Diretora de Carnaval fala do desafio de comandar em um ambiente machista
Carla Brito é a primeira mulher a estar em um cargo tão importante a frente do carnaval do Rio
Os desafios de ser uma mulher no comando são conhecidos. Mas estar a frente de uma das maiores festas do país e lidar diariamente com um ambiente machista é ainda mais complicado. Primeira mulher a ocupar o cargo de Diretora de Carnaval da Liga RJ, Carla Brito conversou com a coluna sobre seu trabalho e o que podemos esperar do desfile das Escolas de Samba da Série Ouro este ano.
Apesar de criada dentro do mundo do samba – entrou para a escola mirim do Salgueiro aos 5 anos e chegou a fazer parte da ala de passistas da escola principal – e ter experiência profissional na organização do espetáculo – também atuou na produção da transmissão da TV Globo e na Equipe de Dispersão, Carla ainda precisa vencer a desconfiança de muita gente, mesmo estando pelo segundo carnaval consecutivo no cargo.
“Infelizmente no carnaval ainda tem o machismo. Quando há uma mulher no comando precisamos ficar mostrando o tempo todo que somos capazes de ocupar esse cargo. Tem também o preconceito de achar que tenho pouca experiência pro cargo, sendo que já são 24 anos trabalhando com o carnaval”, disse.
Comandando uma equipe de mais de 50 pessoas ela é responsável por organizar os ensaios na Sapucaí e o desfile oficial, além de ajudar as 16 escolas da Série Ouro dando apoio sobre o deslocamento das alegorias para o Sambódromo até da documentação necessária.
O resultado de tanto trabalho já pode ser observado nos Ensaios Técnicos, que pela primeira vez aconteceram de forma pontual. “Mulher é sempre organizada. Focamos em ser pontual por respeito ao público e aos componentes, até mesmo pela dificuldade do transporte público na hora dessas pessoas voltarem pra casa”, comenta.
Mesmo assim Carla continua enfrentando resistência e destaca o apoio de Wallace Palhares, presidente da Liga RJ, como fundamental: “Eu trabalho com transparência e esse é o ponto forte da nossa parceria de trabalho”. Seu principal desafio é fazer as pessoas entenderem que o trabalho tem como objetivo proteger e dar apoio às escolas.
Orgulhosa de ser a primeira mulher a estar em um cargo de chefia na organização do Desfile das Escolas de Samba, acredita que isso irá inspirar outras pessoas. “Acredito que estou abrindo portas para que elas acreditem que podem fazer trabalhos no carnaval que até então eram só de homens”, analisa.
Sobre o desfile da Série Ouro Carla acredita que cada vez mais haverá interesse pelos desfiles do grupo de acesso e credita isso ao suporte financeiro que as escolas recebem, permitindo fazer um carnaval melhor: “A luta do Wallace para conseguir a parceira da transmissão na Band está abrindo portas para patrocinadores para as escolas, além dos recursos e apoio que ganham do Governo do Estado e da Prefeitura”.
O fato do grupo de acesso ter também escolas que já estiveram no Grupo Especial eleva o nível dos desfiles, mas a diretora de Carnaval faz questão de destacar que nos Ensaios Técnicos até as escolas vindas da Série Prata apresentaram um nível de excelência alto. “Além disso o nosso carnaval é mais do povão, então as arquibancadas estão lotando”, finaliza.