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Lu Lacerda

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Jornalista apaixonada pelo Rio

Teatro, por Claudia Chaves: “O Motociclista no Globo da Morte”

Texto preciso de Leonardo Netto, direção minimalista de Rodrigo Portella e atuação contida e poderosa de Eduardo Moscovis

Por Daniela
5 dez 2025, 09h00 • Atualizado em 5 dez 2025, 11h22
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 (./Divulgação)
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  • “O Motociclista no Globo da Morte”, em cartaz no Teatro Poeira, em Botafogo, mergulha naquele instante em que uma pessoa comum é empurrada para o seu próprio Dog Day Afternoon: o momento em que o absurdo cotidiano ultrapassa a razão e transforma alguém pacífico em agente de um gesto extremo.

    No texto preciso de Leonardo Netto, na direção minimalista de Rodrigo Portella e na atuação contida e poderosa de Eduardo Moscovis, essa transformação não ocorre pela explosão — mas pelo deslizamento. É como o giro de duas motos dentro do globo da morte: cada volta aumenta o risco, a tensão, a possibilidade do colapso.

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    (./Divulgação)

    Netto constrói a narrativa com detalhes microscópicos, convidando o espectador a ver e sentir o ambiente hostil que se forma. O protagonista, Antônio, é um matemático — alguém treinado para organizar o mundo a partir de demonstrações racionais. A peça, então, adquire o ritmo de uma longa aula metódica: sentado, avançando premissa por premissa até chegar ao inevitável c.q.d. (como queríamos demonstrar). A tragédia — ou a explosão — surge como resultado lógico de uma equação impossível de interromper. É justamente essa frieza lógica que intensifica o horror.

    Um dos achados do texto é que protagonista e antagonista compartilham o mesmo nome: dois Antônios ocupando lados opostos, como se um espelhasse o outro. À luz de Lacan, o mesmo significante abriga múltiplos sentidos. A peça sugere que a fronteira entre o homem civilizado e o homem violento não é identitária: é circunstancial. Basta uma fissura.

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    (./Divulgação)
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    A direção de Portella aposta num palco quase vazio, reforçando que o espetáculo acontece principalmente na imaginação do público. Nada compete com a palavra. Moscovis, sentado e quase imóvel, recusa qualquer gesto emocional explícito: sua interpretação é pausada, técnica, precisa — e devastadora. A trilha de André Muato, o figurino de Gabriella Marra e a iluminação de Ana Luzia de Simoni reforçam a secura da encenação, criando uma tensão silenciosa, crescente.

    A peça também captura o clima polarizado do país — sem citar partidos, mas insinuando a colisão de narrativas que transforma homens comuns em antagonistas radicais. Como no globo da morte, todos giram dentro da mesma esfera, acelerando até o limite.

    No fim, não há alívio. A sensação é de que a linha entre racionalidade e colapso é fina demais — e que todos nós, de alguma forma, estamos perigosamente próximos do nosso próprio c.q.d. diante do mundo que nos cerca.

    Entrevista com Moscovis:

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    1 -Como aconteceu o processo de criação desse projeto, que reúne você, Rodrigo Portella e Leonardo Netto?

    Leo ( o autor Leonardo Netto) me ligou dizendo que tinha escrito um texto — um monólogo — e queria que eu lesse. Somos amigos e já tínhamos trabalhado juntos no teatro. Gostei muito do que li e quis fazer. Rodrigo era o diretor em quem tanto eu quanto o Leo havíamos pensado.

    2 Qual é a experiência física e emocional de interpretar um texto tão denso, estando todo o tempo sentado em cena?

    De fato, contar essa história sentado na poltrona tem sido um exercício potente e muito interessante, aguçando outras percepções e outros recursos na interpretação.

    3 – Você veio do sucesso “Duetos”, uma comédia leve ao lado de Patrycya Travassos. Como é essa virada para um drama tão intenso?

    “Duetos” é uma comédia em quatro atos — quatro histórias com personagens diferentes em cada uma. A dinâmica, o ritmo e os registros são totalmente distintos. E, em “Duetos”, tenho a deliciosa parceria da Patricya Travassos em cena. Em “O Motociclista”, estou só. Muda tudo.

    4 – O que te provocou a aceitar esse desafio? Existe algum ponto de identificação pessoal?

    Há vários pontos de identificação, mas, indiscutivelmente, a chance de falar sobre a violência em que vivemos, em todos os níveis, principalmente a partir de um comportamento masculino absolutamente repulsivo e inaceitável: abuso, manipulação, agressão.

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    5 – Que tipo de impacto você espera causar no público? Existe alguma reação específica que considere essencial?

    Não espero uma reação específica — nunca esperei. Estou ali propondo uma reflexão, qualquer que seja. E essa reflexão pode ser distinta para cada pessoa que for assistir.

    Claudia Chaves
    (Arquivo/Arquivo pessoal)
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