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Luciana Brafman

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Crise hídrica: São Pedro precisa de ajuda

Reservatórios estão nos níveis mais baixos em 91 anos. Fantasmas de apagão, racionamento, risco ao crescimento e conta de luz mais cara voltam à cena

Por Luciana Brafman
Atualizado em 7 jun 2021, 19h54 - Publicado em 7 jun 2021, 13h10
Hidrelétrica de Itaipu
Hidrelétrica de Itaipu (Caio Coronel / Itaipu / Agência Brasil/Veja Rio)
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Uma das primeiras coisas que faço ao acordar é retirar o celular da carga, na tomada, onde ele se alimenta durante toda a noite. A partir de então, minha rotina, como a de tanta gente mundo afora, é pautada por energia. A minha própria e a que chega pelos cabos, mais especificamente a hidrelétrica, que representa cerca de 70% da matriz elétrica brasileira. Quando falta eletricidade não tem luz, geladeira, Wi-Fi ou água quente. A lista cresce com TV, ar condicionado, cafeteira, micro-ondas, laptop etc. Um abrangente etc.

Durante a pandemia e a vigência das medidas de isolamento, a constatação de ser refém da energia elétrica se torna mais aguda. O home office, somado a duas filhas estudando indoor durante vários meses, multiplicado pelo streaming e pela diversão online, resulta em cifrões extras no boleto de luz. Este ano, a energia do prédio precisou ser desligada para consertos programados na rede elétrica em, pelo menos, três ocasiões. Na mais recente, sem elevador e com compromissos presenciais agendados, não me restou alternativa além de descer e subir as escadas. Moro no vigésimo andar; são 680 degraus, ida e volta. Haja energia.

Torço para que a experiência das escadas não tenha sido um treino para a crise hídrica instalada no país. O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), em nota técnica disponível em seu site, projeta um cenário em que os reservatórios de hidrelétricas estarão quase vazios no Sudeste e Centro-Oeste até o mês de novembro, que é o fim do período seco. Na bacia do Paraná, os níveis de água são os mais baixos dos últimos 91 anos.

Caso as previsões se concretizem, entraremos na situação de “perda do controle hidráulico”, com possíveis “restrições no atendimento energético”. Em bom português: se não chover, vai faltar luz geral. Ou, na melhor das hipóteses, pagaremos todos – consumidores residenciais, comerciais e industriais – a mais pelo uso da energia.

Há 20 anos, o país viveu situação similar. O risco de apagões levou ao racionamento de energia, com a redução forçada de cerca de 20% do consumo médio das famílias. O governo investiu em termelétricas movidas a óleo combustível, gás e carvão – uma energia mais suja e mais cara, mas que não depende de São Pedro, santo invocado outrora por ministros e que já deve estar sendo novamente bastante requisitado.

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Segundo as projeções oficiais, a conta não fecha. A falta de energia ameaça a retomada de crescimento econômico em um momento crucial, pós-pandemia, de expectativa por uma demanda represada e aumento da produção. Um ponto ainda mais grave passa pelo armazenamento em baixas temperaturas das vacinas contra Covid-19.

Além das recomendações de órgãos do setor elétrico, o Ministério de Minas e Energia vem fazendo reuniões com representantes da indústria para avaliar medidas que podem ser adotadas de forma voluntária pelos grandes consumidores de energia.

Como se não bastasse a complexidade do tema, a crise hídrica traz consigo também interesses políticos, que, às vésperas de um ano eleitoral, nem sempre coincidem com os interesses da população.

Em caso de apagão ou racionamento, você, provavelmente, pensará duas vezes antes de ler este ou qualquer outro texto em seu celular, laptop, tablet ou computador pessoal. Para evitar essas e outras situações, acredito que, como consumidores, podemos fazer pelo menos duas coisas. A primeira delas é nos conscientizar e economizar energia desde já. Aliás, isso deve ser feito sempre, com ou sem chuvas. A segunda atitude é exercer nossa cidadania e cobrar das autoridades medidas e soluções para o problema. São Pedro, que deve estar focado na pandemia, precisa de ajuda.

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