Drag Race – Organzza afirma: “Não é racismo estrutural. É bem estruturado”
Campeã da primeira edição da franquia brasileira fala com exclusividade com a coluna sobre racismo e a conquista da coroa
Campeã da primeira edição de Drag Race Brasil, Organzza fez um discurso importante ao saber que tinha sido a vencedora durante a Watch Party oficial. Ao receber a coroa como primeira drag superstar brasileira afirmou que fará um reinado incendiário, se referindo aos ataques racistas que sofreu durante a exibição do programa.
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Em entrevista exclusiva para a coluna, a drag queen relembrou que já existiram casos de racismo em outras franquias internacionais de RuPaul’s Drag Race e até mesmo que no histórico de outros realities brasileiros, mesmo que não sejam de drag, também ocorreram. Sobre sua própria experiência, destacou que os ataques racistas ligados ao reality começaram antes do anúncio oficial de que ela seria uma das competidores, quando sua participação era ainda apenas rumores, assim como sofre em toda sua vida. “É importante deixar claro que não foi a primeira vez que isso aconteceu comigo e infelizmente não é a última vez que vai acontecer”, afirmou.
Por isso mesmo afirma que não dá para falar em racismo estrutural. Organzza pontua que é “uma estrutura muito bem construída e que todo mundo sabe muito bem que está fazendo uso”. A campeã quer aproveitar sua visibilidade com a vitória no programa para combater a certeza que essas pessoas têm da impunidade e destaca: “Não vou tacar fogo em ninguém, isso não é literal. Mas é isso que vou mudar. Essas pessoas vão ter que lidar com isso agora porque eu não vou me calar”.
Na entrevista contou que até sua mãe sofreu ataques: “As pessoas mandaram mensagem pra ela dizendo que se me encontrassem na rua iam acabar com a minha vida. Imagina ver a minha mãe, um senhora preta de 62 anos, sofrendo em casa chorando porque o filho dela estava vivendo o sonho e talvez pudesse ter seu sonho destruído”.
Sobre levantar sua voz afirma que preferia não ter que falar a respeito, mas precisa. Lembra que muitas vezes é acusada de colocar a pauta racial em tudo e ter um discurso de ódio e rancoroso. “O discurso de ódio era o que as pessoas estavam fazendo há meses em relação a mim, sem nunca ter feito nada por elas. Apenas pelo simples fato de eu ter nascido uma pessoa preta”, destaca.
Dizendo que essa pauta fará parte do seu reinado lembra que durante todo o programa levantou a questão: “A minha roupa da promo já está falando sobre isso. Falo desde o dia 1”. Mas também pontuou a felicidade em ter vencido o programa e realizado um sonho: “Foi uma sensação de dever cumprido, que meu propósito foi entregue. Poderia ter sido um pouco mais fácil, mas valeu a pena tudo que eu me propus a fazer até chegar no resultado final”.
Relembrando toda a trajetória até a vitória acredita que voltou mais certa do propósito enquanto artista “Tenho 25 anos trabalhando com arte e tudo que sou, uma pessoa pobre, preta, periférica, sempre me atravessou enquanto artista. Isso ia sempre comigo enquanto produto artístico, mas acho que não com a consciência que tenho agora”, finalizou Organzza.