Quitéria Chagas relança biografia e destaca força da mulher preta
"Eu fui parida de kimono na sala de parto. Ali começou minha história: no tatame, cercada de força", conta em entrevista exclusiva pra VEJA RIO

“Esse livro é sobre memória, resistência e pertencimento”. É assim que Quitéria Chagas, histórica Rainha do Império Serrano, define sua biografia que será relançada na Bienal do Livro Rio 2025. Nas páginas da obra o público encontra a trajetória profissional da artista, mas também as violência simbólicas e solidão comuns as mulheres pretas.
O relançamento de Quitéria Chagas: do Carnaval para o Mundo – a Rainha que Quebrou Barreiras marca um novo momento da autora, que aposta na literatura como ferramenta de memória, identidade e transformação. “O que mais me toca nesse livro é poder contar como uma mulher preta, que começou como passista, conseguiu romper barreiras e ocupar espaços onde a gente não costumava ser vista”, destaca.
+ Bienal do Livro: Garis cariocas com um pé na arte
Ela foi a a primeira rainha de bateria a ganhar a Medalha Tiradentes, a levar temas como empoderamento feminino para a avenida, a fazer novela na Globo e a sair em capas de revistas nacionais. Mas o que pouca gente sabe é que também atuou como doula voluntária. “Os médicos me olharam espantados: ‘Mas você não é aquela rainha do samba?’ . As pessoas não imaginam a dimensão do que a gente vive fora da imagem que projetam sobre nós”, relembra Chagas.
Sobre sua ligação com a Império Serrano destaca a agremiação como espaço de formação, de resistência e de força feminina. Lembrando Dona Ivone Lara, retoma o momento em que ajudou a aprovação da lei do Dia Nacional da Mulher Sambista, fundamental para dar visibilidade real dentro e fora da avenida para as mulheres do samba.
+ Quem são os substitutos de Neguinho da Beija-Flor, escolhidos em reality
De onde vem tanta força? Ela explica que já no nascimento seu destino estava traçado. “Minha mãe era faixa preta de karatê e estava treinando até os nove meses. Eu fui parida de kimono na sala de parto. O médico achou um absurdo, mas ali começou minha história: no tatame, cercada de força. Vim ao mundo com esse espírito de quebrar o que esperavam de mim”, finalizou.