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Por Analice Gigliotti, Elizabeth Carneiro e Sabrina Presman Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Psiquiatria
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Titi Müller e o fim do tesão nos casamentos

A falta de apetite sexual, alegada pela apresentadora para o fim de sua união, acertou em cheio muitos casais durante a pandemia

Por Analice Gigliotti
Atualizado em 19 ago 2021, 12h35 - Publicado em 19 ago 2021, 09h44
Retrato da apresentadora Titi Müller.
Titi Muller: ao falar de si, apresentadora tocou em ponto sensível de muitos casais. (Internet/Reprodução)
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“A gente parou de transar”. Foi com essa justificativa honesta e objetiva que a apresentadora Titi Müller explicou o fim de seu casamento, oficializado em setembro de 2019, em depoimento ao podcast da jornalista Renata Ceribelli, no “Fantástico”. Titi explicou seu contexto íntimo e pessoal. Mãe de um bebê de pouco mais de um ano, o tesão que sentia ainda na gravidez desapareceu e agora ela e o marido se viam apenas como parceiros e amigos. “Nosso fim está estritamente ligado ao fim da nossa libido enquanto casal”, completou.

Foi o suficiente para as redes sociais repercutirem o assunto. É possível que o acúmulo de obrigações tenha contribuído para a situação do casal. O fato é que a pandemia do coronavírus foi um verdadeiro strike na vida sexual dos casados. Mirian Goldenberg, antropóloga e professora da UFRJ, realizou uma pesquisa muito interessante sobre a vida sexual dos casais durante a pandemia.

O estudo de Mirian apontou que 60% dos casais afirmam que o tesão sumiu ou reduziu de forma significativa desde o surgimento da Covid-19. Para cerca de 30% dos entrevistados não houve alterações no desejo e 10% relataram que a vida sexual está melhor e mais frequente do que antes.

Quando Miriam foca exclusivamente nos 60% que estão fazendo menos sexo, a conversa fica ainda mais curiosa. Ela os divide em três grupos. O primeiro é daqueles que transavam regularmente antes da pandemia e agora não tem mais interesse no assunto. O desejo simplesmente foi endereçado para outras atividades da vida. Nesses casos, ou o sexo já foi bom um dia e hoje não faz mais falta ou, especialmente entre as mulheres, o sexo era ruim e a pandemia foi a desculpa perfeita para não fazê-lo mais.

O segundo grupo identificado por Mirian é formado por casais que sempre tiveram uma vida sexual frequente e saudável, mas foram fortemente abalados pela pandemia. Como manter o tesão com medos, inseguranças, desemprego, falta de dinheiro, crise política, home office, crianças com aula online e mortes contadas aos milhares? São pessoas que têm a consciência de que o tesão existe e está ali, mas ele não está achando seu espaço, temporariamente. Goldenberg, no entanto, ressalta que o amor, o carinho e a intimidade aumentaram com a convivência intensa. Se o tesão está de férias, o amor passou na prova dos nove dos últimos meses.

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Por fim, o terceiro grupo do estudo de Goldenberg é composto por pessoas que pararam de transar e não sabem se um dia o desejo voltará. Estão reticentes e alertas, à espera de entender como corpo e mente sairão de um fato tão concreto e avassalador como a pandemia.

O comportamento sexual do brasileiro identificado pela pesquisa de Mirian Goldenberg encontra espalhamento em outros países. Segundo a rede BBC, estudos conduzidos na Itália, Turquia, Índia e Estados Unidos apontam na mesma direção: uma queda na frequência sexual de todas as populações, atribuída diretamente ao confinamento e isolamento social.

A pesquisa de Mirian Goldenberg é rica porque comprova que Titi Müller não está sozinha. E talvez isso explique o tamanho interesse em sua vida particular e a grande repercussão que o assunto ganhou: quando uma pessoa famosa dá a cara a tapa e assume um comportamento que muitos julgariam constrangedor, pode ser libertador e poderoso.

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Analice Gigliotti é Mestre em Psiquiatria pela Unifesp; professora da Escola Médica de Pós-Graduação da PUC-Rio; chefe do setor de Dependências Químicas e Comportamentais da Santa Casa do Rio de Janeiro e diretora do Espaço Clif de Psiquiatria e Dependência Química.

 

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