Pobre Leblon
Na internet, mais precisamente na Wikipedia, se você procura pelo nome Leblon, vai encontrar o seguinte: Leblon é um bairro nobre da Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro, no Brasil. Localiza-se entre a Lagoa Rodrigues de Freitas, o Oceano Atlântico, o Morro Dois Irmãos e o Canal do Jardim de Alá. Mas, para […]
Na internet, mais precisamente na Wikipedia, se você procura pelo nome Leblon, vai encontrar o seguinte: Leblon é um bairro nobre da Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro, no Brasil. Localiza-se entre a Lagoa Rodrigues de Freitas, o Oceano Atlântico, o Morro Dois Irmãos e o Canal do Jardim de Alá. Mas, para você chegar à origem do nome, terá de procurar por monsieur Charles Le Blond, que consta como um dos primeiros proprietários dessas terras.
E, de Le Blond, chegou-se bem mais tarde a Leblon. Elementar, meu caro leitor.
Sei que as minhas novelas contribuíram para que o bairro ficasse conhecido como um paraíso perdido no caos da cidade. Uma espécie de reserva privilegiada, onde se podem encontrar astros e estrelas a cada 100 metros. E que ir a um restaurante é, muito provavelmente, almoçar ou jantar ao lado do Chico Buarque ou da Susana Vieira; do Tony Ramos ou da Giovanna Antonelli. Quantas vezes vi grupinhos de rapazes cercando uma linda atriz na calçada de uma sorveteria? E, mais do que em qualquer lugar, o Café Severino, no interior da Livraria Argumento, vivia sempre com uma circulação intensa de gente estrelada, grifada, como os astros e as estrelas de Hollywood. Até estranhei sempre que por aqui não existisse uma calçada da fama, com os pés e as mãos de artistas transformados em cimento!
O que dizer então do comércio e da alegria dos comerciantes? Das bancas de jornal — que vendem as revistas expostas aos próprios artistas que figuram em suas capas?
A Avenida Ataulfo de Paiva, sua principal via pública, é uma festa constante, com bares e restaurantes que têm hora para abrir, mas não para fechar. E nas ruas transversais à Ataulfo situam-se os endereços mais quentes de artistas do teatro, do cinema e da TV.
Mas isso tudo está acabando. O Leblon anda vazio como um cenário depois que a cena acaba. Apagam-se as luzes, recolhem-se as câmeras, dispersa-se a equipe, dispensa-se o elenco. O Leblon já era.
De uma das perguntas mais frequentes:
— Sabe o que abriu no Leblon?
Passou-se a ouvir:
— Sabe o que fechou no Leblon?
E quem vive aqui e caminha pelas ruas diariamente, como eu, constata, com tristeza, que isso é uma verdade.
A Rua Dias Ferreira, a mais comercial do bairro, tem quase mais portas fechadas do que abertas. Saíram daqui bares, restaurantes, pequenos cafés, livrarias, lanchonetes…
E até algumas das muitas farmácias, que pareciam resistir às crises. E a razão para essa debandada tem fácil explicação: o Leblon subiu à cabeça dos proprietários de espaços comerciais. Acham que estão na Quinta Avenida, em Manhattan.
Os interessados se assustam com os aluguéis e as luvas pedidas. Essa é a razão de tantas portas fechadas.
Li uma matéria no blog da Lu Lacerda, querida amiga, jornalista sempre bem informada, que me entristeceu.
E ela fala precisamente sobre a Rua Dias Ferreira e seus espaços fechados pelo custo dos aluguéis e das luvas cobradas. E encerra com esta lamentável afirmação:
“Pra dar lucro no Leblon, só se for vendendo droga!”.
É de chorar de tristeza!