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Psiquiatria
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“Dopesick”: por que você não pode perder a série?

Indicada ao Globo de Ouro, programa narra a crise dos opioides nos Estados Unidos

Por Analice Gigliotti
Atualizado em 21 dez 2021, 13h04 - Publicado em 21 dez 2021, 09h50
Imagem de divulgação da serie "Dopesick".
Michael Keaton interpreta um dedicado médico que nota em seu consultório um perigoso aumento de pacientes viciados em opioides. (Star+/Reprodução)
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O fim do ano é o período em que começam a ser divulgados os indicados aos prêmios da indústria audiovisual americana. É quando chegam ao cinema e aos streamings algumas das suas principais apostas do ano. Nesta semana foram anunciados os indicados ao Globo de Ouro, concedido pela imprensa estrangeira que reside em Los Angeles.

Na categoria “Minissérie ou filme para TV” há barbadas que deram o que falar em 2021, como “Maid” e “Mare of Easttown”. Mas correndo por fora há uma série que merece a sua atenção: “Dopesick”, exibida no Brasil pelo streaming Star+. A história é baseada em fatos reais que aconteceram nos Estados Unidos nos anos 90.

 Em “Dopesick”, Michael Keaton interpreta Samuel Finnix, dedicado médico que nota em seu consultório um perigoso aumento de pacientes viciados em opioides, especialmente entre os trabalhadores de minas, não à toa: mais acidentes, mais dores. A constatação de Finnix já estava também no radar dos promotores federais e da Drug Enforcement Agency (DEA), que iniciam uma investigação para entender a correlação dos fatos e chegam à conclusão de que existe uma gigantesca conspiração na Purdue Pharma, um poderoso grupo farmacêutico.

A fabricante faz acreditar que os casos de dependência ao analgésico oxycontin é baixo, apenas 1% dos usuários. Porém as informações foram nitidamente falsificadas. O esquema acabou gerando uma das piores crises da saúde dos Estados Unidos, com centenas de pessoas mortas por overdose e milhões de norte-americanos viciados em opioides, gerando uma verdadeira epidemia.

A série é ainda mais oportuna em um momento em que o CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças) acaba de divulgar o número recorde de 100 mil mortes por overdose em um ano, de abril de 2020 a abril de 2021. Os números têm aumento constante há 20 anos e dobrou de 2015 para cá, classificando a situação como uma “verdadeira epidemia”, agravada significativamente pela pandemia.  Segundo a CDC, o aumento se justifica justamente pelo uso de opioides – assim como em “Dopesick”.

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É fundamental destacar um devastador efeito social do uso indiscriminado de tais substâncias: diante da dificuldade de seguir comprando em farmácias os opioides que exigem prescrição médica, como o próprio oxycontin ou o fentanil, houve um significativo crescimento de usuários de outros opioides – incluindo os ilícitos, como a heroína – para amenizar os sintomas de abstinência.

“Dopesick” é um retrato duro e contundente da ganância e da perversidade desmedida de algumas pessoas da indústria farmacêutica, sem limites morais ou financeiros. O mais grave é ter a clareza de que, muitas vezes, os órgãos regulatórios, que tem a missão de defender o cidadão, andam de mãos dadas com os maus feitos da indústria e seus interesses, armada por dinheiro e influência. Assistir à série tem efeito duplo: choca por fazer pensar que tudo aquilo foi possível e serve de alerta para que tal escândalo não se repita mais.

Analice Gigliotti é Mestre em Psiquiatria pela Unifesp; professora da PUC-Rio; chefe do setor de Dependências Químicas e Comportamentais da Santa Casa do Rio de Janeiro e diretora do Espaço Clif de Psiquiatria e Dependência Química.

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