Teatro, por Claudia Chaves: “Migrantes”
Com adaptação e direção de Rodrigo França, peça retrata travessias emocionais sobre deslocamentos, identidade e pertencimento
A peça “Migrantes”, de Mattei Viniesc, ele mesmo um migrante, jornalista do Le Monde, constrói o texto baseado nas histórias que o autor contou e presenciou. Com adaptação e direção de Rodrigo França, “Migrantes” retrata travessias emocionais sobre deslocamentos, identidade e pertencimento. É o movimento pendular de quem chega e de quem parte. O deslocamento, facilitado pela presença constante dos alhures das redes, nos torna todos migrantes.
A estrutura dramatúrgica surpreende ao apresentar personagens diferentes que, apesar de aparentarem diversidade, são facetas da mesma essência de um só corpo migrante. Aqui, no trabalho de Rodrigo, há um marcador preponderante: a diferença racial, que repete o mundo globalizado. Está presente na acertada escolha do elenco: Alex Nader, Aline Borges, Anderson Cunha, Mery Delmond, Monique Vaillé, Paulo Guidelly, Sarito Rodrigues, Stella Maria Rodrigues e Tom Nader.
O elenco entrega atuações consistentes, cada um expressando, com nuances próprias, a complexidade desse ser em movimento. Rodrigo França conduz essa multiplicidade com maestria, pois se localiza em situações com um linguajar que nos é muito próximo.
O cenário criado por Mauro Vicente remete à estrutura de barcos, com esculturas da cosmogonia africana, que lembram as figuras que conduzem as naus — uma imagem forte das travessias humanas. Os figurinos de Vania Ms Vee são verdadeiras composições narrativas que complementam o texto, revelando histórias nos detalhes.
A peça já começa nos colocando dentro da travessia com a cena que representa a entrada nas embarcações, com os corpos se movendo com todas as formas de significados: medo, surpresa, esperança. A direção de movimento de Valéria Monã reforça essa ideia ao distinguir com precisão os gestos e a fisicalidade de cada personagem. A trilha sonora e dramaturgia sonora de Dani Nega pontuam a peça com emoção e profundidade, reforçando a atmosfera de urgência e poesia. A iluminação de Pedro Carneiro fecha o conjunto com delicadeza, revelando sombras e luzes que habitam cada migrante em cena.
“Migrantes” é mais do que teatro: é um manifesto sensível e necessário, que nos convida a olhar para o outro — e para nós mesmos — com empatia, coragem e humanidade. E pensarmos, com certeza: esse cara sou eu.
Serviço:
Teatro Ipanema (Rua Prudente de Moraes, 824)
Quintas, sextas e sábado, às 20h
Domingos às 19h
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