Galeria residencial: obras de arte dão alma ao lar
Uma arte bem escolhida pode transformar completamente a atmosfera de um cômodo, adicionando profundidade, cor, vida e complexidade ao estar da casa
Se as paredes são as roupas da casa, as obras de arte seriam suas joias. E todos sabemos que um bom anel tem o poder de mudar totalmente qualquer visual.
Imagine entrar em uma sala onde cada parede conta uma história, onde cada curva revela um pedaço da alma de quem ali habita e onde cada cor presente desperta alguma sensação em quem observa.
A arte dá a capacidade única para emocionar e inspirar, e não é apenas reservada a exposições; ela também é um forte elemento para o seu projeto de interiores.
As paredes mostram os sentimentos de seus moradores
Quando pensamos em arte, é essencial considerar o diálogo que a peça vai estabelecer com o espaço e seus moradores. Transformadora de todos os ambientes onde está inserida, uma obra de arte desfruta de uma série de proveitos que elevam o espaço a uma dimensão onde cada tela, escultura ou foto se torna um portal para a introspecção e a conexão emocional. Ela permite que os moradores expressem sua personalidade, gostos e interesses que refletem a individualidade de uma pessoa, o que torna a casa um espaço mais pessoal e único. No entanto, o verdadeiro impacto da arte em um lar vai muito além da estética ou da mera casualidade.
A arte só atinge seu máximo potencial quando escolhida e posicionada com propósito, orientada por uma conexão pessoal e emocional. Seja através de uma ligação com a história da família ou simplesmente uma admiração pelo artista, cada peça escolhida deve ser um espelho da vida e das experiências de quem habita o espaço.
A receita é simples.
Passo 1: escolha o local
Não há regras do lugar ideal para as obras de arte, vai da imaginação aliada ao bom gosto na hora de decorar. Seja no hall de entrada, nos corredores, living, espaços gourmets, ou nos ambientes íntimos. Importante é transmitir aquela sensação de que o ambiente respira arte.
Evite apenas locais úmidos ou com incidência direta do sol para não desgastar ou danificar sua obra.
Passo 2: altura
Na hora de escolher a posição, analise o pé-direito do ambiente. A altura correta varia muito, mas tem um eixo do observador que é de 1,70 m a 1,60 m do piso. Caso o quadro fique acima de um móvel, deve haver uma distância mínima de 40 cm entre os objetos. Se o quadro ficar apoiado em prateleiras, siga a mesma regra da altura.
Passo 3: iluminação
Outro aspecto importante é a iluminação. Obras de arte ganham vida com a luz certa. Spots direcionados ou iluminação embutida podem destacar cores e texturas, criando um jogo de sombras que valoriza ainda mais a peça.
Um café na Galeria Cassia Bomeny
O bate papo da vez é com a uma das mais renomadas galeristas do Brasil, Cassia Bomeny. Sua galeria, localizada na badalada Garcia D´Ávila, foi inaugurada em 2015, e seu foco é desenvolver um programa de exposições voltado à produção de artistas a partir da década de 1970.
Manu: Na sua opinião, qual é o papel das obras de arte na decoração de um ambiente?
Cassia: A arte é sobre conexão, reflexão, pesquisa e encontro com o outro e com o desconhecido. Ela funciona como uma ponte que nos permite olhar para nós mesmos e para o mundo ao nosso redor. A raiz etimológica da palavra ‘decoração’ está relacionada a ‘trazer para o coração’, ou seja, personalizar e tornar única a sua casa. Cada obra conta uma história única e fala diretamente sobre quem a possui, refletindo a personalidade do colecionador, amarrando o conceito do projeto arquitetônico ao ambiente.
Manu: Como você acha que uma peça de arte pode transformar a atmosfera de um espaço?
Cassia: A relação entre arte e decoração é uma relação estética, mas transcende o senso comum não tratando apenas da aparência, mas sim das sensações. A arte na decoração cria uma sensação específica e uma atmosfera que torna o espaço singular, mais complexo e especial. Uma obra de arte pode harmonizar elementos díspares, criar coesão e equilíbrio no ambiente. Assim, a integração de obras de arte na decoração não só valoriza o aspecto visual, mas também promove uma experiência sensorial e intelectual, estimulando a conexão com o ambiente e com os outros.
Manu: Quais são os critérios que você considera ao selecionar obras de arte para a sua galeria?
Cassia: Uma galerista vai além do conceito de agitador cultural, é um pesquisador de arte. Dentro da ampla gama da produção artística, o galerista vai construindo e tecendo sua identidade nas obras selecionadas para fazer parte do acervo da galeria. A construção do acervo não é algo estanque e limitador, mas um organismo vivo que ressoa em todo o sistema de arte, lembrando que o conjunto sempre terá mais força que o singular. É preciso dialogar com a história da arte, com a produção artística contemporânea e com as questões sociais e intelectuais do momento. Tudo isso influencia na escolha de artistas e acervo para a galeria.
Manu: Pode falar sobre a importância da iluminação e da disposição das obras em um espaço?
Cassia: O bom projeto luminotécnico deve considerar visualização adequada do espaço arquitetônico e valorizar as obras de arte que compõem o ambiente, ou algum detalhe delas que sem a luz apropriada não apareceria naturalmente. Lembrnado que a iluminação deve existir para valorizar a obra e não ofuscá-la. Quando tratamos de obras de arte, a maioria das vezes estamos falando de luz direta, tendo o objetivo de focar em algum ponto específico, nesse caso, no centro da obra. Já a luz indireta tem o objetivo de iluminar uniformemente, sem dar enfoque a um ponto específico, criando um efeito como se a luz estivesse “lavando” a parede.
Manu: Quais são as dicas que você daria para quem está começando a investir em arte?
Cassia: O colecionismo na arte pode ter vários recortes, mas o ponto zero é o colecionador entender o que ele deseja ao formatar sua coleção. Qual o seu objetivo ao começar colecionar: ter um acervo coeso na sua casa ou tornar a arte um hobbie que transcende as portas de sua casa? E a segunda dica é comprar o que gosta, pois ele irá conviver diariamente a obra o retorno financeiro deverá ser consequência e não causa no colecionismo.
Manu: Você já teve alguma experiência interessante/ inusitada ao ajudar um cliente a escolher uma obra de arte?
Cassia: Sim, algumas! Mas como uma boa galerista são estórias guardadas a sete chaves.
Cassia, você despertou a nossa curiosidade…rsrs…ficamos então com fotos do sua galeria residencial, que por sinal de ótimo bom gosto e super poderosa!