“Vadias, Vagabundos, Imorais”: filme sobre os esquecidos da ditadura
Os roteirista falam da conexão entre o passado e o presente ao debater o racismo, o sexismo e a LGBTfobia no país a partir do termo “vadiagem”

Depois de estrear na Universidade de Pittsburgh, nos EUA, passar pela Alemanha e Dinamarca, o curta “Vadias, Vagabundos, Imorais” (2024), dos diretores e roteiristas Nina Tedesco e Paulo Terra, que também assinam o roteiro, chega em sessão aberta ao auditório do Campus Gragoatá da UFF, em Niterói, dia 2 de julho.
Os também professores da UFF falam da conexão entre o passado e o presente ao debater o racismo, o sexismo e a LGBTfobia no país a partir do termo “vadiagem”, por vezes associado à ausência de trabalho; ou vadia, comportamento sexual feminino tido como indevido; ou ainda as prisões por vadiagem, comportamentos considerados imorais, atingindo principalmente homossexuais e travestis, até, pelo menos, no final da ditadura militar.
Se você procurar por imagens dos presos na ditadura, vai cair em detidos políticos segurando as placas do antigo DOPS, como em cena de “Ainda Estou Aqui”. No entanto, milhares de vítimas do regime não estão na memória daquele período, mas esquecidos no prédio abandonado desde 2009, onde funcionou o IML, com fichas de pessoas detidas nas delegacias entre 1960 e 1980, com anotação de “contravenção penal de vadiagem”.
“A maioria dos presos por vadiagem eram pessoas negras. Em 1888, com a ideia da abolição definitiva da escravidão, ganhou força a discussão de que deveria se encontrar novos mecanismos de reprimir a vadiagem. Ao olhar essa documentação, a gente tem ali a forma como o estado resolvia a questão racial no pós-abolição”, diz Paulo.
O debate terá participação de Jovanna Baby, presidente da Fonatrans (Fórum Nacional de Pessoas Travestis e Transexuais); de Chanel, estudante da UFF e uma das participantes da nova temporada de Drag Race Brasil; e dos diretores. Depois, o filme fica disponível no Canal do YouTube do LABHOI – Laboratório de História Oral e Imagem da UFF.