritário da humanidade agora é evitar a extinção das espécies.
É hora da escola se transfigurar, mudar a orientação transmissiva de cultura, conhecimento e informações e se voltar para orientar uma discussão permanente dos alunos sobre o tipo de economia e tecnologias disponíveis atualmente e que tipo de impacto têm na sociedade; o conhecimento que se construiu até aqui é transmitido às gerações seguintes não como um objetivo em si, mas como base para discutir ações futuras e não repetir erros. A escola assume papel de  vetor de modificação da sociedade.
A escola do século 21 traz para os alunos as discussões e decisões dos problemas reais globais, sobre a economia hegemônica, o tipo e o uso das técnicas usadas e o quê melhor servirá à sobrevivência no planeta. Um exemplo simples é a diferença entre uma sociedade que gera energia com combustível fóssil e uma sociedade que usa a energia eólica ou outras soluções de energia limpa. A escola vai formar um público apto a escolher e decidir entre as várias tecnologias e as várias formas de distribuição do trabalho e do capital, implicando diferentes futuros.
Com o abismo à nossa frente, a inércia não é solução. Essa situação nefasta não foi criada pelas novas gerações que acreditavam que o melhor sempre seria feito para proteger o futuro. Não se correspondeu à confiança e elas ficaram com a responsabilidade das soluções. Pelos menos, as escolas devem se obrigar a instrumentaliza-las o melhor possível para a tarefa.

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