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Patricia Lins e Silva

Por Patrícia Lins e Silva, pedagoga Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Educação
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Por que a educação em casa pode ser um equívoco

Crianças têm o direito à educação escolar, onde se inserem na cultura da sociedade. Mesmo na escola virtual, há uma preocupação com a interação entre alunos

Por Patricia Lins e Silva Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 7 abr 2021, 14h08 - Publicado em 7 abr 2021, 13h23
Criança estudando em casa com a mãe
'Escola Doméstica': movimento não tem nada a ver com a pandemia e com a necessidade das aulas on-line (Freepik/Reprodução)
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É muito triste assistir ao descalabro que está acontecendo na educação brasileira, ou melhor, ao seu desmonte nos últimos pouco mais de dois anos. Um tempo em que passaram pelo cargo mais de 3 ministros ineptos e os secretários das áreas mais importantes da pasta também foram substituídos com frequência jamais vista. É difícil compreender que pessoas que frequentaram a escola, que chegaram ao fim da educação básica e talvez até de uma faculdade, se empenhem tanto em impedir que o conhecimento e a cultura cheguem à população. Assistimos a um culto à ignorância.

O projeto de orçamento capenga, recentemente votado pelo Congresso, diminuiu a verba destinada à educação. E veio o pedido de demissão da secretaria do INEP, responsável pela avaliação do ensino, e que estava no cargo desde agosto de 2020, sucedendo a uns 4 secretários antes dela. Tudo em pouco mais de dois anos. E pelo histórico e discurso, as perspectivas não são melhores.

Agora circula a proposta de lei a ser votada pelos deputados que permitirá que as crianças não frequentem a escola, o que é obrigatório no Brasil.

A reivindicação de uma ‘Educação Doméstica” tem como modelo os movimentos evangélicos conservadores norte-americanos. Certamente os pais têm o direito de criar seus filhos dentro de seus valores e sistemas de crenças, mas não podem priva-los da frequência à escola com o objetivo de evitar que sejam expostos a opiniões e princípios diferentes dos seus. Por que impedir os filhos de conhecer outras concepções de mundo?  

Nos picos da pandemia, por necessidade, a escola se transfere para o espaço virtual e mantem os alunos em casa. Mas não é uma escolha. E, mesmo na escola virtual, existe a preocupação de manter a interação e a cooperação entre os alunos. Nossa espécie é gregária, precisa dos outros e se desenvolve na troca entre saberes, pontos de vista e percepções diversas.  

O movimento da ‘Escola Doméstica’ não tem nada a ver com a pandemia e com a necessidade da aprendizagem on-line. É um movimento anacrônico, de famílias conservadoras que querem negar aos filhos o direito de frequentarem a escola para mantê-los isolados, para que não sejam expostos e influenciados por visões de mundo diferentes.

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A ‘Escola em Casa’, ou homeschooling, um anglicismo muito usado nos dias de hoje, sempre existiu. Serve para crianças cujos pais moram em regiões onde não existe escola acessível, para crianças que são atletas ou artistas, com horários incertos de treinos e trabalho, para crianças com afecções graves que impossibilitam seu deslocamento, enfim, para crianças com razões plausíveis para não frequentar a escola. Mas sem uma razão legítima, por que manter os filhos em casa?

Na maior parte das vezes, os pais não estão habilitados nem têm tempo para assumir a educação escolar de seus filhos. Um professor passa por longa formação para acompanhar a construção de conhecimento das crianças, que é uma tarefa complexa, que exige estudo e experiência. E como atestar que essas crianças e jovens estão aprendendo as habilidades básicas e os valores democráticos para se tornarem cidadãos do país?

A sociedade precisa proteger o direito das crianças à educação escolar. A escola introduz a nova geração à cultura da sociedade – hábitos, modos de ser, de fazer, de se comportar, conhecimento, valores importantes e comuns. E na escola se convive com opiniões, crenças, ideias e valores diversos, o que é importante na formação das pessoas porque faz refletir e amplia a capacidade cognitiva.

A segregação limita a formação intelectual das crianças e jovens, que ficam reduzidos a um único modelo de pensamento, sem o direito de questionar que impulsiona a inteligência. Para a criança é uma lástima, pois corre o risco de construir uma visão de mundo estreita, medíocre, com parca imaginação e exíguos sonhos e objetivos de vida. Para a sociedade é um desperdício, porque perde talentos que podem contribuir para renovar a cultura humana. E acaba numa inadmissível valorização da ignorância ao rejeitar o acervo cultural proposto na escola.

Além da consequência nefasta para a ampliação do conhecimento, a criança dentro de casa todo o tempo fica mais vulnerável a abusos. Especialistas afirmam que as taxas de abuso aumentaram com as tensões nas famílias devidas ao isolamento obrigatório na pandemia. Os professores na escola compartilham as suspeitas de abuso e de negligência com os serviços de assistência social, que é uma maneira de proteger essas crianças.

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A maioria dos pais não maltrataria seus filhos, mas sabemos que a preocupação não é uma fantasia. A Escola em Casa é uma porta aberta para esconder maus-tratos. Basta procurar nos aplicativos de busca para encontrar histórias dramáticas em número suficiente para justificar que, na escola, é possível detectar, proteger e defender as crianças que passam por dificuldades.

Não é aceitável deixar que uma criança deixe de frequentar a escola por causa de fundamentalismo religioso, que não é uma razão justa e admissível.

Crianças e jovens precisam de liberdade para experimentar vivências novas, amigos diversos, exercer sua curiosidade, vontade de saber, pensar, brincar. É uma bagagem que adquirem na cooperação com os pares, nas experiências na escola e no convívio familiar, o que pavimenta o caminho de suas escolhas futuras. 

Lugar de crianças e jovens é na escola. 

 

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