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Patricia Lins e Silva

Por Patrícia Lins e Silva, pedagoga Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Educação
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Volta à escola ou ‘a escolha de Sofia’

Os riscos do retorno das crianças à sala presencial podem ser avaliados nas respostas a três perguntas

Por Patricia Lins e Silva Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 13 jul 2020, 12h20 - Publicado em 13 jul 2020, 12h18
Escola
Aulas: imbróglio entre as esferas municipais e estaduais da educação (Shubham Sharan/Unsplash/Veja Rio)
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Como garantir a saúde das crianças na volta à escola ou ‘a escolha de Sofia’.

       Com as escolas fechadas desde março por causa da pandemia, as crianças e jovens estão há mais de quatro meses sem a normalidade de um dia escolar. E não podemos esquecer o longo tempo sem qualquer educação formal para as crianças que não têm acesso a aulas on-line, porque não possuírem computadores nem acesso à internet. Para elas, não voltar à escola pode causar danos irreparáveis para cada uma individualmente e para o futuro do país. Além de impedir que os pais saiam para trabalhar e ganhem o sustento da família.

       Há dúvidas sobre a reabertura das escolas no Brasil porque a pandemia continua grave, mas, na verdade, estamos diante de uma ‘escolha de Sofia’: ou as crianças vão à escola, com os riscos existentes, e ficam aos cuidados da instituição para que os pais retomem o trabalho, ou continuam fora da escola, sem acesso ao que a instituição proporciona, obrigando pelo menos um dos pais a não trabalhar.

       Além do mais, a escola supre outras necessidades além de estudos acadêmicos. Como diz Emily Boudreau, no artigo Educating Ethically (gse.harvard.edu), as escolas, no mundo inteiro, funcionam como lugares de atendimento. Fornecem alimentos, serviços sociais, enfermagem, exames dentários, de visão, terapia física e ocupacional, umas com mais serviços e outras com menos. Como as escolas (públicas) são a instituição que alcança praticamente todas as crianças, principalmente no Ensino Fundamental e Médio, é prático e eficiente que seja lá que se distribuam bens universais ou públicos para crianças e suas famílias. A escola é muito mais do que apenas uma instituição educacional que trata de aprendizagem. É uma instituição comunitária. O conceito de educação escolar implica o pertencimento a uma comunidade, que só se desenvolve com a participação de outras pessoas. O ambiente da escola não é adaptado a uma criança individual, mas à educação de uma comunidade. As escolas integram um sistema que apoia o bem-estar das crianças e das comunidades em geral. A aprendizagem é objetivo específico das escolas, mas não é seu único valor institucional. A escola de Ensino Básico é um elemento importante dos cuidados infantis.

       Todos os esforços agora devem ser dirigidos para um investimento significativo nas escolas, nos prédios escolares, equipando-os com tudo de que necessitam para a volta segura à escola tanto dos alunos quanto das equipes pedagógicas e administrativas.

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       Mas como garantir a saúde das crianças e da comunidade escolar na volta à escola?  Não se pode garantir nada, mas é possível avaliar o nível de risco ao analisar as respostas a três questões, diz a jornalista Charlotte Jee, em artigo publicado na MIT Technology Review (01/07/20).

       A primeira questão é saber qual a suscetibilidade das crianças à covid-19. Depois, é preciso considerar qual é o efeito da Covid-19 nas crianças infectadas e, por fim, investigar se elas transmitem a doença para outras pessoas. As respostas a essas perguntas nos dariam uma ideia dos riscos envolvidos caso as crianças voltem a frequentar a escola.

       Charlotte Jee menciona diversos estudos e pesquisas, como um recente, da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres (LSHTM), que, por sua vez, se baseou em dados da China, Itália, Japão, Cingapura, Canadá e Coréia do Sul, publicados na revista Nature Medicine, que diz que as crianças são menos propensas a serem infectadas pelo Coronavirus do que os adultos. Uma outra pesquisa, desenvolvida pelo Centro de Controle e Estudos realizados por pesquisadores da University College de Londres, mostrou que menores de 18 anos tinham menos 56% de probabilidade do que os adultos de contrair o Covid-19 de alguém infectado. Mas as crianças tendem a ter contato físico mais próximo com as pessoas, o que poderia diminuir a vantagem de serem menos propensas ao vírus. De qualquer modo, esses estudos sinalizam que a suscetibilidade das crianças à Covid-19 é moderada.

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       O efeito do Covid-19 nas crianças infectadas costuma ser bastante brando e o óbito é muito improvável, afirma um estudo da mesma Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres (LSHTM). Um estudo da revista Public Health constatou que a taxa é inferior a 1 em 3 milhões. E Jee diz que existe, sim, uma síndrome inflamatória em crianças ligada à covid-19, mas que é muito rara, na afirmação de Tina Hartert, professora de medicina do Instituto Vanderbilt de Infecção, Imunologia e Inflamação em Nashville, Tennessee. Com esses dados, caso as crianças contraiam o vírus, a tendência parece ser uma recuperação segura.

       A última questão é esclarecer se crianças infectadas são transmissoras de Coronavírus. A jornalista recorre ao especialista em doenças infecciosas da Universidade de Columbia, Jeffrey Shaman, que responde, muito simplesmente, que ‘não se sabe’. Um menino de nove anos infectado nos Alpes franceses não transmitiu o vírus a ninguém, apesar do contato com mais de 170 pessoas até o diagnóstico. Já pesquisadores da Universidade de Berlim concluíram que as crianças podem carregar a mesma carga viral que os adultos.

       Mas, aparentemente, as crianças são mesmo de baixo risco de contágio, entre si e com os adultos com quem entram em contato. Charlotte Jee fala de um artigo dos especialistas em doenças infecciosas pediátricas da Universidade de Vermont, Benjamin Lee e William Raszka, publicado na revista Pediatrics, que relata diversos casos de crianças infectadas que não infectaram outras pessoas no ambiente escolar. Os contatos domésticos também não ofereceriam risco: muito poucas transmissões pareceram ser de criança para adulto, o que sugere que as crianças não são apenas de baixo risco umas para as outras, mas também para os pais e outros adultos. Na convivência escolar, os professores devem estar sempre com máscaras e todos os adultos pertencentes a grupos de risco devem ficar fora do ambiente escolar, protegidos.

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       As escolas que voltaram ao funcionamento presencial em todo o mundo organizaram horários e medidas de distanciamento, elaborados para diminuir o contato entre os grupos. Caso aqui haja a volta presencial, é de se esperar um período de adaptação de todos – escolas, alunos, professores, pais e funcionários – às medidas de segurança. Todos vão encontrar a mesma escola, mas com um funcionamento bem diferente. Os alunos e a comunidade escolar deverão ser acolhidos com afeto, paciência e tranquilidade, enquanto se habituam à nova maneira de conviver. E a escola deve estar sempre pronta para agir com flexibilidade, monitorar de perto qualquer surto, e tornar a fechar quando necessário.

       É compreensível que alguns pais ainda não se sintam suficientemente seguros para mandar seus filhos de volta à escola. Mas a maioria dos adultos reconhece que existe a necessidade de considerar, de um lado, os riscos sanitários e, de outro, os benefícios da educação presencial para as crianças. A escola é muito mais do que matérias, conteúdos, provas e testes. Na escola, as crianças aprendem a socializar, a conviver, a dividir, a argumentar, a ter responsabilidade social, a saber e praticar o que é cidadania além de construir conhecimento e valores. E depois de tanto tempo em casa, elas precisam sair e encontrar outras crianças, o que é importante para sua saúde e para seu bom desenvolvimento.

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