Superego assassino: psicanalista explica fascínio pelos serial killers
“Monstro: A História de Ed Gein” é sucesso na Netflix desde a estreia

Os audiovisuais sobre crimes reais são um sucesso quando bem contados — e fascinam o público no mundo inteiro. O interesse começa quando o crime ganha grande repercussão, seja onde for. É o caso da estudante carioca Ana Paula Veloso Fernandes, 35 anos, presa em julho, na capital paulista, sob suspeita de matar quatro pessoas envenenadas no Rio e em São Paulo. Desde então, seu nome está em todas as mídias. A polícia afirma que ela apresenta comportamento manipulador e prazer em matar, sendo investigada como uma serial killer pelo Núcleo de Análise Comportamental do DHPP. Sua defesa nega todas as acusações. Ana Paula chegou a se inscrever em um concurso para auxiliar de necrópsia da Polícia Civil. Que tal?
A coluna conversou com o psiquiatra Arnaldo Chuster sobre esse fascínio por mentes criminosas. “Freud esclareceu que temos três grandes causas constantes de ansiedade: o fato de não controlarmos os fenômenos da natureza, o fato do inevitável envelhecimento e o fato de que a lei não impede o crime”, diz. “Crimes ocorrem o tempo todo, mas determinados crimes parecem piores do que outros, como os assassinatos em série. Contos, filmes e casos reais despertam uma mistura de horror e curiosidade, a inevitável indagação do motivo: como um ser humano pode chegar a isso? O que falhou? E como pode falhar tanto?”, explica.
E segue: “Essas falhas devem ser buscadas na constituição e na construção do sujeito — sobretudo nos primórdios da vida, onde a pobreza emocional do ambiente e a crueldade com que uma criança é tratada podem gerar um ódio irreparável, o que chamamos de superego assassino. Esse superego apaga as diferenças entre justiça e vingança. O serial killer executa sua própria ‘justiça’, decretando a pena de morte àqueles que simbolizam as frustrações de seu projeto egocêntrico.”
E todos os casos conhecidos, seja no Brasil ou exterior, se viram roteiro, é sucesso garantido, como a recém-lançada “Monstro: A História de Ed Gein”, número 1 na Netflix desde a estreia, no dia 03 de outubro, sobre a trajetória de um dos mais famosos assassinos em série dos EUA — um homem solitário que, após a morte da mãe abusiva, matou mulheres e violou túmulos, usando partes dos corpos para criar móveis e objetos em casa. O caso de Gein inspirou boa parte do cinema de terror de Hollywood, como “O Silêncio dos Inocentes”, “Psicose” e “O Massacre da Serra Elétrica”. A série faz parte de uma antologia que já retratou assassinos como Jeffrey Dahmer e os irmãos Menendez.
No Brasil, o gênero também é sinônimo de sucesso: “Pacto Brutal: O Assassinato de Daniella Perez”, sobre o crime que abalou o país em 1992; “Elize Matsunaga: Era Uma Vez um Crime”, sobre o assassinato e esquartejamento de Marcos Matsunaga; e “Isabella: O Caso Nardoni”, que revisita a tragédia que chocou o Brasil — são alguns exemplos de produções que prenderam a atenção do público e continuam a levantar debates sobre até onde vai a curiosidade humana diante do horror.