Victor Frad (diretor), pelo Dia das Crianças: “Abandono parental é brutal”
"Percebendo a força que os conteúdos verticais vêm ganhando, decidi mergulhar nesse formato e contar uma história que realmente tocasse as pessoas!

Ser pai me transforma todos os dias. É como se, a cada amanhecer, eu ganhasse uma nova oportunidade de me reinventar. A paternidade aprimora meu olhar sobre o mundo, sobre as relações e, principalmente, sobre mim mesmo. Ela me desafia a cada palavra dita, a cada conversa inesperada, a cada situação que me conecta às minhas filhas. Nessas horas, sou obrigado a repensar conceitos, escolher com mais cuidado o que digo e enxergar, no suporte que ofereço a elas, o meu próprio porto seguro. Foi dessa inquietação e desse desejo de aprofundar a conversa sobre paternidade que nasceu o projeto da websérie vertical (só para formatos em redes como Instagram, TikTok, YouTube Shorts e Facebook) “Só por um mês”, minha nova criação audiovisual.
Mas não dá para ignorar o cenário em que vivemos. A realidade de abandono parental, tão presente em todas as classes sociais, é brutal (mais de 800 mil crianças foram registradas sem o nome do pai na certidão de nascimento entre 2020 e 2024). Ver esse vazio tão comum nas relações entre pais e filhos sempre me inquietou — e, por isso, criar um conteúdo sobre paternidade era um desejo antigo. Eu queria abrir essa conversa de forma profunda e acessível. E, percebendo a força que os conteúdos verticais vêm ganhando, decidi mergulhar nesse formato e contar uma história que realmente tocasse as pessoas.
Do ponto de vista do mercado, o momento é perfeito para inovar, não só pela proximidade com o Dia das Crianças (12/10), mas pelo consumo de entretenimento que mudou radicalmente: smartphones, redes sociais e os aplicativos de vídeo curtos trouxeram uma revolução no jeito de assistir. O formato vertical deixou de ser uma tendência para se tornar uma linguagem dominante. Logo depois de finalizar a última temporada do “Lady Night” (programa de Tatá Werneck, no GNT) e de voltar ao empreendedorismo audiovisual com a minha produtora, o Estúdio Casa Set, eu sabia que queria me manter na vanguarda e dar o primeiro passo nessa nova fase.
Convidei minha filha mais velha, Catarina (14 anos), para escrever comigo os roteiros. Ela trouxe para os diálogos muito do jeito como nos comunicamos no dia a dia, e essa troca foi especial demais. Mas o projeto não era só pegar a câmera e apertar REC. Eu precisava de gente que desse vida àquilo que estava no papel. Foi quando conheci a Manu Abdal — uma atriz mirim incrível, espontânea, sensível, carismática — e soube que ela era a Maitê que eu tinha imaginado. Para viver o pai, chamei o Nando Rodrigues, que, mesmo sem ter vivido ainda a experiência da paternidade, tem um coração gigante — ingrediente essencial para o que queríamos contar. E não poderia deixar de fora participações como Maria Joana, Tati Infante e, claro, a minha filha mais nova, Valentina (8 anos), que fez questão de participar.
Foram 9 diárias intensas, uma equipe enxuta, orçamento apertado e uma dose generosa de criatividade para gravar 31 episódios de cerca de 3 minutos cada. O resultado é uma série para ser lançada nas plataformas digitais, um episódio por dia, durante todo o mês de outubro.
Na história, Edu é um pai ausente que precisa conviver com a filha, Maitê, por 31 dias antes de ela se mudar para outra cidade. Cada episódio é uma contagem regressiva — um dia a menos —, e juntos eles vão aprendendo, rindo, se estranhando, se aproximando, amadurecendo. Mas a grande pergunta que fica é: e quando o mês acabar?
Victor Frad é diretor do programa “Lady Night”, de Tatá Werneck, no Multishow e diretor artístico do Estúdio Casa Set. Com passagem por novelas da TV Globo e Record, é também ator formado pela CAL, tendo atuado em produções como “O Primeiro Natal do Mundo” (Prime Video) e “Impuros” (Star+). Criador da plataforma Ooppah, que aproximou diretores de elenco, agentes e artistas, é um dos nomes versáteis do audiovisual brasileiro. A web série estreou na última semana e vai até o fim de outubro, sobre medos e inseguranças infantis e adultas, gênero, inclusão, racismo, bullying, vergonha, autoestima, beleza, corpo, tecnologia, limites e vício em telas. São 31 episódios de até 1 minuto que vão ao ar diariamente.