Parlamentar juvenil sofre transfobia na Alerj
Durante reunião de votação de projetos Emilie Araújo sofreu preconceito de outra representante juvenil: "cientificamente deputado"
Pela primeira vez em quinze edições o Parlamento Juvenil da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro teve uma representante trans. Mas Emilie Araújo, eleita pelo município e Macaé, acabou sofrendo transfobia dentro da Alerj por parte de outra parlamentar jovem.
O caso aconteceu na última quinta (28/11) durante uma reunião de votação dos projetos nas comissões do Parlamento Juvenil. Durante um questionamento, Sammyra Hellin, eleita por Natividade, se referiu a Emilie no masculino, chamando-a de “deputado”.
Questionada por colegas na sessão a qual parlamentar se referia, Hellin respondeu que estava questionando Emilie, sendo imediatamente corrigida para que a chamasse no feminino. Porém ela insistiu no ato transfóbico e emendou: “cientificamente deputado”.
Mesmo advertida formalmente pela presidência da mesa, a representante de Natividade continuou seu questionamento à Emilie se referindo no masculino. Imediatamente o presidente finaliza a discussão e justifica: “Devido a falta de ética moral por parte de alguns deputados essa discussão foi finalizada” (confira o trecho no vídeo abaixo).
Na sessão de encerramento do Parlamento Juvenil 2024, no dia seguinta (29/11), o caso voltou a tona. O deputado Daniel Librelon, coordenador do projeto, afirmou que “as arestas foram aparadas e houve um pedido de desculpa”, sem entrar em mais detalhes de quem teria se desculpado e de qual forma.
Emilie, por sua vez, afirmou na sessão que ser a primeira mulher trans eleita para o Parlamento Juvenil é um marco e que estava extremamente feliz. “Ver como fui acolhida aqui, independente das ideias ou opiniões concretas que alguém possa ter, me mostrou que fiz o meu papel. Provar que não existem barreiras e limites pra estar onde estamos hoje”, comentou.
Procurado pela coluna, a assessoria de comunicação da Alerj não respondeu nosso contato com questionamentos sobre o ato de transfobia ocorrido dentro da assembleia. O Parlamento Juvenil elege estudantes eleitos em seus municípios em uma simulação do trabalho parlamentar, elaborando, debatendo e votando projetos de lei.
Atualização (02/12 – 17h59):
No fim da tarde de hoje (02/12) a Alerj respondeu a solicitação da coluna sobre esclarecimentos do que aconteceu na sequência da sessão em que houve o ato de transfobia. Confira abaixo na íntegra a nota enviada pela assessoria de comunicação da assembléia.
“Assim que tomou conhecimento da situação, a coordenação do Parlamento Juvenil (PJ) prontamente implementou todas as medidas cabíveis e com a severidade e o rigor necessários. As estudantes foram chamadas para uma conversa esclarecedora, com o suporte também de coordenadores da Secretaria Estadual de Educação, e após esse momento as parlamentares juvenis disseram ter resolvido tudo entre elas. Em seguida, a estudante Samyra reconheceu o seu erro e pediu perdão a Emilly na presença dos demais 93 deputados do PJ.
Vale observar que a situação foi conduzida de forma equilibrada e educativa, por se tratarem de jovens adolescentes. As estudantes, assim como todo o grupo de PJs, terão um ano de mandato para representarem seus municípios, de forma respeitosa e ética, dando ainda muito orgulho para suas famílias, pois compreenderam ao longo das dinâmicas do programa que política se faz pautada no respeito mútuo, com compromisso e responsabilidade”.