Teatro, por Claudia Chaves: “A palavra que resta”
O amor que não pode dizer seu nome

Oscar Wilde foi preso. Alan Turing, o pai da computação, suicidou-se na prisão. Em 2023, morreram, de forma violenta, no país, 230 pessoas LGBT+, uma a cada 38 horas. O premiado romance “A palavra que resta”, de Stenio Gardel, transforma-se em poema na peça que traz o retorno aos palcos da Cia. Atores de Laura, sob a direção de Daniel Herz.

A simplicidade dos personagens — pessoas comuns, que exprimem “o sertanejo, antes de tudo, é um forte” — se expressa na escolha dos figurinos do premiado Wanderley Gomes: macacões que parecem iguais, mas são diferentes, em uma confecção artesanal com tingimento dos tecidos, no cuidado dos recortes, que funcionam para evidenciar o significado primeiro: todas as pessoas são absolutamente iguais.

A direção de Daniel Herz faz com que os atores se movimentem, se toquem, se exprimam com os movimentos de corpo, em um ballet que varia do solo até o conjunto de todos. Essa corporalidade faz a atuação equilibrada transformar-se em um destaque do mais puro talento de todo o grupo.
A beleza do texto lembra uma grande odisseia, pois relata o trajeto do herói, Raimundo, com suas “aventuras”. Regido pela própria busca de um cálice sagrado, ele vai aprender a ler para saber o que seu amor adolescente lhe disse em uma carta, quando se separaram.


A construção é meticulosa em todos os sentidos: a beleza evidenciada na voz dos atores; a trilha musical que mostra as nossas raízes; o cenário com as molduras vazias; a lua cheia que nos ilumina; a cruz da penitência que toma o cenário. Como o rio, um personagem importante na trama, vemos escorrer a vida, afogamentos, o deixar-se levar… Salvam-se aqueles ao entender que o que vale a pena é exprimir a individualidade.
Serviço:
Teatro Laura Alvim, Av. Vieira Souto, 176, Ipanema.
De 7 a 30 de março, sextas e sábados, às 20h; domingos, às 19h.
